Demitidos na Baixada Santista durante a pandemia se recolocam no mercado de trabalho

Conheça histórias de profissionais da região que conseguiram uma nova vaga de emprego

Por: William Guerra  -  14/03/21  -  13:14
Laís conseguiu se recolocar após mandar muitos currículos
Laís conseguiu se recolocar após mandar muitos currículos   Foto: matheus tagé

“...Toda pedra no caminho, você pode retirar...”. O trecho da canção É preciso saber viver, eternizado por Roberto Carlos e pela banda Titãs pode servir como guia e instrumento de esperança para milhões de brasileiros.


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Excepcionalmente para 14,1 milhões, que estão longe do mercado de trabalho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde o início da pandemia de Covid-19, quase dois milhões de profissionais aumentaram a fila do desemprego. Mas calma. O mercado não está
totalmente excludente e as contratações ganham cada vez mais força.


Marcelo de Oliveira e Laís Santos de Souza são exemplos de que contratações estão voltando com força. Químico especializado em sistemas de qualidade, Marcelo, 51 anos, foi surpreendido com o desligamento de uma empresa da Baixada Santista em março de 2020, após 32 anos de casa.


“Vinha em um processo de ascensão, com acúmulo de função e fui designado a montar um departamento de analítica. Estava tudo bem. Um belo dia me chamaram e disseram que meu ciclo com a empresa estava se encerrando.”


O sentimento de tristeza e a falta de uma explicação convincente para a demissão também fazem parte da história de Laís. Aos 30 anos, mãe e com o marido trabalhando como motorista de aplicativo, ela experimentou ainda uma sensação de traição profissional. Formada em administração, Laís conta
que deixou seu emprego anterior para assumir um novo projeto. “Eu estava empregada e pedi demissão em janeiro de 2020. No começo da pandemia, os meus ex-chefes me deram férias e chegaram a suspender meu contrato. Quando voltei, após oito meses de trabalho, me dispensaram.


Eles sabiam da minha situação e que tinha pedido demissão para me juntar a esse novo projeto”, lembra a jovem.


Sentimento de luto


Ser demitido dói. O profissional perde não só financeiramente. A dor é sentida na alma. Tratar a demissão com rancor e mágoa da empresa também são sentimentos permitidos nessa fase. “O impacto financeiro é grande, mas o pessoal é extremamente doloroso. Me sinto mal por tanta dedicação e pela
forma como foi feita a demissão”, desabafa Marcelo, que, com 51 anos, se questionou se conseguiria uma recolocação na área de atuação. “Não importa quantos passos você deu para trás, o importante é quantos passos agora você vai dar pra frente.” O provérbio chinês é o combustível para aqueles que estão sem trabalho nesse momento. No entanto, para levantar a poeira e dar a volta por cima, é preciso encarar a realidade.


A psicóloga especialista em carreira, Deborah Franco explica que receber a notícia do desligamento se assemelha ao luto pela perda de um parente. “Imagina passar 10, 20 ou 30 anos em uma mesma empresa? Coloca isso em dias e horas. Em muitos casos, as pessoas passam mais tempo com os
colegas de trabalho do que com a própria família. Com a demissão, do dia pra noite essa relação é cortada. Por isso o sentimento de luto é normal”, explica a psicóloga.


Todo luto é acompanhado de etapas. Para superar é preciso encarardiferentes fases. A primeira é a da negação, quando nós não aceitamos a demissão. Logo depois vem a raiva. Questionamos o motivo dodesligamento, apesar da dedicação e excelência oferecidas. Na sequência surge a depressão. Nessa etapa, é comum sentir que somos insuficientes para um cargo ou para uma recolocação. Fechando o ciclo, vem a aceitação. Com ela, reunimos força e damos o primeiro passo para abrir uma nova porta.


“Independente da fase pela qual esteja passando, é preciso manter a calma. Entenda que esse momento é provisório. Se houver desespero, as coisas podem piorar e não será possível colocar a cabeça em ordem. Nós sabemos que não está fácil arrumar um emprego, mas se você acreditar que está difícil uma recolocação, mais difícil ela será”, aconselhou Deborah Franco.


