Entenda porque perdoar a si mesmo é mais difícil do que fazer isso com um amigo

Aproveite e encontre a sua medida de responsabilidade para aliviar a culpa e seguir adiante

Por: Joyce Moysés  -  05/10/20  -  00:39
  Foto: Adobe Stock

As pessoas tendem a ser mais duras consigo mesmas do que com os outros por vários fatores. De acordo com Fabíola Luciano, psicóloga clínica especialista em Terapia Cognitiva Comportamental pela Universidade de São Paulo (USP), pode ser uma característica de personalidade. 


É o caso de quem tem uma autocrítica afiada ou uma rigidez nos pensamentos e atitudes que dificulta flexibilizar aquilo que pensa, sente e faz. 


“Quem tem baixa autoestima, necessidade de agradar muito grande ou ainda é perfeccionista ao extremo pode sentir mais dificuldade para dizer ‘nossa, aquilo que eu fiz não foi legal, mas não foi o fim do mundo; então encaro como aprendizado e sigo adiante’, perdoando-se”. Além disso, cada um conhece suas vulnerabilidades, mas nem sempre trabalha para desenvolvê-las e se fortalecer, em vez de se punir.


O psicólogo Rogerio Martins completa que perdoar verdadeiramente os outros e a si mesmo requer maturidade emocional; e concorda ser necessário ter autoestima e amor-próprio.


“Em nossa cultura, somos levados a acreditar equivocadamente que ter autoestima elevada é sinal de soberba, de arrogância. Aprendemos isso durante anos. Portanto, é fundamental virarmos essa chave para nos amarmos mais e nos perdoarmos mais”, afirma ele.


“Quando alguém pisa na bola, você até consegue acionar a empatia para tentar compreender os possíveis motivos do outro de forma menos julgadora. Já quando é consigo mesmo, essa dificuldade de se abraçar e de compreender o contexto (o que levou aquilo) faz com que você se massacre muito mais”, diz a psicóloga, que adiciona outra consequência: a culpa.


Culpa x responsabilidade 
Como lidar na medida ideal com a culpabilização pelas próprias falhas? Fabíola responde: “É difícil encontrar esse limite (ou medida) de até onde se culpar e até onde se perdoar. Ajuda muito entender qual é a minha fatia de responsabilidade naquele fato ou situação. Também se deve fazer uma autocrítica e reconhecer em que a minha atitude não foi bacana. 


O objetivo não é me massacrar e nem ficar repetindo ‘nunca mais’, mas enxergar outros caminhos a seguir, melhores que os atuais”.


A psicóloga estimula os seus pacientes a perceberem que culpa é bem diferente de responsabilidade.


“O primeiro é aquele sentimento doloroso, que a gente fica amargando e pode até passar a nos controlar. O segundo é entender que aquilo não foi bacana e refletir sobre o que fazer diferente da próxima vez, para acertar”, acrescentando ser uma excelente saída para não se aprisionar em certas situações por causa do que já passou.


Rogerio, também escritor e palestrante sobre comportamento humano nas organizações, explica que se trata de um processo. “Começa por compreender nossos limites e separar as situações em três áreas: o que eu controlo efetivamente; o que eu não controlo, mas posso influenciar; e o que eu não tenho controle algum. É necessário exercitar diariamente essa reflexão e agir focando fortemente no primeiro e no segundo itens”, observa.


O próprio Rogerio desenvolve o autoperdão realizando esse exercício: “Faço isso há alguns anos, e os resultados são fantásticos. No início, você pode sentir dificuldade, como eu senti, mas entender que não possui controle sobre tudo e sobre todos é libertador. Também vale a pena reforçar um olhar mais otimista sobre si mesmo, sabendo que nunca vai agradar a todos”, ensina o psicólogo.


Refém do passado
“Não se perdoar faz com que a gente deixe a nossa energia parada naquele lugar ou situação, e fique remoendo a situação mentalmente. Isso nos impede de vivenciar com plenitude o presente. Então, sim, acaba nos prendendo”, avalia Fabíola.


Quem se olhar com honestidade, sem exagerar na autocobrança, para reconhecer o seu melhor e o seu pior, concluirá que fez tudo o que estava ao seu alcance.


Heloísa Capelas, especialista em autodesenvolvimento e inteligência emocional, que escreveu o livro Perdão, A Revolução Que Falta, avisa: “Se não deu certo, como recomeçar? Ao compreender sua humanidade, enxergar e se apropriar de quem você realmente é, com suas falhas e acertos, diminuirá as expectativas de alcançar a perfeição, para abraçar a sua capacidade (e a do outro) de simplesmente fazer sempre o melhor”.


Heloísa, que é CEO do Centro Hoffman e criadora da plataforma virtual Universo do Autoconhecimento, reitera que sem autoconhecimento, amor-próprio e perdão qualquer pessoa pode tender à autopunição e ficar enclausurada dentro de si, repetindo as sentenças “eu não sou bom o suficiente”; “eu não mereço”; “eu não consigo”. 


“A vitimização pós-decepção só atrapalha”, conclui a CEO, acreditando ser melhor entender que há novas tentativas a fazer, e que apegar-se ao passado só atrasa a sua evolução.


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