Há 10 estágios entre a saúde e a doença, diz especialista. Entenda como isso funciona

Alexandre Quartzo trabalha com a terapia psico-ortomolecular. Ele explica esse tratamento e dá dicas valiosas, como os alimentos que não podem faltar no dia a dia

Por: Stevens Standke  -  21/06/20  -  18:25
Alexandre Quartzo diz que o sentimento que mais faz mal à saúde é o de impotência
Alexandre Quartzo diz que o sentimento que mais faz mal à saúde é o de impotência   Foto: Alexsander Ferraz

Devemos observar vários aspectos para garantir o tão sonhado bem-estar. Além de cuidar melhor da nossa alimentação e dos nossos sentimentos, precisamos ficar atentos a outras fontes de estresse, bem menos óbvias, como a radiação proveniente do celular, o uso excessivo de medicamentos e os efeitos indesejados dos produtos de limpeza que utilizamos em casa.


Na entrevista a seguir, Alexandre Quartzo, que desenvolve um trabalho focado na terapia psico-ortomolecular, diz que o sentimento que mais afeta a nossa saúde é o de impotência e que, de acordo com a medicina funcional, existem dez estágios entre o bem-estar e a doença. Ele também dá dicas de ajustes na alimentação diária, principalmente para combater os efeitos do processo de envelhecimento, e propõe uma mudança no estilo de vida, baseada em um maior amor próprio.


ESTRESSE Quais são as principais aplicações da terapia ortomolecular?


Ela consiste em um processo de reeducação de hábitos, para formar um novo estilo de vida. Assim, a pessoa passa a compreender melhor como o seu corpo funciona e, a partir disso, vai gerenciando o que come, a forma como interage com o meio ambiente e o reflexo dessa relação na sua saúde.


Um dos focos é reduzir o estresse a que estamos submetidos. Quando digo isso, não me refiro apenas ao estresse de ficar nervoso. Há outros tipos. Entre eles: o eletromagnético, proveniente do excesso de radiação a que o nosso organismo fica exposto, por intermédio, por exemplo, de torres de telefonia ou de alta tensão. Inclusive, estudos interessantes procuram traçar os impactos na nossa saúde da implantação do 5G e de mais satélites ao redor do planeta.


Como devemos administrar, então, o estresse eletromagnético proporcionado pelo celular?


Precisamos rever a maneira como lidamos com o smartphone. Nem sempre o aparelho tem de estar na nossa mão para podermos mexer nele. Uma saída é usar a criatividade, improvisando uma base de apoio para o celular quando possível, que pode ser uma mesa ou até o notebook. Isso já diminui o estresse eletromagnético.


Tem gente que costuma dormir com o smartphone na cama, por causa do despertador. Nem pensar. Sugiro deixar o aparelho a mais de um metro da cama. Aí, quando o alarme tocar, é só você se esticar e pegar o telefone.


Que outros tipos de estresse merecem destaque?


Um bem relevante é o causado pelo uso excessivo de medicamentos. O Brasil está entre os países que mais consomem analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos. Há também o estresse químico, gerado, em parte, pela queima de combustíveis.


E as pessoas devem tomar cuidado ao manusear os produtos de limpeza, principalmente para não inalá-los, porque são derivados do benzeno e acabam tendo um efeito destrutivo nas nossas glândulas e células. Uma alternativa é utilizar máscara e luvas quando você for mexer com produtos de limpeza. Se for possível, vale considerar substituir os que compra pelos da linha biológica. Algumas pessoas até aprendem a fazer os seus próprios produtos de limpeza.


ESCALA Qual profissional está habilitado para trabalhar com a terapia ortomolecular?


Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que a terapia ortomolecular faz parte da medicina complementar, ou seja, é importante que esse tipo de tratamento esteja associado à medicina convencional.


Respondendo à sua pergunta: a terapia ortomolecular não é praticada apenas por médicos, ela também pode ser ministrada por profissionais de outros segmentos da saúde, que se capacitaram para isso, por meio de cursos de extensão ou de pós-graduação. Eu faço parte desse segundo time. Estudei nutrição funcional e bioquímica nutricional antes de começar a trabalhar com a terapia ortomolecular há 20 anos.


Tive a sorte de, durante a minha formação voltada à terapia ortomolecular, contar com a orientação de alguns dos pioneiros no Brasil, entre eles Helion Póvoa, médico do Rio de Janeiro com vários livros publicados. A terapia ortomolecular foi introduzida no País justamente por ele, há cerca de 35 anos. Mas ela surgiu nos Estados Unidos há 60 anos, com o bioquímico Linus Pauling, que ganhou dois prêmios Nobel.


O que é levado em conta na avaliação inicial do paciente?


Por meio de exames diversificados, geralmente de sangue, analisamos se existe algum distúrbio imunológico ou questão relacionada a fadiga e estresse. Adotamos ainda um questionário, com perguntas sobre os sistemas digestivo, nervoso, circulatório e sobre a qualidade do sono. Com base nas queixas do paciente, já temos um sinal dos nutrientes que podem ajudar a melhorar aquele quadro.


A terapia ortomolecular também tem sido bastante útil quando a pessoa apresenta determinados sintomas e a medicina convencional não consegue fechar um diagnóstico a partir disso. Dizemos que esse paciente se encontra no estágio de pré-doença, ou de disfunção, e o tratamos revendo seu estilo de vida e sua alimentação.


