Cuidado com a pressão

A cobrança excessiva para ser produtivo pode oferecer riscos, ainda mais no momento atual. E as mulheres são as que mais sofrem nessa hora. Veja formas de lidar com isso

Por: Joyce Moysés  -  31/05/20  -  20:44
  Foto: Adobe Stock

Há pessoas se inscrevendo em muitos cursos on-line para aproveitar que estão abertos gratuitamente, pondo de pé projetos, fazendo reuniões diárias por vídeo, vivendo um surto de produtividade. Há também aquelas que desejam o contrário: tornar esse período de confinamento mais leve e humano. Seja porque não conseguem se concentrar direito, seja porque temem ficar doentes (inclusive emocionalmente) ou o trabalho que realizavam antes foi interrompido. 


Portanto, vale aproveitar o que uma pesquisadora com experiência em ambientes adversos (como extrema pobreza, conflitos religiosos, desastres) aconselhou a colegas acadêmicos e amigos com a quebra da rotina provocada pelo novo coronavírus:  ponderar a pressão para ser produtivo agora. Em seu artigo para a revista americana Chronicle of Higher Education, Aisha S. Ahmad contou que o que vê por trás dessa busca pela produtividade é uma suposição perigosa. 


A professora-assistente de Ciências Políticas da Universidade de Toronto, no Canadá, afirma que a pandemia é como guerra, deixa um legado que seguirá com as pessoas por muito tempo. E que o melhor a fazer é preparar-se emocionalmente para ser mudado para sempre. 


Ela divide seu conselho em três estágios: segurança (cuidar do sono, alimentação, afetos...); seguido de modificação mental (em vez de focar em performance, trabalhe com autenticidade, resiliência, no seu ritmo individual, para ter novas ideias); o terceiro estágio é abraçar o “novo normal”, de modo que você se sentirá mais preparado para uma crise que ninguém sabe quanto tempo vai durar e, assim, estará pronto para se reinventar, de fato.


Faça o que faz bem. Para o roteirista e jornalista Ricky Hiraoka, manter-se vivo já é tarefa complicada o suficiente na atual conjuntura. E se existe alguém que sempre produziu em ritmo acelerado, essa pessoa é a empresária Ana Fontes. Filha de uma costureira e de um torneiro mecânico, fez carreira na indústria automotiva até que decidiu empreender em 2007 e depois fundou a Rede Mulher Empreendedora (RME), que hoje apoia 500 mil brasileiras. Ana também desenvolveu o programa de capacitação Ela Pode, em parceria com o Google, e ensinou durante seis meses, em 2019, cerca de 10 mil mulheres a empreenderem, negociarem e serem felizes. 

Ela avalia que, em tempos tão difíceis como os que estamos vivendo, as mulheres são mais cobradas a darem conta de tudo perfeitamente: “A sociedade espera que elas continuem maravilhosas nas fotos, façam ginástica, toquem seu negócio sem deixar de ajudar os filhos nos estudos. Que cuidem da casa e da família, informem-se sobre os cuidados com a saúde e ainda estejam bem emocionalmente, para segurar a onda da turma toda”.


Ana enfatiza que ninguém precisa estar bem o tempo inteiro e nem ser Mulher-Maravilha ou Super-Homem. “Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza. Nós não precisamos ser megaprodutivos. E se você puder dar um conselho a uma mulher, diga para não aceitar cobranças malucas e se cuidar”. 
 


Um tempinho para ouvir. O palestrante e comunicador corporativo Márcio Mussarela encontrou a sua forma de “pegar leve”. Separou uma parte do dia para apenas ouvir as pessoas (amigos, colegas, clientes, alunos, mentorados etc.) e saber como estão lidando com a pandemia. 


“Isso tem me ajudado e acredito que a eles também. Às vezes, uma dica simples, que a gente considera boba ou até óbvia, pode ser a solução que alguém está precisando”.


Mussarela começou a pedir que as pessoas contassem algum aprendizado, truque ou prática que tiveram utilidade na sua nova rotina até agora. Algo positivo, inovador ou simplesmente reconfortante. “Vale qualquer coisa, por mais simples que pareça. Pode ser algo profissional, familiar, pessoal, não importa. Quem sabe assim podemos criar um compilado de dicas que poderá ajudar outras pessoas a se reencontrarem no meio de tanta incerteza. Não está tudo bem, mas tudo bem, isso vai passar”.Afinal, ouvir as pessoas é um propósito que ajuda a preencher a alma nesse momento. Preenche tanto a de quem ouve quanto a de quem fala. “Muitas vezes, nos encontramos no outro. Por isso, incentivo: fale com alguém agora. Não precisa ser algo profundo, nem de trabalho. Só esteja lá para essa pessoa”, conclui o palestrante.


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