Exercício na gravidez: saiba quais são os cuidados necessários

Atividade física é recomendada para a maioria das gestantes, inclusive para auxiliar na hora do parto

Por: Willian Guerra  -  19/09/21  -  08:37
 A prática de uma atividade física é recomendada para a maioria das gestantes, inclusive para elas terem o preparo necessário para a hora do parto. Mas alguns cuidados são necessários
A prática de uma atividade física é recomendada para a maioria das gestantes, inclusive para elas terem o preparo necessário para a hora do parto. Mas alguns cuidados são necessários   Foto: Adobe Stock

Se engana quem pensa que grávida não pode se exercitar. “Além de fazer bem a ela e ao bebê, a atividade física é super-recomendada para se ter o preparo físico necessário na hora do parto”, explica o médico ginecologista e obstetra Sérgio Floriano de Toledo.


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Mesmo com a garantia científica de que a maioria das gestantes pode se exercitar, é normal se fazer questionamentos às futuras mamães como “Isso não vai fazer mal ao bebê?” e “Esse esforço não pode provocar um aborto?”


Perguntas assim podem gerar medos e desestimular a grávida a se exercitar. Sejam originários do companheiro ou da família, esses julgamentos carregados de preconceito podem impedir que a gestante fique saudável e tenha uma ótima qualidade de vida.


O Brasil possui hoje uma alta taxa de pessoas com sobrepeso e obesidade. Segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde, de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 29,5% delas são obesas.


Enquanto o índice de sobrepeso se mostra ainda mais alto: 62,6%. “Infelizmente, é essa a tendência que vemos no consultório. São pacientes sedentárias e que têm péssimos hábitos alimentares. Isso faz com que, durante a gravidez, a mulher tenha mais cansaço do que o normal, oscilação da pressão arterial e até desenvolva diabetes gestacional”, analisa Toledo.


Para a maioria

Não é novidade para ninguém dizer que a prática de exercícios físicos faz bem. Mas qual o melhor momento para iniciar? Para o médico especialista em saúde feminina, desde criança a mulher pode e deve se movimentar.


Sérgio Floriano de Toledo explica que esse hábito ajuda com que a paciente chegue saudável ao início da gestação, mesmo que a opção seja ter filhos após 35 anos, quando a fertilidade começa a regredir.


O ginecologista e obstetra esclarece que, mesmo que a mulher não tenha um histórico de prática esportiva, ela pode passar a fazer uma modalidade a partir da gravidez. Para isso, é fundamental contar com um acompanhamento médico. “Sabemos que nem todas as grávidas podem se exercitar. Algumas têm uma gestação de risco e precisam ficar em repouso absoluto. Mas é preciso deixar claro que essa condição atinge uma parcela muito pequena das mulheres”.


Montando o treino

Stefanie Veríssimo é uma dessas pessoas que, com o aval do médico e o apoio do marido, foi procurar uma atividade física. Com 28 anos de idade, a professora de educação física encarou a intensidade do cross fit no meio da gestação. “Quando descobri a gravidez, estávamos na segunda onda da pandemia, e tudo estava fechado. Então, busquei adaptar alguns exercícios em casa. Aí, quando houve a flexibilização, ia trabalhar dando aulas de spinning e complementava meu treino com o cross fit”, diz ela, que está na 31ª semana de gestação.


Para o médico Sérgio Floriano de Toledo, o cross fit pode ser praticado pelas grávidas, mas é preciso tomar alguns cuidados. Segundo ele, as cargas utilizadas devem ser leves ou moderadas e o principal é que o educador físico oriente a mulher sobre a intensidade dos exercícios.


Mesmo com o acompanhamento médico adequado e tendo noção dos limites do próprio corpo, Stefanie sofreu duras críticas da família por continuar se exercitando. Nesse momento, o marido foi um dos poucos que confiaram nela e apoiaram a prática de atividade física. “A minha família acha um absurdo. Mesmo sendo da área e tentando explicar, esse preconceito com a mulher grávida ainda é muito enraizado. Já em casa, meu marido deu apoio total e demonstrou confiança em mim”.


Agora, com a barriga já mudando o seu centro de gravidade, Stefanie opta por fazer natação três vezes na semana e atividades em casa, que incluem agachamentos, abdominais e exercícios de pilates.


Repouso forçado

Mas quando o repouso absoluto é necessário de fato? Sérgio Floriano de Toledo explica que essa condição só deve ser seguida quando há doenças ou condições fisiológicas que impeçam a movimentação. “Situações como sangramento, contrações prematuras, pré-eclâmpsia e placenta alta exigem que a gestante fique somente sentada ou deitada”.


