Médica ginecologista fala sobre como garantir mais autonomia na terceira idade

Mariana Paiva de Castro explica sobre a importância da correção dos níveis de hormônios sexuais, metabólicos e das vitaminas

Por: Cláudia Duarte Cunha & Da Redação &  -  06/05/19  -  13:07
A ginecologista, obstetra e professora Mariana Paiva de Castro
A ginecologista, obstetra e professora Mariana Paiva de Castro   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

Mariana Paiva de Castro, ginecologista e obstetra, especialista em endoscopia ginecológica, pós-graduada em Ciência da Longevidade Humana e Fisiologia Hormonal avançada e professora da Universidade Lusíada (Unilus), em Santos, na disciplina de Ginecologia, fala sobre a reposição de deficits hormonais para que a pessoa envelheça com saúde. “Queremos evitar as perdas funcionais. Trata-se de algo individual e focado em resultados”.


As pessoas associam modulação hormonal com juventude e desempenho sexual, mas é algo muito mais amplo, não é?


A Ciência da Longevidade Humana ou Medicina Integrativa foca no equilíbrio hormonal completo, não só dos hormônios sexuais, como ocorre na tradicional reposição hormonal. A modulação abrange todo o ajuste metabólico e mudanças que envolvem a qualidade do envelhecimento. Avaliamos também o GH (hormônio do crescimento), hormônios sexuais, tireoide, cortisol (ligado ao estresse)... Trata-se de um equilíbrio total do organismo.


Pessoas ansiosas costumam ter a taxa de cortisol mais alta?


Sim! Por isso tem que monitorar, já que é um hormônio que envolve a nossa sobrevivência. É preciso que ele esteja em equilíbrio total.


O envelhecimento está atrelado às perdas hormonais?


Olha, ninguém sabe se a gente envelhece porque perde hormônios ou se os hormônios declinam porque a gente envelhece? O fato é que, comparando o nosso corpo com um carro, os hormônios são o combustível. E temos que avaliar não só a parte hormonal, mas a metabólica e das vitaminas também. Isso é que vai possibilitar que sejam feitos os ajustes que vão garantir mais saúde e maior qualidade no processo de envelhecimento.


Então, trata-se de uma medicina totalmente focada na qualidade de vida? 


Sim. Muita gente usa testosterona, por exemplo, com fins anabólicos ou estéticos. Isso não é preconizado pela modulação. Não tenho nenhum apelo estético nas minhas prescrições. Só trabalhamos com níveis corretivos. Meu foco é saúde, qualidade de vida. Como não quero que minhas pacientes adoeçam, faço ajustes metabólicos para tentar retardar e promover qualidade no envelhecimento. É uma medicina preventiva pura.


Quais os sintomas que determinados desníveis hormonais podem provocar?


Se o estrogênio está baixo, por exemplo, pode causar deficit na cognição, afetar a sexualidade, a memória e provocar fadiga. Excesso de irritabilidade e depressão também são sinais comuns quando há desequilíbrios no organismo. Cistos mamários e de tireoide, que praticamente são uma epidemia hoje em dia, muitas vezes, estão associados à deficiência crônica de iodo. Já o magnésio é fundamental para a saúde cardiovascular, das mamas e da cabeça, além de ser fundamental para a musculatura e a massa óssea. A nossa dieta é rica em cálcio e pobre em magnésio. As pessoas acabam ficando deficientes dessa substância. Na verdade, não fomos programados para viver tanto quanto estamos vivendo. 


Como é feita a reposição?


A reposição dos hormônios sexuais é realizada com hormônios bioidênticos. Não usamos nada sintético. É algo muito individualizado e pesquisado. Avaliamos a situação clínica geral para traçar as estratégias de equilíbrio. E fazemos isso com base em estudos da fisiologia humana. 


Há contraindicações?


A reposição de hormônios sexuais em uma paciente com câncer de mama é contraindicada. Mas a correção de hormônios tireoidianos e de cortisol, por exemplo, é uma questão de sobrevivência. Se o seu corpo zerar a produção desses hormônios, você morre. Avalio esses desgastes clinicamente e por exames laboratoriais. Os testes têm que corroborar a suspeita clínica. 


O que mais afeta a qualidade de vida das pessoas?


Hoje, a gente negligencia muito funções vitais como o sono e a alimentação. Consumimos produtos industrializados, além do excesso de açúcar e glúten, que acabam machucando o intestino, que é a nossa porta de entrada, a mangueira que leva o combustível. Às vezes, a sensibilidade ao glúten pode estar mascarada por uma enxaqueca ou doença autoimune. O intestino é o nosso segundo cérebro. Há casos de depressão em que o foco está nesse órgão. E o paciente se afunda em remédios psiquiátricos sem apresentar melhora. Oitenta por cento da serotonina, que é o hormônio do bem-estar, são produzidos no intestino. 


Quando está feliz, a pessoa produz mais hormônios?


Quem está mais feliz libera mais ocitocina, vasopressina e melatonina, que são hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar e fazem com que a pessoa durma melhor. 


Usa algum exame mais sofisticado nas suas investigações?


Hoje, temos a nutrigenética, que é uma ferramenta muito interessante. Trata-se da avaliação do metabolismo pelo DNA. Com esse estudo, conseguimos ver o quanto “estragamos o nosso carro”. É um exame de saliva indicado para pessoas que não têm bom rendimento, não respondem a uma dieta convencional ou que estão sempre com o colesterol alto. Devemos monitorar os nossos defeitinhos de fábrica...


A ideia é fugir de remédios. 


Com quantos anos a gente tem que começar a se preocupar com a modulação hormonal?


Olha, eu já peguei pacientes com 30 anos de idade totalmente desequilibradas, bloqueadas pelo uso de anticoncepcional e maltratadas do ponto de vista bioquímico. Hábitos errados, noites não respeitadas e o fato de estarem conectadas na internet o tempo todo são prejudiciais ao organismo. Isso tudo causa uma disruptura hormonal forte.


Crianças e jovens que passam muitas horas no celular têm a saúde afetada?


Há níveis de evidências sérios nesses adolescentes que ficam o tempo todo na internet. E quando isso ocorre à noite, acaba com a produção de melatonina. 


Quase todo mundo precisa suplementar algo?


Não esperamos a janela do adoecimento. Isso quer dizer que a pessoa não necessariamente precisa estar fora do nível normal para ter que suplementar. Estar com os hormônios em dia significa autonomia. E os parâmetros de referência da medicina da saúde são mais exigentes. Ninguém passa raspando (risos). Vemos o que o corpo precisa para funcionar bem. 


Quais a regras para viver bem?


Nutrição, que é nosso combustível. Além disso, é preciso manter o bom funcionamento do intestino para que absorva os nutrientes (quando a gente envelhece, essa capacidade de absorção não é mais a mesma), fazer atividade física para ganhar massas óssea e muscular (isso garante autonomia, para ficarmos em pé por muitos anos) e buscar a otimização metabólica com a modulação hormonal. É isso que vai fazer “seu carro” andar. Mas essa otimização tem que ser responsável, com médicos que entendam do assunto.


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