Brasileiros aderem à cultura pop asiática

Cresce o interesse pela cultura do Japão, da Coreia do Sul e dos demais países do continente. Essa paixão ainda inspira experiências gastronômicas, viagens e novos cursos

Por: Isabela dos Santos & Colaboradora &  -  22/07/19  -  13:34
Fã de k-pop, Gabriel Melo Ferreira criou no YouTube o canal Kpopper ou Não
Fã de k-pop, Gabriel Melo Ferreira criou no YouTube o canal Kpopper ou Não   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

A cultura pop asiática tem conquistado um número cada vez maior de fãs. O início dessa febre se deu com o Japão, de onde importamos, principalmente, um monte de mangás e animes a partir dos anos 80. Recentemente, coube à Coreia do Sul reforçar a influência oriental por aqui, com o fenômeno do k-pop (música pop coreana) e o boom das suas novelas com histórias fofinhas, que podem ser conferidas em plataformas como a Netflix, e abrem as portas para as pessoas conhecerem produções do mesmo tipo, feitas em outros países da Ásia. Todas elas recebem o rótulo de doramas, mas, dependendo da sua origem, podem ser chamadas de k-dramas (quando são coreanas), j-dramas (japonesas), c-dramas (chinesas), thai-dramas (tailandesas) e tw-dramas (de Taiwan).


Aliás, a China também tem papel importante nessa onda asiática. Além de se interessarem pelas tradições do país, as pessoas procuram cada vez mais estudar o mandarim, especialmente pela relevância econômica da nação. 


Tudo isso acaba impulsionando o turismo na Ásia. Basta ver que seis cidades do continente aparecem entre as dez mais visitadas no mundo. Hong Kong, na China, lidera pelo segundo ano consecutivo o top do Euromonitor, um dos maiores centros de análises de dados do planeta.


O desenhista João Luís, de Bertioga, 23 anos, faz parte do grupo que começou a curtir a cultura asiática durante a infância, pelos animes. E até hoje, é comum vê-lo com uma blusa estampada de algum desenho japonês. 

João se inspira em traços orientais para desenhar (Foto: Arquivo Pessoal)


“Dos animes fui para os mangás, porque gosto mesmo é de ler. As primeiras histórias em quadrinhos japonesas que li foram Os Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball. Lembro que comecei a ler na ordem errada e não entendia nada do que estava acontecendo. Aí, percebi que a leitura devia ser feita de trás pra frente”, conta sobre as obras que continuam servindo de inspiração para criar as suas próprias narrativas.


“Tenho em torno de cinco histórias prontas. Não são tipo série, como os mangás costumam ser. Faço a denominada one shot, com começo, meio e fim. A leveza dos traços chama a atenção nos mangás. Gosto das técnicas de rashura (riscos) e dos efeitos com tons de preto e cinza”.

João também é adepto ao preto e branco presente nos mangás (Foto: Arquivo Pessoal)


No ano passado, João Luís participou do Brazil Manga Awards – Prêmio Brasileiro de Mangás, com a história (E)vocado, sobre uma gárgula que perde seu mestre e sai por um mundo medieval à procura de significado para a vida. Agora, o desenhista pretende participar do Silent Manga Awards (SMA), competição de produções sem fala, julgadas por nomes importantes do mercado. 


No youtube


Já o estudante de audiovisual Gabriel Melo Ferreira, de Guarujá, 21 anos, transformou a paixão por k-pop em um canal do YouTube: o Kpopper ou Não, onde, desde 2014, fala sobre a vida dos grupos de idols (artistas coreanos).

Gabriel possui o canal no YouTube chamado Kpopper ou Não, com mais de 78 mil inscritos (Foto: Vanessa Rodrigues/AT)


Ele relembra o sucesso da música Gangnam Style, do cantor e rapper PSY, que bateu vários recordes e foi o primeiro coreano a receber um troféu na badalada premiação norte-americana Billboard Music Awards, em 2013, na categoria Top Streaming Song.


Atualmente, dois grupos de k-pop dominam a atenção do público: o BTS (Bangtan Boys), formado por sete rapazes que, em suas músicas e videoclipes, exploram o conceito de trabalho em equipe. E o BLACKPINK, composto por quatro mulheres que fazem questão de cantar sobre o poder feminino.