Como funciona esse estágio de pré-doença?


A medicina funcional, desenvolvida na França na década de 1930 por Jacques Ménétrier, reconhece dez estágios na escala entre a saúde e a doença. Podemos afirmar, portanto, que é raro uma pessoa estar com saúde perfeita.


Nessas fases intermediárias da disfunção, o paciente costuma ter várias queixas, tanto fisiológicas quanto psicológicas, só que os resultados dos exames de laboratório e imagem ficam dentro dos parâmetros da chamada “normalidade”.


ALIMENTAÇÃO Que nutrientes são mais estratégicos no dia a dia?


Em torno de 45 nutrientes são essenciais para o nosso bem-estar. Entre eles, chamo atenção para os antioxidantes: vitaminas A, C, D, E e os minerais magnésio, selênio, zinco, manganês e cobre. Esse conjunto corresponde aos nossos “soldados de elite”, com grande ação na imunidade e na regulação do processo de envelhecimento.


Para a terapia ortomolecular, existem duas idades: a cronológica, definida pela nossa data de nascimento, e a biológica, que tem a ver com o estado de preservação do organismo. Por exemplo: a pessoa pode ter idade cronológica de 30 anos, mas estar com o corpo tão malpreservado que a sua idade biológica é de 70 anos. Do mesmo modo, alguém pode ter idade cronológica de 65 anos e, por cuidar do organismo tão bem, sua idade biológica ser inferior a isso.  


Sempre é tempo para começar a se cuidar, mesmo quando já se está na terceira idade?


Sim, mas sempre levando em conta os limites de cada um. Tenho um número considerável de pacientes na faixa dos 80 aos 90 anos. Um dos efeitos da terapia ortomolecular é o aumento da vitalidade. A pessoa sente mais energia, disposição para desempenhar todas as suas atividades.


Quais alimentos com propriedade antioxidante não podem faltar na nossa alimentação?


Água de coco, ovo caipira, vegetais principalmente verde-escuros, frutas como mamão, banana, abacate, caqui e limão, além dos cereais integrais, com destaque para a aveia, que contém o aminoácido triptofano e é boa para as atividades cerebrais, o sono e ajuda a evitar o infarto e que os vasos sanguíneos inflamem.


Fora isso, recomendo semente de linhaça, por ser fonte de ômega 3; gérmen de trigo, que é rico em vitamina E; castanha-do-brasil, que tem bastante selênio; nozes, fontes de selênio, zinco e triptofano; e lecitina de soja, que contém fosfatidil colina, contribuindo para evitar doenças neurodegenerativas. E mais: peixes como sardinha, atum e salmão são especiais, por terem muito ômega 3.


Em contrapartida, devemos repensar o consumo de quais alimentos?


Coloco nessa lista os refrigerantes, os embutidos e defumados, os enlatados e as carnes gordas. São alimentos com alta acidificação, ou seja, que sequestram o oxigênio que deveria estar circulando pelo corpo. Por terem bastante sódio, eles causam retenção de líquidos. Também provocam um processo corrosivo no estômago e no intestino. E por não contarem com fibras, ainda ficam mais tempo no organismo.


Esses alimentos aumentam o processo de envelhecimento, diminuem a vitalidade e deixam o sangue mais viscoso – pesado para circular –, favorecendo a hipertensão.


EMOÇÕES Você adota a terapia psico-ortomolecular. O que a difere da linha tradicional da terapia ortomolecular?


Ela também procura promover uma melhor administração do nosso comportamento, entrelaçando com isso a inteligência emocional e afetiva. Sentimentos como tristeza e sensações como a de impotência geram o que chamamos de moléculas de emoção, que favorecem o processo de adoecimento. O uso de determinados nutrientes permite fazer uma espécie de compensação nessas desordens neuroquímicas.


Quais são os sentimentos que mais prejudicam a nossa saúde?


Em primeiro lugar, surpreendentemente, vem o sentimento de impotência. Ele é uma bomba, de tão destrutivo, e explica vários processos de adoecimento que acontecem de forma rápida e bem grave. Depois, destacam-se os sentimentos de abandono, rejeição, traição e falta de lealdade.


Com a pandemia e o isolamento social, andam em evidência a ansiedade e a incerteza quanto ao futuro.


Isso tende a elevar o índice de cortisol, que é a principal substância do estresse. Ela cria uma desordem no organismo, deixando-o mais inflamado. Diante desse quadro, quanto mais abrangente o tratamento for, melhor, com prática regular de atividade física, banho de sol para produzir vitamina D, maior contato com a natureza e a busca por uma espiritualidade mais apurada.


Pelo que conversamos, a terapia psico-ortomolecular, de modo geral, proporciona uma mudança significativa no estilo de vida da pessoa. Mas, entre tantos aspectos, qual é mais primordial?


O ponto central é elevar o amor próprio. O que é diferente de você falar que se ama. Deve-se mostrar isso com atitudes favoráveis à sua saúde, reduzindo hábitos agressivos e cuidando do seu bem-estar como um todo.


Entram aí, por exemplo, beber água com mais frequência e ter um sono de qualidade. Uma dica bacana é, antes de deitar, ouvir uma música propícia para o período de descanso. Recomendo buscar no YouTube os vídeos da frequência 528 Hz, que também é boa para a hora de estudar.


Logo A Tribuna
Newsletter