Bancária conta como conseguiu eliminar 15 quilos

Em cinco meses, ela saiu do manequim 48 e foi para o 44, garantindo mais saúde e qualidade de vida

Por: Por Alcione Herzog  -  10/01/21  -  11:01
Bianca adotou alimentação e hábitos mais saudáveis
Bianca adotou alimentação e hábitos mais saudáveis   Foto: Vanessa Rodrigues

Na lista dos múltiplos impactosque a pandemia da covid-19 <trouxe para a maioria das pessoas lá estão eles: os indesejados quilos extras. A mesma ansiedade que fez com que muitos comessem mais no período de isolamento social, agora se manifesta na decisão de correr atrás do prejuízo e diminuir os números na balança. Nessa hora, as dietas radicais surgem como solução, mas escondem perigosas armadilhas.


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Nas propagandas do Instagram e do Facebook, elas prometem redução expressiva de peso de forma rápida. O que não se comenta é a que custo para a saúde física e mental. “A verdade é que as pessoas levaramdez meses para engordar eAgora querem perder tudo emum ou dois meses”, resume a nutricionista Camila Simões, especialista em emagrecimento com qualidade e em nutriçãopara gestantes, que contaque tem recebido em seu consultório pessoas que chegaram a ganhar até 20 quilosdurante a quarentena.


O tempo ocioso, o medo do amanhã, o acesso mais fácil à comida em casa e o sedentarismo são alguns fatores presentesna vida em tempos de pandemia, pontua AngélicaCroccia, especialista em nutrição clínica e responsável pelo Programa de Medicina Preventiva da Santa Casa.


O “novo normal” nos exige encarar uma nova imagem no espelho? Pode ser. Mas tentar mudá-la recorrendo às dietas restritivas ao extremo é tentar ludibriar o corpo, que é inteligenteese adapta às novas condições, fazendo reservas de energia,o que acaba impactando negativamente no metabolismo.


O nosso organismo gastacerca de 1.600 calorias apenaspara manter os nossos órgãos funcionando. Por isso, umadieta que reduza a quantidadede calorias para menos do queo corpo precisa para funcionar normalmente não é só arriscado...É ineficiente. “A perda até pode acontecer no começo, mas o emagrecimento não será consistente, pois o metabolismo ficará mais lento para economizar energia”, explica Camila.


Assim, o chamado efeitorebote ou sanfona entraem cena, gerando maisfrustração e mais desânimo.A vontade não saciada decaber novamente nas roupasabre, então, espaço para abaixa autoestima, em umcaminho que pode até culminarem uma depressão ou em transtornos alimentares.


Não existemilagre


AngélicaCrocciaobserva: não há receita mágica. Ela lembra que sucessoé manter a meta e as conquistas alcançadas com saúde.“As dietas da moda não trazem aprendizado e conscientização.O foco deve ser a mudança comportamental. Se não existir rotina alimentar, constânciae aprendizado, o emagrecimento não será saudável e efetivo”.


Não se trata de um processo apenas fisiológico, mas também mental, de conscientizaçãode que cada indivíduo é único.“As pessoas têm características distintas, vidas diferentes.Quem possui algum tipo de comorbidade não pode sesubmeter a uma dieta restritiva padrão”, complementa a nutricionista CamilaSimões.


Caso desucesso


Segundo pesquisa do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE),96 milhões de brasileiros têm sobrepeso. A bancária Bianca Simões Russo, de 38 anos, estava nesse grupo e precisou enfrentara balança para ter mais saúde, perdendo 15 quilos no prazode apenas cincomeses.


Em 2018, ela foi diagnosticada com uma alteração no fígado e princípio de cirrose. Louca por fast-food e por doces, haviatentado, sem sucesso, fazervárias dietas, incluindo aDukane a do chá verde. O que elanão sabia é que essa últimaestava agravando o seu problemano fígado, de modo queprovocou uma hepatite.


Assustada com a situação,Bianca tratou de procurara ajuda de endocrinologistase gastroenterologistas, que recomendaram uma dietapadrão. “Não era algo quepensava para mim. Foi porisso que eu desisti”.


Um tempo depois, mais exatamente na metade do ano passado, já durante a pandemia, ela se consultoucom a nutricionista CamilaSimões e teve acesso auma reeducação alimentar personalizada, sem os sacrifícios exigidos por outras dietas.


Para atingir os seus objetivos, cortou o fast-food do cardápio, diminuiu a ingestão de docese começou a preparar aspróprias refeições, mudandoa relação que mantinhacom os alimentos. “Eu era uma pessoa extremamente ansiosae acabava descontando nacomida. Hoje, sou mais decidida.Sei quanto e o que devo comer”.


Além da mudança alimentar, Bianca passou a caminharde 40 minutos a uma horapor dia. Antes, trajetos curtoscomo de casa até a padariaeram feitos de carro. Hoje,deixa o veículo na garagem e prefere fazer tudo a pé.


O manequim 48 virou 44e 15 quilos se foram no prazo decinco meses. “Eu tenho 1,70m, estava com 109 quilos. A minha meta é perder mais 15 quilos”, acrescenta a bancária, que viuo seu sucesso contagiar a famíliae os colegas de trabalho.


De olho nos riscos


Ricardo Seixas, médico nutrólogo emestre em Ciências, explicaque quando se fala em dietas radicais é preciso entender queelas podem ser restritivas em termos energéticos ou nutricionais. Detalhe: as mais comuns focamna perda energética. São as chamadas dietas hipocalóricas,que adotam cardápios comcerca de 800, 1.000 ou 1.200 calorias. “Hoje, essa alternativaestá sendo abandonada pelanutrologia”, reforça omédico.


