Gabriel Leone fala da próxima novela das 9, dos cinco filmes que vai lançar e da série 'Dom'

O ator procura fazer a diferença com o seu trabalho. Ele ainda cogita investir na música

Por: Stevens Standke  -  02/08/20  -  20:35
  Foto: Rael Barja/ Divulgação

Gabriel Leone se preocupa em construir uma carreira intensa e significativa, marcada pela versatilidade tanto na televisão quanto no teatro e no cinema. Justamente por isso, achou melhor deixar de ter um contrato longo com a Globo para assinar contratos por obra com a emissora, que permitissem ainda mais liberdade artística.


Confirmado no elenco de Um Lugar ao Sol, novela que vai suceder Amor de Mãe na faixa das 21 horas, o ator também tem cinco filmes para lançar e o seriado Dom, que fará parte do catálogo do Amazon Prime Video.


Na entrevista a seguir, o carioca de 27 anos fala ainda de outras duas paixões suas – a música e o design – e da relação com a namorada, a atriz Carla Salle.


MENSAGEM Você tem preferido fazer contratos por obra com a Globo, em vez de continuar no elenco fixo da emissora, à espera de projetos. O que motivou esse novo tipo de relacionamento com o canal?


Algo que pesou para que eu resolvesse não assinar um outro contrato longo com a Globo foi o fato de que assim eu continuaria tendo o máximo de liberdade para poder escolher bem os personagens e os projetos aos quais iria me dedicar.


Ao longo da minha carreira, sempre persegui a possibilidade de fazer trabalhos diferentes. Comecei no teatro; nos últimos tempos, tenho me dedicado bastante ao cinema. Portanto, essa chance de poder definir o rumo que vou seguir é algo que valorizo.


Antes de aceitar um papel, me pergunto por que devo entrar naquele projeto. Não analiso só se gostei do personagem. Considero os desafios envolvidos, a validade de contar aquela história naquele momento. Naturalmente, isso faz com que já haja uma mensagem embutida naquele trabalho. Me preocupo muito em interpretar papéis que digam alguma coisa para as pessoas.


Existe, por acaso, uma necessidade sua de que o personagem permita o engajamento com alguma causa social?


Não coloco isso como um aspecto obrigatório, mas sempre é legal quando consigo ajudar uma causa ou entidade com o meu trabalho. Na época da novela Velho Chico, por exemplo, fiquei bem próximo das questões ambientais. Por conta do meu personagem, estudei a agricultura sintrópica, que é uma forma de agricultura sustentável (ela junta, na mesma área, a produção de hortaliças, frutas e madeira, e favorece a recuperação de regiões degradadas e a proteção do meio ambiente).


Há pouco tempo, participei de uma iniciativa da ONG Uma Gota no Oceano, que luta pelas causas ambientais e pelos povos originais, indígenas. Fiz a narração de um vídeo que estavam desenvolvendo sobre a poluição que atinge uma parte do Rio São Francisco. Eles usaram, inclusive, imagens registradas na época da novela. Acho importante quando a gente une forças em defesa de algo.


ESPORTE Pelo jeito, é estudioso.


Vou te dizer que eu não era muito nos tempos de escola. O que gosto de fazer é mergulhar de cabeça nos assuntos que me interessam. Para você ter uma ideia, ando pesquisando bastante sobre teoria musical. Tenho ido atrás de sons novos e das histórias de cantores e bandas.


  Foto: Rael Barja/ Divulgação

Você costuma indicar filmes, séries, discos, espetáculos, livros e HQs no seu Instagram. Pelas sugestões que dá, fica claro que curte uma cultura menos óbvia, de repertório mais elevado.


Procuro compartilhar o que amo e, de alguma maneira, me toca, me sensibiliza e, dependendo do caso, me influencia. Realmente tenho um gosto cultural meio diferente da maioria das pessoas da minha idade, mas isso nunca fez com que me sentisse deslocado, por exemplo, na adolescência, até porque havia outros assuntos que me aproximavam dos meus amigos, como o esporte. Depois de entrar na faculdade e no meio artístico, conheci gente com gostos tão diversos que vi o quanto a mistura cultural é importante.


Chegou a se dedicar para valer a algum esporte?


Joguei polo aquático por alguns anos. Quando comecei a avançar nas equipes do meu clube, no Rio, observei alguns colegas que já estavam competindo profissionalmente e vi o quanto eles tinham de viver em função do esporte. No fundo, eu não estava a fim daquilo. Mais ou menos na mesma época, iniciei no teatro e queria experimentar outras possibilidades.


ORIGEM O que despertou o seu interesse pelas artes cênicas?


Comecei a fazer teatro por coincidência, na escola. Foi algo inesperado. Em um trabalho de História, meu grupo ficou responsável por montar uma peça sobre o Brasil nos anos 80. A gente resolveu que ia contar a trajetória do Cazuza.


Eu nunca havia tido contato com a interpretação, com o teatro, com nada disso, e me prontifiquei a fazer o Cazuza, pois era fã, gostava das músicas dele. Apresentamos o espetáculo para os pais. Aquilo mexeu muito comigo, despertou uma relação forte com o palco e o público. Aí, o diretor de teatro da escola, que tinha um grupo, me convidou para ir um dia no encontro deles. Fiquei alguns anos nessa companhia e segui carreira.


Fez faculdade voltada a isso?


Não. Cursei Design na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) até o sexto período. Não consegui me formar, porque entrei em Malhação e precisei trancar a faculdade. Nunca mais tive tempo de retomar as aulas.


