Especialistas pedem atenção para que ansiedade não se transforme em doença

População brasileira é a mais ansiosa da América Latina

Por: Joyce Moysés & Da Redação &  -  09/09/19  -  18:57
Especialistas pedem atenção para que esse comportamento tão comum  não se transforme em doença
Especialistas pedem atenção para que esse comportamento tão comum não se transforme em doença   Foto: Adobe Stock

Acredite: o povo brasileiro é o mais ansioso da América Latina, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Patrícia Widmer, doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professora do Centro Universitário São Judas Tadeu – Campus Unimonte, acrescenta que a ansiedade é um transtorno de saúde mental que tem afetado bastante não apenas o Brasil como o mundo todo, trazendo graves consequências à qualidade de vida e ao bem-estar da população.


No entanto, a psicóloga pondera: “A ansiedade, por si só, não constitui uma doença. Esse ‘estado de alerta’ é parte da nossa subjetividade e teve papel importante na evolução da espécie humana. Ou seja, é natural sentirmos um aumento de nossas expectativas diante de situações que fogem ao habitual, sejam boas novas, sejam dificuldades à vista”.


O psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, supervisor do Programa de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, endossa: “É um comportamento comum, que faz parte do cotidiano, originado pelo nosso sistema de defesa e sobrevivência”.


O problema surge quando essa condição passa a prejudicar a vida da pessoa, em decorrência de uma fragilidade estrutural (por exemplo, uma dificuldade de convivência social ou o apego exagerado a algo) ou, então, devido a uma situação de forte estresse (como sofrer uma demissão, um assalto...).


“A ansiedade patológica está sendo estudada; ela é classificada em nove subtipos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSMV)”, explica Mello, acrescentando que 23% da população mundial apresentarão, pelo menos, um desses nove subtipos durante a vida. Portanto, é preciso atenção para avaliar quando a ansiedade é normal ou patológica, antes de cogitar fazer um tratamento com remédios e/ou psicoterapia. 


Alivie a tensão


O psiquiatra observa que, no Brasil, ainda não se conhece a fundo a(s) causa(s) da progressão da ansiedade patológica. “Podemos pensar na hipótese do nível de desemprego estar elevado e nas dificuldades para se manter com o trabalho e a renda atuais. O estresse causado por esses dois fatores, como também provocado pela redução das perspectivas de futuro profissional, poderiam ameaçar a sobrevivência”, analisa Luiz Vicente Figueira de Mello.


A funcionária de um importante e-commerce de produtos de beleza, que prefere não se identificar, sente-se extremamente ansiosa desde que ouviu nos corredores do escritório conversas paralelas, de que a empresa estaria sendo comprada por uma grande marca do setor. “Ninguém confirma e nem nega. Só nos resta esperar, sem saber o que é fato ou especulação e se o novo dono vai absorver os funcionários”, confidencia a mulher. 


Nesse caso, é quase inevitável sentir ansiedade até que a situação seja oficializada ou desmentida. A orientação dos especialistas, no entanto, é para “descarregar”, aliviar essa ansiedade da espera de alguma maneira (fazendo atividade física e recebendo muito afeto da família, por exemplo), para o caso não se tornar patológico e, inclusive, chegar a afetar a saúde física.


“Os quadros ansiosos incluem desde a dificuldade para manter o foco até insegurança constante, fobias e transtorno do pânico”, comenta Patrícia Widmer.


Conexões e instabilidades 


E como lidar com a ansiedade em um mundo que leva as pessoas a ficarem conectadas o tempo inteiro? De fato, a forma como a sociedade se transformou em função da tecnologia contribui para essa sensação de pressa e vulnerabilidade que eleva o grau de ansiedade de qualquer um. 


Nas palavras de Patrícia: “As redes sociais nos mostram diariamente um quadro belo e falso de vidas repletas de conquistas pessoais, viagens e glamour, fazendo com que sintamos que a grama do vizinho é sempre mais verde do que a nossa. Os mais jovens, por se tratarem de seres em formação, são os mais afetados por essa falsa sensação de fracasso diante do mundo ideal”. A psicóloga complementa que a ansiedade está entre os transtornos mais comuns na adolescência. 


Peso da política


A instabilidade do quadro político do País também tem levado muita gente aos consultórios psicológicos. O principal pano de fundo é este: diante de tamanha polarização de ideias, laços afetivos que anteriormente sustentavam a pessoa vêm sendo rompidos, sem que haja possibilidade de refletir a respeito.


“Realmente há motivos de sobra para elevados graus de ansiedade. Vamos lidando com as dificuldades a partir dos nossos recursos emocionais. Mas, se isso estiver causando sofrimento (e essa percepção é sempre subjetiva), o melhor a fazer é buscar ajuda especializada”, conclui Patrícia.


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