Entenda o calorão que se aproxima com a menopausa

Ele sobe de repente e faz a mulher transpirar como se estivesse no sol. É sintoma da maturidade; vai ficar tudo bem

Por: Joyce Moysés  -  26/07/20  -  22:00
  Foto: Adobe Stock

“Acabei de me arrumar para um trabalho, mas veio em seguida o fogacho. E o que é o fogacho? É a menopausa, amor! Invadindo o meu corpo, molhando a minha cabeça. Ou seja, estou há horas fazendo uma escova no cabelo, para nada! Tô com fogacho, mas tô feliz, tô animada!”, postou a atriz Claudia Raia, de 53 anos, para seus mais de 6 milhões de seguidores no Instagram, chamando atenção para a maneira como está encarando esse sintoma tão comum do climatério.


Condesmar Marcondes, médico especialista em Reprodução Humana, explica que, em primeiro lugar, é preciso entender o que é climatério. “Ele faz parte do preparo do organismo para a menopausa, que se configura após a mulher ficar um ano sem menstruar. Os ciclos vão se tornando desregulados, junto com a produção hormonal”. 
E o que mais acontece no climatério e na menopausa? 


“Há uma queda importante do hormônio estrogênio, responsável por fazer as mamas ficarem firmes, a pele e o cabelo brilharem; e as pupilas dilatarem no seu pico de produção, na ovulação. Com essa diminuição, pele sem viço e queda de cabelo são algumas das queixas”, detalha o médico.


Como esse hormônio também controla a dilatação dos vasos sanguíneos, a sua falta provoca uma vasodilatação semelhante à de quando uma pessoa está debaixo do Sol e começa a ficar “vermelhona” e suar. Essa é a sudorese do fogacho, de acordo com Condesmar Marcondes. Daí, ser chamado popularmente de onda de calor. “Subitamente, ele vem de baixo para cima, acompanhado de enrubescimento da pele e de uma transpiração excessiva, principalmente no tronco e na cabeça, decorrente da diminuição do estrogênio nos últimos ciclos menstruais da mulher, caracterizando o climatério”, reforça a ginecologista Vivian Marçal.


Essa é a razão de a mulher sentir como se subisse internamente um calor, parecendo pegar foto no rosto, junto a transpirar na região dos seios até o cabelo.


“Cada um desses episódios dura aproximadamente de dois a quatro minutos e ocorre diversas vezes ao dia. É comum à noite, prejudicando o sono e contribuindo para uma maior irritabilidade, cansaço durante o dia e diminuição na capacidade de concentração. Sabe-se que 87% das mulheres sintomáticas têm episódios diários de fogacho, e 33% delas apresentam mais de dez episódios por dia”, avisa a ginecologista. São efeitos desconfortáveis, mas que não devem tirar a energia e a alegria de viver.


Vida longa
As mulheres ganharam 30, 40, 50 anos de longevidade, e elas precisam aproveitar isso. É o que a atriz Claudia Raia procura fazer. Ela serve de exemplo de que a mulher não deve reduzir as suas atividades. Pelo contrário. “Como médico, um dos sinais de menopausa que me importa, após investigar como estão as dosagens hormonais da paciente, está relacionado à osteoporose, pois o estrogênio influencia a osteopenia (redução do cálcio nos ossos) e facilita fraturas ósseas”, observa Condesmar Marcondes.


É importante que a mulher na faixa dos 50 tenha acompanhamento de um ginecologista, e faça exame de densiometria óssea e, eventualmente, reposição de vitamina D. “E é óbvio que esse profissional alertará sobre outro efeito colateral dessa mudança hormonal, que é a perda de massa muscular. Mas, se a mulher fizer atividades físicas como corrida na rua ou na esteira, aulas de step, pular corda, musculação, isso vai impactar positivamente na sua parte óssea”, aponta o médico.


Repor ou não?
Dúvida comum é se deve-se fazer a reposição hormonal. Para decidir, é essencial a mulher saber se pode fazer isso. Caso tenha antecedentes de câncer de mama ou problemas hormonais importantes, ela deve buscar outros caminhos. “Fazer atividade física – e nisso a Claudia Raia dá grande exemplo – é o mais relevante. 


Há repositores específicos para combater a osteoporose: os alendronatos, com um comprimido para tomar uma vez ao mês. Mas tudo isso deve ser estudado caso a caso pelo médico, sabendo-se que climatério e menopausa, com fogacho e sua desconfortável sudorese, hoje em dia, não impedem as mulheres de seguirem em frente, pois são contornáveis. E o organismo vai se adaptar; levando embora aquele calorão”, diz o médico.Ele, inclusive, reafirma que, de tudo citado acima, seu principal conselho é praticar musculação e atividade aeróbica


O ginecologista costuma orientar o melhor jeito de tratar o fogacho e outros sintomas do climatério e da menopausa com medicamentos fitoterápicos, dieta ou hormonioterapia, junto com a prática de atividade física. O que é certo: “A mulher terá uma boa qualidade de vida adequando o tratamento ideal aos seus sintomas individuais”, acrescenta Vivian.


 Polêmicas à parte
“A terapêutica hormonal (TH) da menopausa envolve uma gama de hormônios, além de diferentes vias de administração, doses e esquemas. Na última década, apesar das inúmeras controvérsias, a TH é considerada o tratamento mais eficaz para os sintomas vasomotores decorrentes da falência ovariana; e os benefícios superam os riscos para a maioria das mulheres sintomáticas com menos de 60 anos de idade ou dentro do período de dez anos da pós-menopausa”, diz Vivian.


Os riscos e benefícios desse método variam nas mulheres durante a transição da menopausa em comparação com aquelas mais velhas. “O início da TH em mulheres com mais de dez anos de pós-menopausa pode associar-se ao aumento no risco de doença cardiovascular (DCV). Entretanto, se adotada na peri e pós-menopausa inicial, a TH pode diminuir esse risco cardiovascular”, alega a médica, acrescentando tratar-se do conceito chamado de janela de oportunidade.


Os especialistas entrevistados informam que, embora a terapia hormonal permaneça como o tratamento mais eficaz para os sintomas vasomotores, o interesse por outras formas de tratamento se mostra cada vez mais relevante, especialmente nas condições de saúde em que os estrogênios e os progestogênios são contraindicados, ou para mulheres que não desejam se submeter à TH.


As opções incluem técnicas comportamentais, métodos psicocorporais, controle dietético e uso de suplementos e prescrição medicamentosa. Portanto, há como lidar com as ondas de calor!


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