O tempo de superação do luto do desemprego é variável. Alguns conseguem lidar de forma leve e em poucos dias reúnem forças para seguir adiante. Já outros têm maior dificuldade e nem sempre conseguem se reerguer sozinhos. Nessas horas, a ajuda de um psicólogo pode ser crucial.
Passado o luto, começa a busca pelo novo emprego. Alguns preferem distribuir currículos. Já outros usufruem dos contatos obtidos ao longo da carreira para conseguir uma recolocação. Nesse período, também éimportante investir na área acadêmica. Buscar cursos de qualificação ajudam a encorpar o currículo.


O retorno ao mercado
Uma pesquisa realizada pela empresa de consultoria empresarial Deloitte apontou que 9% dos empresários brasileiros pretendem reduzir o quadro de funcionários de suas companhias em 2021. O estudo feito em novembro do ano passado com mais de 600 empresas do país mostrou ainda que só 44%dos empresários responderam que podem contratar novos profissionais em 2021.


Laís já entrou para essa estatística. No início de fevereiro, ela foi contratada por uma empresa de contabilidade de Santos e atua na função de auxiliar de legalizações. “Logo que fui demitida, me movimentei e decidi assinar um site que reúne vagas de emprego. Entreguei centenas de currículos e consegui a recolocação no início desse ano.”


Já Marcelo de Oliveira se beneficiou de contatos feitos durante a carreira para retornar ao mercado. Em outubro, sete meses depois da demissão, ele foi convidado a trabalhar em projetos de demolição de fábricas no país. “Esse trabalho está vinculado a minha antiga empresa. Entenderam por me chamar
pelo meu conhecimento das normas e padrões existentes. Mesmo não sendo algo fixo, a ideia é fazer um bom trabalho e esse serviço continuar.”


Essa volta de parte dos profissionais ao mercado já é refletida na economia. Em dezembro de 2020, as nove cidades da Baixada Santista mais contrataram que demitiram trabalhadores. Foram 9.947 contratações contra 8.125 desligamentos, resultando em um saldo positivo de 1.822 vagas, de
acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério da Economia.


Se preparar para vencer Conquistar uma vaga no mercado de trabalho não é fácil. Com as empresas
cada vez mais exigentes no processo seletivo, cabe aos profissionais se aperfeiçoarem. Além de cursos de qualificação, conhecer a empresa na qual você está tentando a vaga é tão importante quanto os certificados do seu currículo.


O gestor de RH, Allan Lopes aponta que o processo seletivo começa muito antes do que o profissional pensa. Ele explica que até mesmo o modelo de currículo no qual você montou suas habilidades é avaliado pelos recrutadores. “As empresas olham, por exemplo, se um candidato teve ocuidado de fazer o currículo ou então produziu um arquivo ‘.pdf’ através do LinkedIn. Ao olhar ambos os currículos, o recrutador vai ter uma noção dequem são esses profissionais. Geralmente quem optou por produzir um ‘.pdf’ tende a ser mais acomodado e preguiçoso que aquele que dedicou tempoelaborando o seu currículo”, avalia Allan.


Enviado o currículo e obtendo uma resposta positiva para uma entrevista,começa a etapa de estudo da empresa. O gestor de RH conta que muitas pessoas cometem o erro de ir para uma entrevista sem ao menos conhecer ahistória do grupo no qual ele está tentando fazer parte. Nessa hora, é fundamental ler sobre a companhia e procurar saber tudo o que for possível sobre o cargo em questão. “Ter essas informações vai te tranquilizar naentrevista e ainda causa um impacto positivo no recrutador. Muitas pessoassão reprovadas no processo seletivo por não conhecerem as empresas que buscam entrar”


Defeitos e qualidades; comportamento e até mesmo a imagem. Na etapa final do processo seletivo, quando o recrutador conversa com você, todos esses pontos precisam estar acertados. Seja uma entrevista presencial ou virtual, o profissional deve utilizar um traje alinhado com as ideias da empresa. Tente também não demonstrar nervosismo balançando as pernas ou ficar com
mãos inquietas. “Algumas perguntas óbvias serão feitas, como por exemplo “porque essavaga é sua?”; “quais são seus maiores defeitos e qualidades?”. Essas questões serão abordadas na entrevista e você precisa saber para responderde imediato. Se prepare e estude para não chegar nessa etapa com muita ansiedade”, recomenda o gestor de RH.


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