Já as dietaslowcarbvisamsuprir a redução de carboidratos. “Isso emagrece? Sim, mas quaissão os riscos?”, pergunta Seixas. Ele mesmo responde ao questionamento, citando umestudo científico da Universidade Médica de Lodz, na Polônia, apresentado em 2018, no Congresso Europeu de Cardiologia. Nesse levantamento, o médicoMaciejBanachmostrou que as dietasnobres em carboidratos podem aumentar as chances de apessoa ter problemas que, dependendo do caso, levam à morte – como doenças coronarianas, acidente vascular cerebral(AVC) e algum tipo de câncer.


“Mais de 24 mil pacientesforam avaliados por maisde seis anos. Foi um estudo horizontal, o que demanda tempo.O autor observou que aspessoas que limitam o consumode carboidratos possuem 51%mais chances de ter doenças coronarianas, 50% mais chances de desenvolver patologias vasculares e no cérebro e são 35% mais propensas ao câncer”. Isso ocorre porque nessas dietas normalmente são implementadas gorduras que costumam semostrar cancerígenas.


Ricardo Seixas ressalta queo estudo deixou a sociedademédica perplexa. Por issopartiu-se para umametanálise,que é o que há de mais confiávelem termos de evidênciacientífica. Mais de 440 mil


pacientes participaramno novo estudo. As mesmas tendências foram mantidas,porém com uma diminuiçãoda proporcionalidade para 15%,13% e 8%, respectivamente.


“Com isso, entendeu-se queo risco é alto a médio e longo prazos, especialmente paraidosos e pessoas sedentárias.São muitas nuances parase avaliar”, pondera o médico.Isso não quer dizer que nãohá benefícios em fazer uma restrição nos carboidratos,mas esse tipo de dieta deveser de curto prazo e com acompanhamento de um profissional que saiba muito bem modular as condições e o tempo desse processo.


Respeite o seu cafédamanhã.


Outro recurso que pode ser radical demais são os jejuns intermitentes. Segundo o nutrólogo, não háum estudo com número suficiente de pacientes para dizer comcerteza científica se esse tipo de dieta faz bem ou mal.


Quando se trata dos jejuns, muitas pessoas costumam citarde forma leviana o trabalhodo médicoYoshinoriOhsumi,que ganhou o prêmio Nobel de Medicina em 2016. “A verdade éque ele nunca disse em seus estudos que essa alternativa é indicada como dieta”, afirma Ricardo Seixas, lembrando que ainda não existe um consenso de como aplicar o jejum intermitente. Há quem faça o de 14 horasou o de 16 horas. Outros conseguem ficar sem comer por 18 horase existe até aqueles que ficamo dia inteiro de jejum.


O que se sabe, com certeza,é o que todas as sociedades de Cardiologia do mundo recomendam: as pessoas não devem abrir mãodo café da manhã. “As pesquisas mostram que pular essa refeição aumenta os riscos de desenvolver doenças coronarianas”.


O médico ainda salienta quefazer jejum acima de 16 horasgera a diminuição da liberaçãodo hormônio produzido pelo hipotálamo, o TRH. Por sua vez,isso faz com que a tireoide produza outros hormônios de forma insuficiente. Com isso, a pessoa se sente mais cansada e irritada.


Equilíbrio é osegredo


Outra alteração que pode ser causada pelas privações severas de alimentos é o desequilíbrio na produção dos hormônios AGRPe NPY, ligados diretamente à sensação de fome. Isso pode levar a pessoa a comer muito maisdepois.


De forma geral, nosso organismo tenta manter um equilíbrio interno, chamado pela Medicina de homeostase. Alpinistas usados como exemplo por Ricardo Seixas ilustram bem esse mecanismo: “Quem vai para o Everest precisa respirar o dobro, por conta da menor quantidade de oxigênio.


O organismo responde coma falta de ar justamente para compensar. Quando suprimimos a energia necessária para o corpo, ele diminui o gasto como mecanismo compensatório, armazenando mais energia e, ao mesmo tempo, causando uma sensação de cansaço e de menor disposição”.


E não é só isso. A termogênese, que é a capacidade do corpo de queimar gordura, é reduzida.Outros impactos menos graves das dietas muito restritivas são dores de cabeça, queda de cabelo, irritabilidade e, nas mulheres,até mudanças no ciclo menstrual. “A maioria das cefaleias e enxaquecas é causada por hipoglicemia”, alerta Seixas.


Dietas que priorizam certos grupos alimentares, como a das frutas e a da proteína, também inspiram cuidados. Isso porqueos grupos alimentares são divididos a partir de itens que possuem a mesma base nutricional. “Quando comemos só frutas, ingerimos determinados nutrientes inerentes a esse grupo e perdemos os presentes apenas na carne,nos grãos, nas hortaliças...


O nosso organismo depende de vários tipos de nutrientes para exercer funções específicas”, ressalta o nutrólogo.No final, a palavra-chave é mesmo equilíbrio. “Não temjeito: o sucesso de um projeto de reeducação alimentar está também na cabeça, não apenas no prato”, finaliza Camila Simões.


E não precisamosnos anularem meio a um contexto socialque normalmente inclui férias, confraternizações etc. Podemosnos permitir, de vez em quando, consumir coisas que não comemos todos os dias, sem radicalismosou extremismos. Ser permissivos, nuncacompulsivos.


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