Para essas futuras mamães, o repouso é amparado pela legislação, já que o afastamento do trabalho será pela necessidade de cuidar da saúde. Essa gestante tem direito ao descanso remunerado, pago pela empresa e, depois, com cobertura da Previdência Social.


Considerando modalidades

O exemplo de Stefanie Veríssimo e o relato do médico Sérgio Floriano de Toledo comprovam que a maioria das grávidas pode e deve fazer exercícios físicos.


Mas como encontrar a atividade mais adequada para cada estágio da gestação? “Nem sempre o que é bom para uma mulher é indicado para a outra. Acima de tudo, a gestante precisa se respeitar e identificar o que traz prazer para ela. Eu recomendo a caminhada. Somos de cidades litorâneas e a praia é sempre um ótimo cenário para se exercitar”.


O profissional da saúde aponta ainda que dança, pilates, ioga, natação, hidroginástica e a musculação, desde que feita com cargas leves, também são possibilidades ao longo da gravidez.


Professora de pilates, Fernanda Corrêa trabalha com gestantes em seu estúdio. Com cursos de especialização voltados para essas mulheres, ela conta que é possível adaptar o pilates durante todos os nove meses. “Além de ser bom para a saúde da mãe, o exercício passado da forma certa ajuda no encaixe do bebê, facilitando também na hora do parto”, afirma Fernanda.


Fernanda explica que trabalha com alunas depois do terceiro mês de gestação desde que contem com o aval do médico. “Essa liberação é fundamental para que a atividade ocorra sem nenhum risco para a gestante e para o bebê. Para quem era aluna e ficou grávida, os exercícios continuam, mas com uma menor intensidade”, destaca.


Qualidade de vida

Cassia Campi, educadora física e professora do curso de Educação Física da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), também trabalha seguindo esse procedimento. Mãe de dois meninos, acompanha grávidas há mais de 20 anos e endossa o coro de que a gestação não impede a prática de exercícios. Mas ela afirma que, durante a gravidez, não é o momento de a mulher melhorar a performance na academia.


Para Cassia, os nove meses são destinados a dar qualidade de vida para a mãe e para o bebê. “Nesse caso, não é estética. Deve-se esquecer o treino para emagrecimento. Pode-se controlar o peso, manter os músculos para evitar dores e inchaços. Todos esses problemas são amenizados com auxílio do exercício físico”.


Na água

Assim como Stefanie Veríssimo, Cassia também recorreu à água no último trimestre de sua gravidez. Ela reforça que a natação e a hidroginástica funcionam bem para quem já está com barrigão. “A água diminui a força da gravidade e minimiza todos os impactos. Além disso, melhora a circulação, a retenção de líquido e controla mais facilmente a frequência cardíaca”.


Fernanda Corrêa e Cassia Campi observam que, por causa da pandemia, nem todas as futuras mamães se sentem seguras de deixar o lar para entrar em uma academia. Para essas gestantes, as profissionais indicam algumas alternativas: além de fazer caminhada, que pode até ser na quadra do bairro, exercícios simples como agachamentos e abdominais ajudam a preparar a grávida para a hora do parto.


Nasceu! E agora?

Após a longa maratona do nascimento do bebê, a mãe deixa o hospital e vai para casa. A partir desse momento, ela passa pelo puerpério e por mudanças físicas decorrentes da gravidez.


Uma delas é a diástase abdominal. Essa condição acontece quando os músculos abdominais se separam. É mais comum em mães que dão à luz a bebês com peso elevado ou que tiveram uma gravidez múltipla. Como consequência, pode haver uma saliência da barriga, aparentando que a mulher continua com o mesmo corpo da gestação.


O tratamento inclui fisioterapia e a prática de exercícios. No entanto, assim como durante os nove meses de gravidez, tudo depende da liberação do médico.


“Em primeiro lugar, é fundamental que a mulher dê um tempo para que o seu organismo retome o ritmo da pré-gestação. Depois disso, de uma forma geral, quem teve parto natural pode iniciar uma atividade 30 dias depois de o bebê nascer. Já no caso de quem precisou de uma cesárea, esse tempo é mais elevado: de 40 a 60 dias”, detalha o ginecologista e obstetra Sérgio Floriano de Toledo.


Outro problema comum após o nascimento do filho é a mulher se ver em meio a uma depressão pós-parto. Toledo diz que, em paralelo ao acompanhamento psicológico, a prática de atividade física também é benéfica para esse tipo de quadro. “Por produzir endorfina (hormônio ligado à felicidade), o exercício físico contribui para a sensação de bem-estar. Assim, a pessoa se sente bem em vários aspectos, e ocorre inclusive a diminuição da depressão pós-parto”, conclui o médico especialista na saúde feminina.


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