BBB nas empresas: home office aumenta monitoramento de funcionários

Trabalhar em casa faz com que empresas acompanhem mais atividades online

Por: William Guerra  -  28/03/21  -  12:12
Com home office, empresa quer acompanhar mais
Com home office, empresa quer acompanhar mais   Foto: adobe stock

Bem longe da casa mais vigiada do Brasil, no conforto do lar, muitos olhos podem estar nos observando o tempo todo. Com o crescimento do home office, adotado por muitas companhias como forma de preservar seus trabalhadores em meio a pandemia de Covid-19, explodiu também o uso de ferramentas que monitoram os passos dos empregados.


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Os dispositivos são inúmeros: eles vão desde os que seguem rastros de sites visitados ao longo da jornada de trabalho até o acesso a webcam do computador pessoal do funcionário.


Com o acesso irrestrito à rotina do funcionário, a sensação de invasão dentro do novo espaço confinado é grande. A sobrevivência num mercado de trabalho instável, o equilíbrio entre as rotinas domésticas e as demandas do trabalho são paredões diários, sem direito a benção de nenhum anjo. A impressão é de veto atrás de veto!


Mas até que ponto invadir a privacidade do trabalhador é legal perante a lei? O advogado trabalhista Marcel Borges Ramos revela que não há uma legislação vigente esmiuçando o tema. “A reforma trabalhista possibilitou o home office, mas não detalhou de que forma ele deve ser feito. Quando um caso é levado à justiça, cabe ao juiz analisar e verificar se houve abuso do empregador ou empregado”.


O advogado aponta que a empresa pode se utilizar dessas ferramentas, mas é preciso ter bom senso. “A partir do momento que paga o seu salário sem atraso, a empresa tem o direito de fiscalizar. Em contrapartida, o empregador não pode ultrapassar a liberdade do funcionário. O contrato de trabalho deve ser respeitado e qualquer tipo de alteração deve ser feita em comum acordo”, avalia o especialista.


Marcel Borges Ramos enfatiza ainda o respeito a liberdade do funcionário para não ocorrer episódios de abuso ou assédio. Em seu dia a dia, ele já se deparou com casos de patrões que acionaram essas ferramentas fora do horário de trabalho. “A partir do momento em que está ocorrendo uma prática abusiva, o funcionário pode procurar a justiça. Por exemplo, um empregado monitorado no horário de almoço e sendo cobrado por isso. Isso é abuso e assédio. Caso ocorra, é possível pedir a rescisão indireta do contrato de trabalho e indenização”.


Os temidos “paredões”


O home office te afastou daquele colega leva e traz, mas se engana quem imaginou que teria um pouquinho mais de paz. As novas tecnologias são ainda mais eficientes e fiscalizam o seu tempo, monitorando tudo o que você faz do outro lado da tela. Esse é o objetivo de pelo menos quatro programas que estão sendo adotados pelas empresas para ficar de olho nos funcionários: Hubstaff, Prodoscore, Time Doctor e Staff Cop.


Em reportagem publicada pelo portal do canal de notícias CNBC, dos Estados Unidos, a Prodoscore revelou que com a adoção do home office pelas empresas pós-pandemia, seu programa, que compara a produtividade do tempo passado em frente ao computador, teve um aumento de 600% de utilização pelas companhias. Na mesma publicação, o Hubstaff divulgou que a procura pelo dispositivo triplicou no ano passado. Os setores de RH que utilizam esse programa têm, a cada dez minutos, um relatório mostrando a porcentagem de tempo que o empregado passou digitando ou movendo o mouse do computador.


O Time Doctor não informou quanto cresceu ao longo da pandemia. A ferramenta monitora sites e aplicativos utilizados pelos usuários e quanto tempo cada um passou com abas e programas abertos. Já o Staff Cop é quem dá maior acesso às empresas. Ele permite ao RH capturas de tela, acesso a webcam e registro de acionamento de teclas.


Em busca da imunidade


Ter foco para desempenhar seu trabalho e ainda ter que enfrentar toda essa invasão é uma verdadeira prova de resistência. Com as economias mundiais patinando e a taxa de desemprego em alta, é necessário aguentar firme toda a pressão e conquistar a “imunidade” dentro da empresa.


“As ferramentas utilizadas de forma adequada são perfeitamente legais. Esses programas ajudam a controlar a produtividade e a verificar se o trabalhador está cumprindo a jornada. Por outro lado, se a empresa ultrapassa o limite do bom senso, o funcionário tem por direito procurar a justiça e pedir uma indenização”, resume Marcel Borges Ramos.


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