Horas no celular e até álcool em gel nos olhos prejudicam a saúde ocular

Ações simples e alguns cuidados podem prevenir problemas e até proteger contra o covid-19

Por: Joyce Moysés  -  16/08/20  -  19:48
  Foto: Adobe Stock

Nos últimos meses, por causa do distanciamento social, mais pessoas adotaram ou intensificaram hábitos de trabalho e de lazer que podem abalar a saúde dos olhos. Houve quem passou a ler por mais tempo sem a iluminação adequada ou ficou maratonando séries na TV em quarto escuro. E o celular, que já era companheiro de todas as horas, virou o grande meio de comunicação com o resto do mundo, sendo que seu brilho nem sempre está ajustado para um nível saudável.


Dos mais de 8 milhões de profissionais que estavam trabalhando em home office até julho, é bem provável que grande parte tenha ficado por horas na frente do computador quase sem piscar, para não perder nada das reuniões online. Com a visão sobrecarregada por trabalhos e pesquisas de forma virtual, esse excesso de tempo diante de telas acaba deixando os olhos secos, irritados e cansados; e facilitando dores de cabeça.


Isso acontece porque, diante de um monitor ou do celular, as piscadas minguam para duas ou três vezes por minuto, diminuindo assim a lubrificação natural. “Ressecamento dos olhos é uma queixa comum atualmente, exigindo redobrar a atenção para se manter uma lubrificação adequada”, afirma Omar Assae, médico oftalmologista do Hospital CEMA, especialista em Catarata e em Cirurgia Plástica Ocular.


O médico oftalmologista e Professor Livre Docente Dr. Marcello Colombo Barboza, diretor clínico do Hospital Visão Laser, também percebe que mais pessoas estão ficando muitas horas olhando para as telas do computador, celular, TV... e indica adotar estes cuidados:


  • Usar o computador e o celular a uma distância de 40 a 60 centímetros.
  • A cada uma hora fazer uma pausa de dez minutos para olhar ao longe e descansar os olhos.
  • Garantir que o home office seja montado em um ambiente claro.
  • Piscar mais a fim de lubrificar a região. Se necessário, recorrer a lubrificantes oculares quatro vezes ao dia.
  • Fazer avaliação oftalmológica anual para correção de grau e tratamentos de doenças de pálpebra que possam interferir na lubrificação ocular.
  • Tocar e coçar, não é para começar. “Vale ainda evitar coçar os olhos, para não irritar e nem pegar ou transmitir conjuntivite, principalmente sem estar com as mãos bem limpas. Nesse sentido, o fato de estarmos todos lavando com alta frequência acaba beneficiando a saúde dos olhos.
    Porém, é necessário atenção ao utilizar o álcool gel e, na sequência, levar a mãos aos olhos. Pode irritar ou até provocar uma queimadura leve. Aguarde o produto evaporar antes”, avalia dr. Omar.

“Está acontecendo muito isso no dia a dia dos consultórios oftalmológicos. Eles estão passando uma quantidade exagerada de álcool gel nas mãos e levando ao rosto, facilitando assim irritações e alergias”, reforça o diretor do Hospital Visão Laser, que recomenda manter esse produto o mais distante possível dos olhos e das mucosas labiais e nasais.


“Incômodos como olhos vermelhos, coçando, com intolerância à luz, podem ser desencadeados pelo contato do álcool nos olhos, causando uma conjuntivite química. Dentro de casa, dê preferência a lavar as mãos com água e sabão, deixando para utilizar o álcool na forma de gel apenas quando não houver acesso a essa dupla tradicional. E caso respingue o produto nos olhos, lavar com água corrente limpa. Se persistirem os sintomas por 24 horas, procure um oftalmologista para tratamento específico”, ensina dr. Marcello.


Terçol, visita indesejada


Outro receio atual é o de acordar com terçol e temer contagiar os familiares confinados em casa. “Não é contagioso. Ocorre quando uma glândula localizada na pálpebra inflama e causa aquele inchaço característico com bolinha de pus”, explica dr. Omar, acrescentando que, em alguns casos, a pessoa nem percebe que há a bolinha amarela na parte interna, visualizando só o inchaço.


Quem tem pele oleosa está mais propenso ao problema, podendo, como prevenção, fazer compressas de água morna uma ou duas vezes ao dia, para evitar acumular oleosidade na região. “O tratamento é com calor local. Lembra daquela receita caseira da sua avó de aquecer ligeiramente uma aliança ou colher e aproximar da pálpebra com a inflamação? Ajuda a drenar a secreção, sem que seja preciso fazer uso de medicação ou procedimento cirúrgico”, diz o oftalmo do CEMA.


Verdade que muita gente está evitando ir aos consultórios e hospitais por causa da pandemia. No entanto, uma consulta para avaliar terçol é rápida, então o tempo de exposição ao novo coronavírus será pequeno. 


“Se não houver melhora espontânea em 24 horas, é melhor passar pelo oftalmologista e ouvir que ‘não é nada grave’ do que não ir, pois pode ocorrer um quadro infeccioso secundário ao aparecimento do terçol, exigindo a prescrição de um antibiótico oral - ou mesmo internação, se evoluir para um quadro mais crítico”. 


Aumento de miopia


Maurício Pamplona, médico oftalmologista à frente do Pamplona Hospital Dia, alerta para mais esta consequência do uso intenso de telas: aumento de casos de miopia, especialmente entre as crianças, e de graus em quem já usa óculos, principalmente os jovens, devido à necessidade de acomodação no foco de visão de perto.


“Antes, os estudantes já ficavam diante do celular, mas enquanto estavam na escola davam um alívio a esse hábito. Isso mudou com a frequência de aulas online (e lazer idem). Quanto aos pacientes adultos, especialmente os que não estavam acostumados a trabalhar por tanto tempo remotamente, orientamos trocar os óculos, reavaliar graus e lembrar de lubrificar os olhos”, relata dr. Maurício, que é especialista em Oftalmologia pelo Hospital das Clínicas (FMUSP), concluindo com mais estas dicas inteligentes:


  • Transmitir conteúdos virtuais (de aulas gravadas a vídeos da Galinha Pintadinha) que estão na tela do celular/notebook na TV, para assistir mais de longe.
  • Usar lentes de óculos que filtram a luz das telas eletrônicas.
  • Usar óculos protege contra a covid-19, pois está provado que o vírus pode penetrar pela mucosa dos olhos, a conjuntiva, se alguém contaminado tossir ou espirrar próximo, por exemplo.

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