Casa Vó Benedita auxilia na reinserção de crianças e adolescentes na sociedade

Presidente da Casa relembra momentos marcantes dos 41 anos dedicados à entidade

Por: Stevens Standke  -  17/01/19  -  11:05
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

Para Elizabeth Rovai de França, parece que foi ontem que ela começou como voluntária da Casa Vó Benedita. Mas já se passaram 41 anos de muita luta e dedicação às quase 1.660 crianças e adolescentes que frequentaram a entidade santista desde sua fundação em 1976. Com certeza, não faltaram histórias tristes e até chocantes, mas também houve um monte de finais felizes e emocionantes, como afirma a presidente da casa.


Ao longo do tempo, Beth, que está com 66 anos, ainda teve a chance de acompanhar mudanças que melhoraram a forma como os conselhos tutelares atendem denúncias e, para sua alegria, viu a população deixar de procurar apenas crianças de, no máximo, 2 anos para adotar. Na entrevista, ela, que tem três filhos (um adotado na Casa Vó Benedita), relata também as dificuldades financeiras da entidade e fala do seu trabalho paralelo no grupo de adoção santista Direito de Recomeçar.


Há quanto tempo a senhora atua na Casa Vó Benedita?


Entrei como voluntária há 41 anos e, desde 1992, sou presidente. Quando comecei a ajudar, junto com meu marido, trabalhava na Cosipa. Com colegas da empresa, organizei uma sacolinha de Natal e foi assim que conheci a Benedita (de Oliveira). Ela ainda era viva, faleceu mais tarde, em 1984, aos 63 anos, de infarto. Sem a avó, os voluntários decidiram assumir a casa, montar uma diretoria, da qual fiz parte, e providenciar documentos para a entidade, que funcionava desde 1976, mas não contava com um registro oficial.


É comum ser chamada para atender casos urgentes?


Isso não ocorre mais. Antigamente, o Conselho Tutelar registrava a denúncia e logo tirava a criança da família. Hoje, o processo está bem diferente, melhor. Primeiro esgota-se todas as possibilidades dentro da família e apenas se não houver nenhum parente que possa assumir a guarda da criança é que ela vai para o abrigo e para adoção. Em Santos, ainda existe mais um estágio antes disso, o programa Família Acolhedora.


Presidente da Casa fala sobre seu trabalho na entidade
Presidente da Casa fala sobre seu trabalho na entidade   Foto: Alexsander Ferraz/Jornal A Tribuna

Como ele funciona?


A família que quer cuidar temporariamente de um bebê que espera pela adoção se inscreve no programa, recebe treinamento e, quando necessário, é acionada. Assim, o bebê deixa de passar pelo abrigo, porque a convivência familiar é, sem dúvida, melhor. Na realidade, os abrigos não deveriam existir. Mas eles são um mal necessário. Por mais que a gente trate bem as crianças, não tem como substituir a família. Não importa a idade, todas as crianças e adolescentes desejam ter uma família. E nós trabalhamos em prol desse direito, lutamos para recolocar a pessoa na sociedade, seja retornando para sua famíliabiológica, desde que fique bem com isso, ou sendo adotada.


Que tipo de criança costuma dar entrada na casa?


No passado, recebíamos vários casos de crianças abandonadas, por exemplo, no mato, em terreno baldio, em banco de igreja, no corredor do prédio. Também eram comuns situações de maus-tratos, como criança queimada por isqueiro ou cigarro, usada de escudo durante briga dos pais. Algumas chegavam com a cabeça quebrada, o quadril deslocado. Lembro de um pai que, por precisar de dinheiro, tentou vender o filho no ponto de ônibus. As pessoas chamaram a polícia e a criança acabou abrigada. Hoje, a gente praticamente não recebe mais casos de abandono e maus-tratos na Casa Vó Benedita. Talvez por falta de denúncia ou devido à mudança nos procedimentos do Conselho Tutelar, que expliquei anteriormente. O perfil recorrente agora é o da criança que vem de uma família desestruturada em que o pai, a mãe ou os dois têm problemas com drogas e negligenciam cuidados. Infelizmente, já vi situações em que os filhos repetiram o histórico de dependência dos pais.


Como anda a fila de adoção?


As preferências encaminhadas ao fórum melhoraram muito. Antigamente, as pessoas queriam apenas bebês. Hoje, a maioria busca crianças de até 2 anos. Mas o leque vem se abrindo. Muita gente pega a guarda de crianças em outras faixas etárias – sendo que de 5 anos para cima já é uma idade considerada tardia para adoção. As pessoas que estão na fila do fórum também passaram a aceitar irmãos, quem tem HIV, doenças tratáveis. Só que, em Santos, reparo que quase não há demanda por adolescentes.


A entrevista completa você confere na edição do dia 13 de janeiro de 2019 da AT Revista.


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