Falta de atividades ou estímulos necessários podem prejudicar os pets

Tristeza profunda, que se parece com a depressão humana, é um sinal de alerta para tutores que se preocupam com seus bichinhos: está na hora de avaliar o ambiente em que eles vivem

Por: Daniela Paulino  -  20/01/20  -  08:13
  Foto: Divulgação

É verdade. Seu bichinho de estimação pode ficar tão triste que parece estar com depressão. Mas o que o deixa assim é diferente do gatilho da doença em humanos, relacionado geralmente com muitos pensamentos aleatórios e tarefas. O pet fica assim exatamente por falta de atividades ou estímulos inadequados oferecidos. Vale a pena prestar mais atenção ao que ele gosta de fazer e não ao que as tendências apontam sobre brinquedos, atividades e outras situações.


LuizaCervenka, bióloga e veterinária especialista em comportamento animal, explica por que a depressão propriamente dita não pode ser diagnosticada nos animais. “Ela é uma doença multifatorial. No ser humano, a primeira coisa que se percebe é quando ele faz um discurso sobre si. Ele entende quem ele é e acredita que não está no local em que gostaria, ou não é alguém que gostaria, ou que gostaria de uma vida diferente da que está vivendo. Precisa ter uma noção de passado, de presente e de futuro. Isso não existe nos animais”.


Quando se fala em depressão nos pets, é mais sobre o processo químico da coisa toda. “Ela se reflete em baixa de serotonina, que é o hormônio do bem-estar, de dopamina, neurotransmissor do prazer, e em alta de cortisol, o hormônio do estresse. A gente estabelece que o animal tem um estado de tristeza profunda. E, diferentemente do ser humano, que precisa corrigir essedeficitquímico com remédios e terapiapara os pets. Além dos remédios, tem algo muito importante: o enriquecimento ambiental”.


E o que é isso? “É oferecer ferramentas para que esse animal possa exibir seus comportamentos naturais. Apesar de estarem dentro de casa, os pets continuam sendo cães, gatos, aves, roedores... É importante que a gente tenha o conhecimento e a consciência de que eles são de outras espécies com outras necessidades, para que a gente possa oferecer um ambiente adequado para eles”, alerta Luiza.


Motivos


As causas da tristeza profunda nos pets geralmente estão ligadas com mudanças bruscas na rotina: viagem ou morte do tutor ou até de outro animal com quem ele se relacionava, separação de um casal. Introdução de um novo membro na família (pet ou o nascimento de uma criança) também pode ser um gatilho.


Entre os principais sinais estão inapetência e prostração. “O perigo de falar desses sintomas é quetambém estão relacionados com muitas outras doenças. Qualquer cachorro que estiver com dor vai diminuir a ingestão de alimento e água, ficará mais apático. A primeira coisa a fazer, quando perceber qualquer comportamento diferente, éleva-loao veterinário, para checar como está o animal clinicamente. Se todos os parâmetros estiverem normais, aí avalia-se a questão comportamental”, ressalta LuizaCervenka.


Felipe ChinenGushi, veterinário especialista em acupuntura e fitoterapia, também coloca nesse conjunto de comportamentos isolamento, quando o animal evita contato físico, e automutilação de extremidades (patas e rabo). “O diagnóstico é feito pelo histórico que o tutor conta, o que fornece ao veterinário as ferramentas certas. Não há necessidade de exames específicos, mas é preciso o diagnóstico feito por um médico-veterinário, porque são sintomas bem variados”.


Às vezes, a mudança de casa pode desencadear o problema. “O que parece simples para nós não é tão simples para o pet. As mudanças sempre causam desconforto ao animal, que já estava ambientado ao local em que vivia. Sair da zona de conforto pode causar medo aos bichinhos e uma série de doenças, inclusive ansiedade e depressão”, revela Luana Sartori, veterinária responsável pelaMonelloSelect.


O tratamento varia desde a mudança na forma de cuidar do pet, passando por terapias integrativas (acupuntura,reiki, florais debach) até o uso de medicamentos antidepressivos.


O que fazer


Esteja presente de verdade. O tutor precisa sempre estar atento ao comportamento do seu pet e dar carinho ao animal. Mostrar que se importa.


Bora passear. Faça caminhadas. Passeios e a socialização podem diminuir os níveis de cortisol. O protocolo não é igual para todos os animais, deve ser individualizado.


Hora da brincadeira. Brinque mais (tanto cães quanto gatos gostam e necessitam disso). O estímulo deve ser feito assim que o pet nasce.


Mas não é um brinquedo de que você goste ou ache fofinho. Precisa ser interessante para o pet. Enriqueça o ambiente para que o animal tenha atividade suficiente, de acordo com sua necessidade. Gatos, por exemplo, precisam de lugares para se esconder ou subir.


Deixe tudo limpo.O ambiente em que o animal vive deve ser limpo diariamente e, claro, protegido da chuva. É importante que os bichinhos aproveitem o sol, mas com cuidado para evitar o câncer de pele, especialmente nos gatinhos brancos.


Um reforço e tanto.O veterinário pode entrar com o que chamamos denutracêuticos, que são bases, como ômega 3, ômega 6, melatonina. Afinal, elas podem facilitar a criação de serotonina e dopamina pelo próprio corpo. Hoje, não existem serotonina e dopamina prontas.


Caça ao tesouro.Não ofereça o alimento no pote. O bichinho gosta de procurar o alimento, caçar a sua comida. Pode ser dentro de garrafa PET, dentro de rolo de papel higiênico, em caixas, comedouros lentos, brinquedos que soltam a ração aos poucos. Hoje, existe uma infinidade de possibilidades. Introduza coisas que sejam de interesse do animal, estímulos que facilitem a execução de comportamentos naturais. Pesquise sobre o seu pet.


Que cheiro bom!Enriqueça a vida do pet com estímulos olfativos. Passeios onde ele possa se comunicar com os outros cães, não necessariamente encontrando-os, mas com cheiros que ele identifique, como de urina de outros animais nas calçadas... No caso de gatos que não saem de casa, você pode trazer um pano com o cheiro de outro animal, graminha, hortaliças. Vale lembrar que o olfato é o principal sentido deles


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