Maratona no sofá: como não deixar o vício por streaming ser ruim

Com a facilidade do on-demand a gente é quase abduzido pela grande oferta de filmes e séries

Por: Por Alcione Herzog  -  04/04/21  -  17:24
É difícil não querer ficar no sofá por horas a fio
É difícil não querer ficar no sofá por horas a fio   Foto: Adobe Stock

Você senta no sofá, deixa a pipoca e o refrigerante acessíveis ao lado, pega o controle da televisão e imerge ao mundo do streaming. Chegando lá, se depara com milhares de títulos de séries e filmes. A maratona começa logo pela manhã e você só se dá conta que o dia passou quando anoitece. A nossa abdução ao mundo digital não é de agora. O advento da internet já nos mostrava que ficaríamos mais tempo on do que off. Cabe a nós estabelecermos regras e criar uma rotina para não se desligar completamente da vida real.


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Afinal, o que vem a ser esse fenômeno de popularização das chamadas plataformas on-demand? Basicamente, esse serviço possibilita assistir a qualquer conteúdo audiovisual em tempo real. Quem escolhe é o freguês, ao contrário dos canais de TV aberto, por exemplo. Além da grande oferta de audiovisuais, hoje a praticidade de assistir e ouvir obras em diversos dispositivos, como computador, celular e televisão tem feito esse mercado crescer sem parar.


No Brasil, os números sobre esse novo jeito de consumir cultura e entretenimento são significativos. Um levantamento feito pelo portal Meio & Mensagem, em parceria com a plataforma de pesquisa Toluna, mostra que 53,2% das pessoas que assinam alguma plataforma de streaming assistem a conteúdos todo o santo dia! O número de pessoas que consomem em uma frequência menor que a semanal é ínfimo: não chega a 1%.


Não por acaso os brasileiros figuram no top 10 entre os maiores consumidores de plataformas de streamings de filmes e séries no mundo. A companhia focada em monitorar a performance de aplicativos App Annie compilou esses dados e detectou que em termos proporcionais à população o Brasil ocupa a 6ª posição nesse ranking, a frente de países como Japão e Estados Unidos.


Maratonando


Com a aproximação do Oscar 2021, aficionados na sétima arte correm para assistir o maior número de atrações da cerimônia mais importante do cinema. Com a pandemia de Covid-19, empresas de serviços de streaming ganharam ainda mais espaço no evento. Só a Netflix emplacou dois dos oito indicados à principal categoria, de ‘Melhor Filme’.


Ao todo, a gigante da plataforma digital conseguiu 35 indicações para 16 longas-metragens, além de ter produzido ‘Mank’. O filme, que revisita os bastidores do clássico ‘Cidadão Kane’ possui 10 indicações, sendo a obra mais lembrada pelos críticos no Oscar 2021. Outras empresas do ramo como Amazon Prime, Telecine, Disney Plus e Apple TV+ também emplacaram filmes na principal cerimônia do cinema.


Aproveitando que o usuário está mais tempo on que off, outras grandes companhias se aproveitam desse momento para tentar fisgar novos clientes.


Murilo Oliveira, especialista em marketing de influência e CEO da IWM Agency contou que muitas marcas acabam procurando um papel de coadjuvante para tentar brilhar aos olhos do espectador. “São merchans que não são merchans. Em um filme ou série, o ator principal acaba consumindo um produto X. Nesse processo, ele acaba influenciando as pessoas por meio do próprio comportamento”.


Com a proliferação dos serviços de streamings, surgem também os streamers. Estes são profissionais que transmitem diversos conteúdos pela internet. No caso das plataformas de streaming, suas plataformas mais conhecidas são o Twitch (voltado ao mundo dos games), além do Spotify e o Deezer. Nesses dois últimos, os podcasts são a atração.


“Podcast foi um sucesso lá em 2010, mas depois houve um hiato. Nos últimos dois ou três anos, ele voltou com tudo porque está muito fácil ouvir. A chegada dessas plataformas de streaming facilitou muito o acesso do público. Nós já fizemos ações dentro de podcasts e dá muito resultado devido ao grande número de visualizações”, avalia o especialista em marketing de influência.


Alerta de gatilho


Certamente você ainda não ouviu falar em siglas como FOMO, FOBO e JOMO. Apresentado ao mundo em 2004 pelo investidor americano Patrick J. McGinnis, FOMO abrevia a expressão Fear of Missing Out (“medo de perder alguma coisa” na tradução). O termo reflete a ansiedade das pessoas que ficam sempre online e têm medo de perder alguma novidade. Em um exemplo prático, se imagine em uma mesa de bar com seus amigos e todos eles estão falando sobre o episódio final daquela série que toda a internet está comentando. Você fica deslocado e desencadeia um grande processo de ansiedade.


Ansiedade essa que pode gerar uma série de transtornos. O psicólogo clínico, Daniel Saloes revela que, ao longo dos últimos meses, esses transtornos aumentaram significativamente. “Você percebe como as pessoas estão conectadas até mesmo dentro do ônibus. Há uns anos, as pessoas liam livros, revistas ou jornais. Agora não. Todos estão com celulares nas mãos. Podem até estar lendo alguma coisa, mas é pela tela do celular”, observou o psicólogo.


O profissional contou ainda que a grande maioria dos novos pacientes que tem atendido sofre com transtorno de ansiedade. Ele ressaltou que se esse problema não for tratado rapidamente, outros distúrbios podem surgir. “Com a pandemia e o confinamento que veio junto, quem tem ansiedade pode desenvolver uma crise de pânico e até mesmo uma depressão”.


Derivada do FOMO, o FOBO (Fear of Better Option) define aqueles que sofrem por escolherem opções nas quais podem se arrepender. Imagine programar o seu dia para assistir alguma série ou filme durante duas horas. Você acessa o streaming desejado, fica navegando pelos títulos disponíveis e quando olha o relógio, percebe que o tempo disponível se foi. Ou pior. Você liga a televisão, acessa a plataforma de streaming, assiste o conteúdo e se decepciona com o resultado.


“Foi criada uma grande expectativa em cima desse filme. Para essa hora preciosa, a gente quer que o produto seja bom. Quando o resultado é ruim, a expectativa que foi criada se transforma em frustração”, explicou o psicólogo Daniel Saloes.


Longe desses dois grupos, o JOMO (Joy of Missing Out) é o oposto. Essas são aquelas pessoas que se sentem bem e felizes por estarem completamente desconectadas. Seja longe de plataformas de streaming ou até mesmo das redes sociais.


Chave para o equilíbrio


Pode parecer difícil, mas é possível permanecer conectado e não ser abduzido pelas plataformas de streaming ou até mesmo nas redes sociais. Daniel Saloes aponta que medidas simples como colocar alarmes no celular para limitar o tempo podem surtir efeito.


“Acima de tudo é preciso ter foco e ter um planejamento da sua rotina. Em determinados casos estão disponíveis até aplicativos que cortam o WI-FI da casa ou fecham as redes sociais. Medidas assim ajudam a gente a manter o equilíbrio entre vida conectada e vida real.”, aponta o psicólogo.


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