Ator Paulo Betti conta o que tem feito durante o isolamento

O ator faz lives, é ativo na rede social e encenou sua peça remotamente

Por: Por Thaís Lyra  -  13/09/20  -  09:40
O ator também vai participar do Santos Film Festival
O ator também vai participar do Santos Film Festival

Diz o ditado que quandoa vida te der limões, vocêdeve fazer uma limonada.Aos 68 anos, 45 de carreira, Paulo Betti arregaçou as mangas e fez caipirinha, torta, musse... Não, o ator não se aventurou na área da gastronomia, mas duranteo isolamento foi obrigado,como ele mesmo disse, “a respirar por aparelhos”. Participou delives, levou o espetáculo que estava em cartaz, quando começou o isolamento, para uma temporada remota, escreveu, fez vídeos para a rede social... não parou e encarou o período com seriedade e leveza.Embora ainda não saiba o que vai acontecer daqui para frente, o artista, que também é diretor e produtor, não pensa em parare já está escalado para a próxima novela das seis, cujas gravações começam ano que vem.

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Enquanto 2021 não chega, sededica aos projetos a distância.Um deles é o SantosFilmFestival - Festival Internacionalde Cinema de Santos, queocorrerá do próximo dia 29 até6 de outubro pela plataformawww.videocamp.com, com maisde 60 produções exibidas, entre curtas e longas-metragens, inéditos e de mostras retrospectivas. Betti será um dos homenageados da edição e receberá o Troféu Luciano Quirinoe três produções nas quais atuou serão transmitidas: Lamarca(dias 30/9, às 20 e, 1/10, às 16 horas), Cafundó (dias 30, às 15e, 2/10, às 20 horas) e, o mais recente, A Fera na Selva(dias1/10 às 20 e, 2/10, às 15 horas), onde trabalhou ao lado de Eliane Giardini, sua ex-mulher. Nessa entrevista, o ator fala um pouco sobre este novo momento da carreira e sua paixão pelo cinema.



Gostaria que você começasse falando sobre oSantosFilmFestival, em queserá um dos homenageados.Você já conhecia o festival?Sabia que Santos é uma dascidades criativas pela Unesco na categoria audiovisual?


Bom, eu conheci o André (Azenha, diretor do festival), já algum tempo, que me trouxe à Cidade para mostrar um dos meus filmes,A Fera na Selva e aí surgiu o convite. Só que minha ligação com Santos começou bemantes disso por causa doteatro amador, que sempre admirei. Quando eu inicieiminha carreira no teatrocomo ator, o pessoal ganhava todos os festivais, nomescomo Carlos AlbertoSofredini, Carlos Pinto,TanahCorrêa... Enfim, o grupo de Santos sempre era muito forte.


Quando se fala em cinema,qual a primeira lembrançaque vem à sua mente?

Um dos filmes que eu vi eque me marcou quando garoto foi O Pagador de Promessas, do Anselmo Duarte, com Leonardo Villar. Vi na Igreja de Nossa Senhora do Auxiliadora, noLiceu Salesianos, em Sorocaba.Opadre tirou a imagem daVirgem Auxiliadora do altar, colocou um lençol penduradoe projetou em 16mm. Acho quefoi em 1962, eu era muito novo.


De que forma ele entrou e ficouem sua vida?


Foi a partir desse momento,quando assistia às sessõesque os padres promoviam,era uma espécie de cine clube.Eu frequentava o oratório festivo, não era aluno do Liceu Salesianoeu participava do projeto social,dos meninos que pobres que moravam em volta da escola,que era paga, usavam as dependências. Vi grandesclássicos, como O Gordo eO Magro, filmes doTarzan... As sessões aconteciam aos domingos. A partir disso, o cinema nuncamaisme abandonou.


Seu último filme foi A Ferana Selva, em 2017. Tinha algum projeto que ficou parado porcausa da pandemia?


Não tinha nenhum projeto de filme não. Eu estava viajando com a minha peça, Autobiografia Autorizada que, aliás, quero apresentar em Santos qualquer hora. Estava em Portugal quandoa pandemia começou.


O que acha que vai acontecercom o cinema nacional no cenário pós-pandemia. Aliás, acreditaque seja possível produzir mesmo durante este período?


Acho que foi um golpe muitoduro e ainda não dá pra avaliaro quanto que vai ser, o que vaificar e se vai ficar, né? Porque as salas (de cinema) tiveram que fechar e não sabemos como a pandemia vai influenciar o público quando elas reabrirem; se as pessoas irão ao cinema, seas salas conseguirão sobreviver.O cinema já estava tendo muita dificuldade, principalmente o cinema brasileiro. Então, nãotenho ideia de como vai ficar.


Falando nisso,você foi uma pessoa que nãoparou durante o isolamento.Fezlives, era ativo no Instagram. Como foi e está sendo a experiência da vida digital de forma geral?


As pessoas estão encontrando formas de produzir, né?A distância, filmando comcelulares e é uma forma,vamos dizer assim, diferente. Alguma coisa nova vai acontecer, principalmente quando se pensa em cinema e o que conhecemos até agora.Só não sei o quê.


