A pandemia veio sem aviso prévio e fez com que os casais vivessem realidades tão diferentes do que idealizavam. “A convivência exacerbada gerou em muitos casais estresse, desgaste, frustração, ansiedade, angústia e medos (do futuro, de adoecer, de ficar sem trabalho...)”, analisa Marina Simas de Lima, doutoranda e mestre em Psicologia Clínica, especialista em Sexualidade Humana e em Terapia de Casal e Família, coautora do livro “Diálogo Sim, Briga Não”.
Os relacionamentos que já não estavam funcionando bem – por ser tornarem abusivos, carentes de qualidade ou de interesses comuns – não sobreviveram. “Muitos nem sabem explicar onde ficou o amor que existia”, diz a psicóloga. “Se é o seu caso, você pode estar se sentindo mais leve. E será interessante conectar-se com amigos e familiares para que alegrem seu coração, mesmo se for pela internet ou telefone neste verão com distanciamento.”
Estar solteiro enquanto houver a pandemia pode ser mais difícil para alguns do que para outros. Em tempos normais, no verão as pessoas ficavam mais bonitas, bronzeadas e abertas para vida. Mas a situação agora é bem mais limitante. “Ainda mais com esse cenário do retorno do aumento dos casos de Covid-19, volta a incerteza sobre quando será possível vivenciar os encontros na praia, os esportes ao ar livre, as noitadas nos bares e baladas. Mas, até que a vacina seja uma realidade para todos, temos de ter paciência e protegermos a nossa vida e a dos outros”, pondera.
Marcela Mendes Neves, bacharel em Psicologia com pós em Psicanálise Clínica e especialização em Psicanálise Junguiana, proficiente em Psicanálise Freudiana, concorda que o excesso de convívio causado pelo isolamento social
agravou aquilo que já não estava bem: “O isolamento não perdoou os casais que já estavam infelizes, pois a verdade de seus sentimentos e da realidade nua e crua ficou despida de qualquer desculpa. Com a quarentena, ficaram evidentes aspectos que um não conhecia do outro quando ambos estavam vivendo na correria fora de casa”.
E os casais de namorados que anteciparam a vontade de morar juntos e “se estranharam”? Toalha molhada na cama, mau humor matinal, baguncinhas... Antes da pandemia, já seria desafiadora essa decisão de dividir o mesmo teto, na opinião de Marcela, “pois juntamos duas pessoas com histórias, valores e educações distintas para partilharem uma vida. Há manias antes não conhecidas, o estresse do dia a dia e pequenas obrigações fazendo parte de uma relação que talvez não estivesse madura o suficiente”.
Como seguir em frente De acordo com Marcela, culpa, remorso e autocrítica são comuns nessa etapa de retomada. O que fazer para superar esses sentimentos e seguir adiante? Primeiro passo: permita-se sentir a perda. “É importante no processo de finalização de ciclos absorvermos e entendermos o que houve. Sinta sua dor, porém faça uma avaliação dos motivos reais do rompimento e da sua insatisfação. “Escrever sobre os sentimentos ajuda a esclarecer e colocar para fora tudo o que queremos dizer. Aprendemos mais sobre nós mesmos”, ensina essa especialista.
Segundo passo: pense que não existe dor que dure para sempre. “Quando aumentar parecendo que faz o peito apertar, mentalize ‘vai passar!’ - porque vai. E o terceiro passo é cuidar da autoestima. Foque seu olhar no que deixou para trás e que neste verão tem a chance fazer por si. É o momento de cuidar de você. A situação atual, com milhares de mortes, confirmou que a vida é um presente”, incentiva Marcela.
Faça chuva, faça Sol, a paquera é online Para que cada uma se refaça emocionalmente e siga em frente, Marina reforça: “O momento é de respeitar-se e fazer escolhas investindo na sua individualidade e no prazer pessoal. Os aplicativos de paquera podem funcionar como boa diversão nesse período. Enquanto você não encontra um novo amor, vá construindo um dia de cada vez”.
A propósito, o aplicativo internacional de namoro happn pesquisou com seus usuários brasileiros como foi a vida amorosa e sexual deles em 2020. “Percebemos o quanto sentem saudades de pessoas! Ficou muito claro com a quantidade de solteiros que disseram ter quebrado a quarentena para encontrar seu crush (62%) e que sentiam falta de estar em um relacionamento, especialmente durante o pior período da pandemia”, conta Marine Ravinet, diretora de tendências do happn, criado em Paris em 2014 e que contabiliza hoje mais de 90 milhões de usuários no mundo, sendo 13 milhões no Brasil.
Sua pesquisa mostrou que o sociável povo brasileiro sentiu mais falta de encontrar pessoas pessoalmente (57%) do que de sexo (24%), sendo que mais da metade (60%) redescobriu o prazer “solo” e conheceu melhor o próprio corpo. Para 63%, a vida amorosa e sexual foi solitária ou muito solitária, enquanto 10% julgaram como muito boa, conhecendo novas pessoas ao longo do ano.
A prioridade desses solteiros usuários do aplicativo é encontrar o crush perfeito. Desde o início da pandemia no Brasil em março, mais de 84% sentiram a necessidade de ter um relacionamento para não passar o período de isolamento sozinho; apenas 16% disseram que estavam bem sozinhos. Mais dados da pesquisa do happn sobre os efeitos da pandemia para o amor o sexo:
· 76% iniciaram 2020 solteiros; 15% comprometidos; 9% “enrolados”;
· 41% não mudaram completamente a forma de se relacionarem, mas tomando alguns cuidados adicionais; 41% mudaram completamente; 18% não mudaram, encontrando o crush igual a antigamente.
· 57% afirmaram que o que mais sentiram falta em 2020 foi de conhecer pessoas novas pessoalmente; 24% sentiram falta de sexo em 2020; 12% sentiram falta de encontrar o Crush e 7% sentiram falta de flertar em 2020.
· 42% dos brasileiros julgam que sua vida amorosa/sexual em 2020 foi solitária; 21% muito solitária; 17% julgaram como boa; 10% muito boa e 10% acharam ok, nada fora dos padrões.
· 35% não furaram a quarentena para encontrar o crush; 20% chamaram até sua casa; 17% encontraram em um bar; 16% foram à casa dele; 12% tiveram encontros em um motel/hotel.
· 86% terminaram o ano solteiros; 12% “enrolados” e 2% mais comprometidos do que nunca.