Copa do Mundo de futebol feminino traz mudanças no esporte

Após competição, jogadoras deixam mensagem importante

Por: Joyce Moysés & Colaboradora &  -  05/08/19  -  18:50
  Foto: Arte/ AT

A Copa do Mundo de futebol feminino acabou, mas sua grande repercussão demonstra uma quebra de paradigmas. Estádios quase sempre cheios, recordes 
de audiência nas tevês de vários países, cobertura intensa da mídia, olhos e corações torcendo pelas jogadoras... 


A mensagem que mais se ouviu no  da França foi “Equal Pay! Equal Pay”, que significa em português “pagamento igual, pagamento igual”. Que esse recado seja inspirador não só no combate ao abismo salarial entre atletas homens e mulheres como também na luta contra as disparidades na remuneração em outras atividades profissionais – por exemplo, nos meios artístico (quantas atrizes e diretoras já reclamaram de ganharem menos do que colegas homens?!) e corporativo (persistem pesquisas mostrando essa desigualdade também nas folhas de pagamento das empresas), conforme foi discutido na quinta edição do Fórum Gestão da Diversidade e Inclusão, ocorrida em junho último.


Nas redes sociais, muitas mulheres escreveram mensagens como estas: “Mulheres fortes e resilientes, estamos com vocês” e “90 minutos suando, correndo, fazendo gol e com o batom intacto...” O que se percebe é orgulho da seleção brasileira de futebol feminino capitaneada pela maior artilheira em copas, Marta, que dedicou esse recorde a todo o universo feminino. 


Muitos se emocionaram. Entre elas, Sarah Buchwitz, que é vice-presidente de Marketing e Comunicação da Mastercard Brasil e Cone Sul, empresa incentivadora do futebol feminino faz 25 anos. “Acreditamos que toda manifestação em prol de igualdade (de gênero, etnia, credo, raça, deficiência...) é positiva. As jogadoras enviaram uma poderosa mensagem ao mundo dos esportes. É o momento oportuno para se investir, já que essa é a maneira mais direta de aportar os recursos necessários no esporte feminino”, avisa Sarah.


Qual é, qual é / Futebol não é pra mulher? / Eu vou mostrar pra você, mané / Joga a bola no meu pé... Criada pela jogadora Cacau, do Corinthians, e a ex-jogadora Gabi Kivitz, a música virou hino da seleção brasileira feminina, enterrando de vez a discriminação. Até 40 anos atrás, mulheres eram proibidas de jogar futebol por decreto-lei, sob o argumento de o esporte ferir a “natureza feminina”. OK, foi uma modalidade estereotipada, mas já passou da hora de virar esse jogo, na visão de Cris Kerr, CEO da CKZ Diversidade, criadora do Fórum Gestão da Diversidade e Inclusão e do Fórum Mulheres em Destaque, cuja nova edição ocorre em 27 e 28 de novembro. 



Para tudo, que a bola está rolando!


“Esse destaque que o futebol feminino está tendo mostra o protagonismo da mulher, e pode ser considerado um providencial exemplo de que nós podemos, sim, ser o que quisermos. Precisamos cada vez mais de modelos e referências mentais para as mulheres. Então, esse avanço é de extrema importância, principalmente para abrir a cabeça das meninas e das novas gerações”, analisa Cris, que é professora de Diversidade na Fundação Dom Cabral e mestre em Sustentabilidade pela Fundação Getulio Vargas.


“Também precisamos cada vez mais desse incentivo para mostrar que apoiar o futebol feminino é relevante à sociedade como um todo. O mesmo comportamento que a população tem para assistir ao futebol masculino também precisa ocorrer no feminino”, continua a mestre. Nesta Copa do Mundo na França, muitas empresas já deram o primeiro passo e incentivaram suas equipes a assistir aos jogos em pleno expediente, lembra Cris. 


“No entanto, não adianta apenas colocar TV e bandeiras na empresa. Os líderes precisam dar o exemplo, parando o que estão fazendo para assistir ao protagonismo das mulheres”, observa a expert. 


Mais sereias na Baixada Santista


A cidade de Santos é referência e segue investindo no futebol feminino, com bons frutos para o time Sereias da Vila. Alessandro Rodrigues, gerente-executivo de futebol feminino do Santos Futebol Clube, sabe da importância de se pensar na formação de atletas também na base feminina e se diz motivado ao constatar no dia a dia como esse esporte transforma a vida dessas meninas. 


“O Santos é um formador por excelência, dá visibilidade ao futebol feminino há alguns anos, inclusive mantendo uma equipe profissional bastante competitiva – e que já caiu nas graças da nossa torcida. Os grandes públicos que tivemos aqui, em algumas ocasiões, deixam isso claro”, avalia Rodrigues, confirmando que o futebol feminino se tornou um “xodó” da maioria dos santistas.


Hoje, o clube mantém uma categoria de base, atrelada a um projeto social que visa permitir a todas as meninas que queiram jogar futebol ter onde praticar, deixando claro que dar o acesso é muito importante para que o time Sereias da Vila continue tendo resposta positiva dentro de campo. 


“Nossos dois principais desafios são: continuar com essa estrutura para trazer equipes competitivas que possam lutar por títulos; permitir nas categorias de base que o maior número possível de meninas possa praticar esse esporte apaixonante. Quanto mais jogadoras, mais mercados haverá e maior visibilidade e reconhecimento o futebol feminino vai ter”, diz. 


Empolgados também estão os torcedores das Sereias da Vila com a recente contratação da craque argentina Sole Jaimes até o final da temporada de 2019. Sim, a artilheira e campeã brasileira com o Santos Futebol Clube no ano de 2017 está de volta ao time. E ela esteve na Copa da França.  Sole Jaimes comenta este momento: “Espero que a modalidade continue a crescer dia a dia, que o Mundial seja mais um passo nesse desenvolvimento, e que sigamos dando a importância de que o futebol feminino precisa. 


É superlindo ver a repercussão na imprensa e perceber que toda essa gente que nos rodeia passa a nos ver com outros olhos. Por ser mulher jogando futebol, já fui  muito criticada. Hoje em dia, isso está mudando; e que assim continue, para melhor”.


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