Jovens atendem cada vez menos ligações dos pais

Como lidar com esse comportamento, sem irritações?

Por: Joyce Moysés  -  01/03/20  -  17:35
  Foto: Adobe Stock

Para os pais, que foram criados dando satisfação aos pais deles quando saíam de casa, como entender que os filhos vão sair e dificilmente telefonarão ou atenderão suas ligações? “A comunicação mudou. Hoje, ela é multimídia, ilimitada, frenética e também indireta. Além disso, likes e feeds das redes sociais disputam a atenção não apenas dos jovens como também dos adultos”, responde a psicóloga e educadora Lúcia Teixeira, presidente da Universidade Santa Cecília (Unisanta) e autora de livros como Caminho Para Ver Estrelas, que aborda a vida dos adolescentes.


Os mais jovens preferem se comunicar por outros meios, alguns simultâneos. Geralmente falam muito pouco ao telefone e ficam mais tempo on-line. Acham que têm tanto a viver e a descobrir que, às vezes, também se esquecem de se comunicar com os pais. E os adolescentes e os jovens nem telefonam entre eles mesmos. Mandam um zap (mensagem pelo aplicativo WhatsApp), pautando a sociabilidade pela escrita ou, no máximo, por áudio.


Não por acaso pesquisa americana da empresa BankMyCel, com mais de 1.200 millennials (ou geração Y, os nascidos entre 1981 e 1996), revelou que 75% deles evitam ligações telefônicas por consumirem muito tempo e 63% dão como desculpa não perceber que o telefone tocou/vibrou.


O importante é deixar claro qual é a regra na família: o filho deve, ao menos, informar aos pais onde está, nem que seja por mensagem de aplicativo, pois disso depende também a sua segurança. Vale explicar, com paciência, que os pais não estão pedindo nada demais: precisam saber onde o filho está, buscá-lo se necessário, ver como sai de cada lugar... “As crianças e os jovens não querem pais que concordem com tudo, mas que ouçam o argumento deles. Por isso, procure conversar, saber ouvir, colocar-se no lugar do outro, ter informações sobre a rotina dele, elogiar quando o filho merece, mas deixando bem claros os limites”, orienta Lúcia, lembrando que a aprendizagem se dá pelo exemplo e que não existe família perfeita.


Há casos em que os pais ligam toda hora, por insegurança, para saber o que o filho está fazendo. A psicóloga avisa: “Sendo um bom modelo para o filho e estando presentes na vida dele, os pais podem ficar mais tranquilos de estarem cumprindo bem seu papel. O filho precisa aprender também a ter rotinas, horários a cumprir e aceitar algumas frustrações. Os pais estão, muitas vezes, sobrecarregados, cansados e sem paciência, telefonando só para dar broncas, mas educar é fornecer orientação, compreensão, conhecimento e amor”.


Há estudiosos que dizem que essa mudança de comportamento dos filhos não é boa nem ruim, apenas diferente. Um dos motivos é que digitar permite pensar no que dizer e exige menos tempo e energia. Mas será que o que está por trás é uma dificuldade de empatia, sociabilidade... dessa geração?


“A comunicação entre pais e filhos sempre foi um desafio importante. Até se fala que o principal problema de muitas famílias é a falta dela. Mas a comunicação humana não significa só transmitir informações verbais. Envolve interação afetiva e significativa. E isso pode ser alcançado de muitas formas, diferentes a cada geração”, avalia Lúcia Teixeira.


A palestrante futurista e de inovação Beia Carvalho levanta estes pontos:


- Você não vive mais num mundo linear e, sim, de mudanças exponenciais, que exige fazer muito mais do que antes e ao mesmo tempo. Seu filho está se comunicando com os amigos na porta da escola, salvando no celular um material que recebeu do professor e passando uma mensagem aos pais de que vai para o clube depois da aula.


- Só que a mãe resolve ligar sem sucesso. Quando avista o filho em casa, grita: “Por que você não atende esse telefone?” Ele retruca: “Mas eu mandei mensagem”. Há adultos querendo atenção exclusiva, sentindo-se valorizados quando o filho para tudo e telefona. Só que ele não está desvalorizando e nem expressando desamor. Apenas não vê sentido em se comunicar da forma tradicional se há outra mais rápida e eficiente.


- Pelo telefone, a comunicação é síncrona. A resposta social esperada é imediata, estilo pingue-pongue: um fala, o outro responde e assim a conversa evolui. Se não há resposta, isso sinaliza que a ligação caiu ou que a pessoa desmaiou do outro lado, talvez... Quem tem hoje pouco mais de 30 anos já cresceu se comunicando dessa forma síncrona.


- Para estarmos no compasso do mundo atual (ou menos atrasados), precisamos estabelecer mais comunicações assíncronas, liberando o outro dessa resposta imediata com atenção exclusiva. A mãe coloca no aplicativo: “Filho, os seus padrinhos virão jantar conosco hoje”. Daqui a pouco, a mensagem será lida pelo filho, enquanto <QA0>
ele estará fazendo outras coisas. É bom ver as vantagens dessa comunicação, como a liberdade de comunicar-se a qualquer hora e a praticidade de passar a mesma mensagem para vários familiares ao mesmo tempo.


- O filho costuma estar ligado nos pais – e também em outras coisas e pessoas. Os adultos que não foram treinados a fazer várias atividades ao mesmo tempo têm dificuldade de entender isso. Já quem é da geração Y para frente tende a fazer simultaneamente várias coisas, com atenção em todas.


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