Inteligência emocional: importante para vida pessoal e profissional

Cada vez mais empresas procuram colaboradores com essa habilidade, que pode ser desenvolvida

Por: Brenda Bento  -  17/10/21  -  09:13
 “Para aqueles que querem desenvolver a IE sozinhos, a dica é a auto-observação”, afirma Claudia Ribeiro, psicanalista e pesquisadora do bem-estar no trabalho
“Para aqueles que querem desenvolver a IE sozinhos, a dica é a auto-observação”, afirma Claudia Ribeiro, psicanalista e pesquisadora do bem-estar no trabalho   Foto: Adobe Stock

Você já ouviu falar em inteligência emocional? Ou sabia que, além de ser uma característica importante na vida pessoal, ela também é fundamental no ambiente profissional? Psicanalista e pesquisadora sobre o bem-estar no trabalho, Claudia Ribeiro explica que a inteligência emocional (IE) é uma habilidade que pode ser desenvolvida e compõe a junção de alguns aspectos fundamentais como aprimoramento do autoconhecimento, gestão das emoções, empatia e capacidade de comunicação.

“No passado, as empresas exigiam para contratação apenas a capacidade cognitiva ou inteligência lógica, o conhecido QI. Com o passar dos anos e as mudanças que intensificaram a necessidade do refinamento das relações interpessoais, observou-se a importância das chamadas softskills e a inteligência emocional junta as principais delas”.


A psicanalista afirma que o estudo da IE começou no século 19, mas ganhou a mídia há poucas décadas, sendo o principal divulgador e pesquisador na atualidade o psicólogo e PhD Daniel Goleman. “Ele ressalta que para desenvolvê-la nós precisamos colocar energia em quatro pilares principais”.


Baseando-se nos estudos de Goleman, Claudia detalha quais são esses quatro principais pilares: “Para o autoconhecimento temos alguns caminhos, como a busca por ajuda profissional, ou seja, uma análise pessoal. Já para aqueles que querem fazer isso sozinhos, a dica é auto-observação. O segundo pilar é o gerenciamento emocional, que exige um pouco mais de atenção. As emoções existem para comunicar algo; elas têm uma função, como se fossem um alerta. O primeiro passo é nomear a emoção, o que não é uma tarefa simples. Após nomeá-la, deve-se entender o que ela quer dizer”.


O terceiro pilar consiste na empatia. “Gosto muito de pensar sobre a capacidade de alteridade, ou seja, de entender que o outro, seja ele quem for, é diferente de nós, com uma história singular, de origem diferente e entendimento de mundo muito particular. Dentro do quarto pilar estão as habilidades de comunicação, além da escuta. É fundamental termos clareza nas informações que queremos passar, fazer checagens de entendimento e ter respeito diante das diferenças”.


Para a especialista, os conflitos no ambiente profissional aumentam com a pressão e, assim, cada vez mais as pessoas adoecem e são reativas. “Portanto, ter IE ajuda e muito a realização de boas entregas no trabalho, com espírito de equipe e trocas prazerosas de ideias que ampliam a criatividade e transformam para melhor o clima organizacional”.


Autogestão

De acordo com a psicanalista, o autoconhecimento absoluto é algo praticamente impossível. “Mas isso não nos impede de mergulharmos nessa jornada, pois é por meio dela que somos protagonistas do nosso bem-estar. O primeiro ponto é sair do estado de fixidez, ou seja, questionar que o que pensamos seja a verdade absoluta e que não haja espaço para a escuta empática e a ampliação da nossa visão de mundo. Quando essa empreitada se torna angustiante, é hora de buscar ajuda profissional e realizar uma psicoterapia”.


Práticas meditativas, como mindfulness, também podem auxiliar nesse processo. “Por ser uma alternativa de reflexão subjetiva, sobre o que é desafiador e importante e quais atitudes ajudam na legitimação dos nossos desejos”.


Em relação ao controle das emoções, Claudia explica que a autogestão da emoção deve ser feita a cada evento conflitante por meio da análise do ocorrido sem julgamento severo de si e dos demais envolvidos. “A empatia e a generosidade são importantes para isso. Sem dúvida, quanto mais acumulamos estresse, mais nos desorganizamos psiquicamente; o desdobramento disso pode ser uma crise de esgotamento. Quem não consegue se controlar diante de pequenos acontecimentos, atenção! Peça ajuda profissional. Digo que pavio curto não é uma característica, mas um sintoma”.


Entendendo as emoções

Para Claudia Ribeiro, não existe a separação da emoção e da razão no ambiente de trabalho. “O ser humano é constituído por um sistema complexo. Nas consultorias que presto para as empresas, realizo atividades como workshop, palestras e fóruns de debates para incentivar o entendimento de que a razão e as emoções estão em um sistema único, com instâncias conscientes e inconscientes. E tudo está ali, quer percebamos ou não, em cada atividade do cotidiano. Imagina se não pudéssemos sentir alegria, raiva, tristeza, gratidão e tantas outras emoções em nosso trabalho, que é apenas uma parte da vida? É que muitas vezes as pessoas esquecem que a vida é repleta de tantas outras áreas, como família, lazer, amigos, saúde, intelecto e equilíbrio emocional”.


Entender e nomear as nossas emoções não é uma tarefa simples, mas, segundo Claudia, é uma questão de hábito. “Tire um tempo no dia, talvez antes de se deitar. Aí vai uma dica: faça essa reflexão sem deitar-se na cama, pois pode acabar caindo no sono. Relembre o que fez no dia, quais os momentos que foram mais legais e quais foram ruins e por quais razões. Dê nome para cada sentimento. Evite separar apenas entre alegria e tristeza; isso reduz muito a análise das emoções, pois existe uma lista enorme delas, como alegria, tristeza, medo, raiva, nojo, surpresa, frustração, ansiedade, excitação, horror, tédio, calma, empatia, adoração, inveja e tantas outras”.


Habilidades de comunicação

S
egundo Claudia, tanto a empatia quanto a alteridade passam por uma habilidade primordial de comunicação, chamada escuta empática. “Tendemos a querer colonizar o pensamento do outro, argumentar de todas as formas para que a outra pessoa pense como nós, e para que mesmo? O que ganhamos ao forçar as pessoas a pensarem como nós? E será que isso é possível? Parece-me que não. As pessoas transformam os seus pensamentos e atitudes porque sentem necessidade de fazê-lo. Ao escutar com generosidade, fica muito mais fácil para a comunicação e o entendimento”.


Além de saber escutar de forma empática, existem outros itens importantes para desenvolver a habilidade de comunicação. “Falar de uma forma clara e transparente, realizar checagens de informações e entendimento, respeitar o modelo de mundo do outro, que é diferente, e respirar antes de responder. O silêncio é elegante e ajuda muito a deixar em suspensão a última fala. O eco que fica em segundos de espera faz com que as pessoas deem tempo para analisar o que foi dito”.


Por fim, a psicanalista reforça que, nos dias atuais, diante de um contexto pandêmico inimaginável, é fundamental desenvolver a inteligência emocional. “Aposte e invista em você! Busque uma análise pessoal, leia, estude, estimule o seu pensamento crítico, celebre – mesmo que virtualmente – e coloque bom hu(a)mor em sua vida”.


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