Mulheres que inspiram: elas na liderança

Veja quatro histórias e depoimentos de empresárias de sucesso

Por: Por Alcione Herzog  -  07/03/21  -  18:24
Atualizado em 19/04/21 - 17:17
 Quatro mulheres que venceram obstáculos e alcançaram a liderança
Quatro mulheres que venceram obstáculos e alcançaram a liderança   Foto: Alexsander Ferraz e Vanessa Rodrigues

Responda rápido: quantas mulheres que você conhece ocupam cargos de liderança? Quantas delas gerenciam áreas ligadas à tecnologia, mercado financeiro, mineração, construção civil? Provavelmente a resposta para a primeira pergunta tenha sido “poucas” e para a segunda, “nenhuma”.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Embora o cenário esteja melhorando, o número de mulheres que ocupam postos de comando, principalmente em áreas tradicionalmente masculinas, ainda é pequeno.


De acordo com o Ministério da Economia, as mulheres ocupam 42,4% das funções de gerência, 13,9% de diretoria e 27,3% de superintendência. Ou seja, quanto mais alto o nível dentro de uma companhia, menos elas estão presentes.


Já um estudo realizado pela consultoria Talenses, em parceria com o Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, detecta somente 19% dos cargos de liderança nas empresas ocupados por mulheres.


Estatísticas à parte, o fato é que quando recebem oportunidade de comandar equipes, criar programas e coordenar a execução de projetos elas fazem bonito. Calma, aqui não vai nenhuma referência à beleza física. É eficiência que chama!


O último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), realizado em 70 países, concluiu que ter mulheres em cargos de liderança é um dos fatores mais relevantes para o maior desempenho e lucratividade nas empresas em geral. Segundo o levantamento da entidade ligada a ONU, 75% das empresas que optaram por escolher mulheres para cargos gerenciais tiveram aumento nos lucros de até 20%.


Apesar dos bons números sobre o desempenho feminino, não ver alguém de gravata nas salas de diretoria e presidência ainda impressiona. Tanto é assim que o fato de uma mulher sentar, pela primeira vez, na cadeira de diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) foi destaque no noticiário mundial nos últimos dias. A economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, especialista em finanças globais, galgou espaços durante uma vida inteira, mas só aos 66 anos chegou ao posto de comando mais cobiçado do globo.


Localmente, temos também exemplos de que investidores, organizações privadas, instituições públicas e a economia de forma geral podem obter ganhos efetivos em produtividade e criatividade ao darem passagem às mulheres.


A trajetória de Vivian Brum Camparelli confirma. Aos 41 anos ela é proprietária de uma loja da franquia China in Box, em Santos. Também foi articuladora do movimento pela criação da Rua Gastronômica Tolentino Filgueiras, na mesma Cidade.


A lista de suas conquistas profissionais começa antes. A história da empreendedora teve início em agosto de 2000, aos 21 anos. Filha única,


nascida em Porto Alegre, Vivian se mudara com a mãe para São Paulo aos 4 anos de idade. Aos 20 foi aprovada em Pedagogia. O destino, entretanto, tinha outros planos. O pai faleceu no mesmo ano que ela entrou na faculdade. Com ele, também se foi a ajuda para pagar o curso. Assim, aos 21 anos, Vivian foi trabalhar na parte administrativa do China in Box no Ibirapuera. Ficou três anos naquela unidade. "Lá trabalhei também no setor de recursos humanos e no financeiro da loja".


Em 2003, o proprietário da rede, Robson Shiba, abriu uma unidade em Moema e a convidou para ser gerente geral na nova casa. "Eu tinha pouca experiência e, de alguma maneira, precisava me impor com as pessoas mais velhas", conta Vivian.


À época encontrava dificuldade até mesmo para negociar com os fornecedores. "Tinha cara de menina", diverte-se.


A força e determinação que sempre a acompanharam se solidificaram nesse período. Vivian teve de se impor por meio do discurso e da postura. Correu atrás de qualificação, com cursos de memorização, liderança, gestão de pessoas, manipulação de alimentos, análise de estoque e desenvolvimento de negócios.


Em meio a esse novo mundo que nasceu a vontade de ser dona do próprio restaurante. "Após seis anos, decidi vir sozinha com meu filho para Santos e assumi uma franquia que já existia no Gonzaga", conta Vivian.


Depois de dois meses, quando foi mexer no financeiro da loja, Vivian descobriu que a empresa não estava tão saudável. O que a jovem tinha como investimento não daria para arrumar a casa. Hora de aplicar novamente os atributos força e determinação, desta vez na busca de um sócio que acreditasse no potencial da casa e de Vivian.


Deu certo. Com a sociedade, foi possível arrumar as contas e investir no crescimento. "Queríamos expandir, oferecer aos clientes um salão confortável. Em 2009, encontramos uma residência e a reformamos", explica Vivian, que hoje comanda 35 funcionários.


O novo espaço, na Rua Tolentino Filgueiras, 54, foi inaugurado em junho de 2010. De cara proporcionou aumento de 40% no faturamento.


Nesse meio tempo, sentindo a necessidade de aprender na teoria o que sabia na prática, a empresária cursou faculdade de Administração. A atuação bem-sucedida de Vivian foi reconhecida pela rede. Em 2013, ela integrou o ranking das melhores lojas. É ainda conselheira do Interior, área que abrange 28 lojas do China in Box, no Vale do Ribeira e Baixada Santista.


Manter o mesmo patamar de faturamento na pandemia, período em que muitos estão fechando as portas, é motivo de muita comemoração. “Com o isolamento, os clientes buscam estabelecimentos confiáveis e nós sabemos


muito bem como fazer a viagem do prato. O delivery compensou a queda no movimento presencial”.


Há três meses, a empresária provou ser verdadeira a tese de que as crises inspiram inovação. Incorporou pratos da culinária japonesa no cardápio e ganhou mais pedidos. Outra novidade foi a introdução da chamada “dark kitchen”, uma nova tendência no setor de food service, alinhado ao crescimento do mercado de entrega on-line. “Estamos implementando esse conceito de ‘cozinha escondida’ já muito usado pelos americanos. Um novo negócio, porém otimizando o espaço já existente”, anuncia.


Se obter o justo reconhecimento na profissão é, em geral, mais difícil para as mulheres, imagine no mundo do mercado financeiro. Além de ser uma área amplamente dominada por homens, o ambiente ainda é reduto de um machismo agressivo, onde o assédio é corriqueiro. Filmes premiados de Hollywood como os ligados a Wall Street ajudam a ilustrar o quão cruel e fechado é esse setor para o público feminino.


Julgamentos prévios e sem fundamento sobre a capacidade de uma mulher em liderar uma empresa ou apresentar ideias foram alguns dos obstáculos que Taís Di Giorno teve de lidar em sua trajetória profissional. Presidente Executiva do Sicoob Cecres, a jornalista e pós-graduada em administração de empresas atua há 21 anos no mundo cooperativo e já esteve à frente da Federação Nacional das Cooperativas de Crédito. “Entrei no cooperativismo financeiro para pagar a faculdade de jornalismo e acabei me apaixonando pelo setor por ter uma finalidade social e não de lucro”.


Ainda em seus primeiros anos no mercado financeiro, sem o reconhecimento dos colegas, Taís sofreu com o preconceito e o machismo. Tentando se moldar aos códigos de etiqueta da área, ela precisou esconder tatuagens e adaptar seu discurso. “Não só eu, mas quase todas as mulheres do mercado financeiro com quem já conversei sofreram assédio. Isso machuca”.


Porta-voz do Sicoob Cecres no programa semanal Feiras


Logo A Tribuna
Newsletter