Eles também são responsáveis por quebrar recordes. O BTS foi o primeiro grupo coreano a se apresentar no American Music Awards (AMA), com o single DNA, em novembro de 2017. As meninas do BLACKPINK foram as primeiras idols coreanas a subir, em abril deste ano, ao palco do Coachella, festival dos EUA cobiçado por artistas do mundo inteiro.


Para Gabriel, o que chamou a atenção no jeito coreano de fazer música foi o fato de ter muita gente nos grupos, além de os integrantes dançarem e cantarem ao mesmo tempo e de os clipes serem bem produzidos. “Fui percebendo que para isso os integrantes precisam estudar e se dedicar muito. Na indústria do k-pop, há todo um processo para se tornar um artista, fora o posicionamento das empresas que cuidam dos grupos”, explica o youtuber, que abriu o canal junto com o amigo Elias.


Aprofundando a paixão


Muitos fãs de k-pop acabam indo atrás de mais informações sobre a Coreia do Sul e experimentam sua gastronomia, estudam o idioma... Isso quando não decidem fazer uma viagem para lá ou mesmo um intercâmbio. Segundo a EF, que oferece programas para o país, de 2017 para 2018, a procura por intercâmbios na nação asiática subiu 299%. A faixa etária principal é dos 16 aos 24 anos (78% dos casos). 


Quem teve a oportunidade de visitar a Coreia do Sul e aprender sua língua foi o santista Everton de Oliveira Batista, de 24 anos. Ele dá uma dica para os interessados em ir para lá: “O governo coreano tem parceria com o nosso e oferece bolsas de estudos para graduação. Geralmente, o brasileiro aprovado fica um ano só estudando coreano para poder acompanhar as aulas que terá na universidade. Só que, se a pessoa já conhece o idioma e faz logo a prova de proficiência, fica ainda mais fácil conseguir a bolsa e começar a graduação direto”. 

Everton tornou-se professor de coreano, após viajar para a Coréia do Sul e aprender o idioma (Foto: Vanessa Rodrigues/AT)


Graças ao domínio do coreano, Everton ainda conquistou espaço no mercado de trabalho. Atualmente, é professor da língua em uma escola de Santos. “Eu não me imaginava fazendo isso”, comenta ele, que, agora, estuda mandarim.


Na estrada


Nas idas e vindas para a Coreia do Sul, Everton aproveitou para visitar a Tailândia e a China. 


Em breve, pretende desbravar outras nações asiáticas, como Japão e Vietnã. E, iguais a ele, muitos jovens querem mais é abrir os horizontes na hora de cair na estrada.


Para Alexandre Nunes Afonso, empresário e professor de Turismo da Universidade Paulista (Unip) em Santos, “os países asiáticos, como Tailândia e Vietnã, são categorizados no turismo como destinos exóticos pela questão cultural e sobretudo pela sua geografia, que os distingue dos tradicionais como, França e Estados Unidos. 


Esses lugares mais inusitados são bem valorizados pelos jovens, pois a geração dos millennials costuma buscar viagens que fogem do convencional”.


Que o diga a intercambista húngara Gitta Boros, de 18 anos, que já viajou para diversos países. Ela está em Santos há quase um ano e, em abril, iniciou o curso de mandarim, para poder se preparar melhor para desbravar o continente asiático. “Eu estou gostando bastante. Acho que não é tão difícil como parece. No começo, é meio estranho, mas a gente se acostuma e, quanto mais você sabe, mais fácil fica a língua. No Brasil, percebi que as pessoas ficam impressionadas quando mostro que sei falar português. Na Polônia também, apesar de só conhecer algumas palavras em polonês”. 

Gitta pretende visitar os países asiáticos em sua próxima viagem (Foto: Arquivo Pessoal)


Após terminar a sua estadia no Brasil, no final deste ano, Gitta quer seguir para a Ásia. A sua primeira parada será a China. “A cultura asiática, na minha opinião, é muito curiosa, porque se mostra diferente de tudo o que a gente está acostumado. E eu gosto de ver outros jeitos de viver, como as pessoas pensam em outras realidades”, detalha a intercambista húngara. 


Um dos principais interesses dela é conhecer melhor a culinária asiática. “Gosto muito de lámen, sushi e kimchi (prato típico coreano, uma espécie de conserva de vegetais). Também sou fã de pimenta, que é uma coisa comum nesse continente. Acho que vou me dar bem por lá”, finaliza Gitta, entre risos.


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