Até hoje, amo design. Quando dá, faço algo para amigos ou para um trabalho em que esteja envolvido. Gosto bastante da parte de criação, de produzir coisas digitalmente. Também tenho curtido tirar fotos e manipulá-las.


DESEJO E o que motivou a vontade de estudar música mais a fundo?


A minha ligação com a música surgiu mais ou menos no mesmo período em que comecei a minha formação de ator. Em paralelo ao teatro, eu estudava violão por conta própria. Depois, tive aulas de canto com um professor e fiz alguns musicais, principalmente no início da minha carreira. O último foi em 2018, em São Paulo.


Hoje, também toco guitarra e, de um tempo para cá, tenho estudado piano. De alguma forma, tanto o canto quanto os instrumentos acabaram se tornando ferramentas para o meu trabalho, alguns personagens pedem isso.


Na série Os Dias Eram Assim, além de interpretar o Gustavo, fui uma das pessoas que gravou a versão de Aos Nossos Filhos, do Ivan Lins, para a vinheta de abertura.


Gostaria de um dia, de repente, gravar um álbum?


Vontade eu tenho, mas lido com isso sem pressão, numa boa, pois sei o quanto de dedicação e tempo vou precisar ter para viabilizar um projeto de cunho profissional. Graças a Deus, nos últimos anos, a minha carreira anda bem agitada, emendei vários trabalhos. Por enquanto, ainda não tive tempo para mergulhar de cabeça na música, acredito que, em algum momento, isso vai acontecer. Tenho um home studio, gosto de brincar nele e gravar coisas.


Qual seu top 3 da música nacional?


Legião Urbana, Milton Nascimento e Caetano Veloso, não necessariamente nessa ordem.


  Foto: Rael Barja/ Divulgação

CINEMA Por falar em Legião Urbana, você protagoniza junto com a Alice Braga o filme Eduardo e Mônica, inspirado na famosa música da banda. Era para o longa ter estreado no mês passado, mas acabou sendo adiado devido à pandemia. Já há uma nova data de lançamento?


Ainda não, porque não é só uma questão de esperar os cinemas reabrirem. O público precisa voltar a ter uma frequência minimamente normal e acho que, mesmo com as salas funcionando, as pessoas vão demorar um tempo para ir ao cinema de novo; a princípio, deve haver um certo estranhamento.


Além do Eduardo e Mônica, mais três filmes que fiz iam ser lançados neste ano e ficaram sem data de estreia. Um deles é o Piedade. Por conta da pandemia, o longa foi apresentado apenas em um festival on-line que o Espaço Itaú de Cinema promoveu em São Paulo – nos dois dias em que ficou em cartaz de graça, tivemos uma quantidade alta de views, quase 100 mil.


O Piedade fala sobre um impasse ambiental no Recife, gerado pela chegada de uma grande empresa à área de uma comunidade ribeirinha. Interpreto um ativista que luta contra essa companhia.


Quais os outros dois filmes que foram adiados?


O Alemão 2, que não é uma continuação direta, ele se passa dez anos depois da ocupação do Complexo do Alemão, no Rio. E tem o Meu Álbum de Amores, em que interpreto dois personagens. Nele, um rapaz descobre que é filho de um cantor e compositor que acaba de morrer e tenta refazer os passos do pai. Interpreto tanto esse garoto quanto o pai dele mais jovem.


Todos esses filmes devem ficar para 2021. Para o ano que vem, já estava prevista a estreia de outro longa que rodei, O Adeus do Comandante.


NOVELA Você também está no elenco de Um Lugar ao Sol, que irá substituir Amor de Mãe na faixa das 21 horas da Globo?


Sim. A novela já estava sendo gravada desde o início do ano. Eu ia começar a rodar as cenas do meu personagem em abril; quando foi decretado o isolamento social, eu estava participando dos encontros do elenco, fazendo leituras.


A previsão é que as gravações sejam retomadas em novembro, mas essa estimativa gira em torno da expectativa de que até lá a situação esteja mais controlada. É complicado, porque, em produções como essa, vai haver aglomeração no set, não tem jeito, e os protocolos sugeridos são dificílimos de cumprir.


O que vejo por aí são produções de menor porte, que requerem menos estrutura, adaptando sua linguagem, seu formato. Tem gente que está ficando hospedada na locação, fazendo quase uma filmagem dentro da quarentena. Muita coisa bacana está surgindo a partir da impossibilidade que vivenciamos.


Tem algum outro projeto engatilhado?


O Amazon Prime Video vai lançar mais para frente (em data ainda a confirmar) a série Dom, que fiz com direção do Breno Silveira. Ela narra a história do chefe de quadrilha carioca Pedro Machado Lomba Neto, o Pedro Dom.


Esse é, certamente, um dos personagens mais intensos e desafiadores que já interpretei. E como a ideia é fazer três temporadas, terei pela primeira vez a experiência de revisitar um papel.


AMOR Como encara a exposição trazida pela fama, afinal você costuma ser superdiscreto?


Administro isso de uma forma tranquila, bem leve. E não me privo de fazer nada que quero. Enxergo cada coisa no seu lugar: a minha profissão é a minha profissão; a minha vida pessoal é a minha vida pessoal. Acho que a imprensa e o público percebem essa minha postura e a respeitam.


Você namora a atriz Carla Salle. É mais fácil se relacionar com alguém que entende o seu universo e a sua dinâmica de vida?


Acredito que sim. Eu e a Carla acabamos passando por situações muito parecidas, por conta de termos a mesma profissão, e isso leva ao entendimento mútuo. Ao mesmo tempo, existe outro ponto bastante positivo: há uma parceria, uma troca artística bem bacana entre a gente.


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