Você também levou o espetáculo Autobiografia Autorizada parauma temporada on-line. Quais são as vantagens e desvantagens?

Como minha peça interrompeusua temporada por causa da pandemia, recebi um convite para fazer a peça a distância peloTeatro Petra Gold e a experiência foi incrível. Fiz pelo menos dez sessões da peça e descobriuma maneira de respirar por aparelhos... O teatro feito a distância, com o espectador assistindo na sua própria casa e,no fim, foi e ainda está sendouma maneira de resistir, de fazer com que o teatro, embora não presencial, ainda esteja no ar.


A primeira apresentação remota não se esquece, deu frio na barriga?


A sensação de fazer a peça pela primeira vez sem público foimuito forte. Tinha apenas um espectador, três câmeras e os técnicos que eram da minhapeça. Foi mesmo a sensação de estar entubado e de estar respirando por aparelhos e, aos poucos, fui me acostumando.Acho que essa forma de fazer teatro veio para ficar. Claro queela não vai substituir o presencial, mas será um adicional. Além do público que estará na sala de espetáculo, vamos contar com o que está em casas e nos lugares mais remotos, assistindo. E outra coisa: será um complemento de bilheteria.


E como foi a reação?


Recebi respostas de pessoasqueestavammuito longe e creio que é uma forma de democratizar bastante o teatro.


A peça também foi uma formade ajudar o pessoal dosbastidores, né?


Sim, a bilheteria toda foi paraos técnicos. É um momentomuito complicado. Para a classe artística foi muito difícil porquefoi o primeiro a fechar e, certamente, será um dos últimosa reabrir.


O que o motivou a fazer uma biografia? Como surgiu a ideia?


Queria fazer uma um monólogo para ter mais facilidade de viajar e poder fazer palestras, debates, coisas que eu gosto muito. Comecei a ensaiar um monólogo de um amigo sobre a morte, mas percebi, de repente, que aquele texto não falava o que eu queria dizer. Então, durante os ensaios, mudei. Resolvi escrever, mas quando me dei conta percebi que eu tinha já anotado muitas coisas, embora nunca tivesse a pretensão de transformar aquilo em peça. Durante 25 anos tive uma coluna semanal, que saía aos domingos, em um jornal de Sorocaba. Então, já tinha quase tudo escrito. Meu monólogoestava pronto e eu não sabia...


E ele retrata qual fase da sua vida?


Fica restrito, vamos dizer assim,à minha infância e à minha adolescência, que são períodos muito importantes na minha formação. Também são fases mágicas e cheias de acontecimentos extraordinários. Um deles é a minha passagempela escola. Tive muita sortede ter entrado, com 5 anos,em um pré-primário emnuma escola de elite, que foicriado pelos professores deum ginásio do estado paraatender seus próprios filhos pequenos. Minha mãe conseguiu me encaixar e, a partir dessa formação, sempre passeipor boas escolas até chegarna universidade, a USP, onde estudei na Escola de Arte Dramática. Essa primeira a primeira escola é uma coisa absolutamente essencial e que abriu portas na minha vida.


Qual foi a última vez que pisouno palco? De 1 a 10, como está a saudade?


Está dez. A última vez que eupisei o palco foi em março,em Lisboa, Portugal, com minha peça. Estou com muita saudadedo palco.


Como encarou o isolamento no início? E comoestá agora?


Tenho tentado ficar o mais ativo possível, tenho feitolivescom a concentração do teatro, é comose fosse uma participação de um tipo diferente de teatro, que éalive. É como se fosse um teatro entrevista.


Do que está sentindo mais falta?


De encontrar as pessoas, de estar com o coletivo, a proximidade... Estar longe é a coisa mais difícilde encarar na pandemia.


Um de seus posts recentes no Instagram parabenizava a produção Amor e Sorte, com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, e que terá episódios com outros atores. Você acha que o audiovisual no Brasil vai mudar ou já mudou?Você pensa em produzir algum conteúdo assim?


Acheimuito interessante, muito bonito. É uma ideia muito forte, muito poderosa, né? Porque ela aproveita as pessoas que já estão juntas. Acho formato bom e gostaria de fazer algo parecido.


Algum projeto de TVvempor aí?Pode contar pra gente?


Farei a nova novela das seis, que começa a ser produzida em 2021, Intensa Magia.


Inevitável as pessoas associarem você a alguns papeis que fizeram história na TV. Quais (ou qual) o público lembrae te chama até hoje?


Os dois personagens que estão mais presentes é o Timóteo de Tieta, e o último que eu fiz na novela Império, o Theo Pereira que era um blogueiro gay. Esses dois são os que estão mais presentesna cabeça do público. No cinemaé o Lamarca, até por causa das circunstâncias políticas do País.


Ator, diretor, produtor... Qual das funções se sente mais confortável?


Acho que sempre participei como produtor para poder realizar os meus projetos, mas o que eu gosto mais é de estar em cena, né? Dirigir também uma atividade que me encanta, mas no momento,eu estou gostando mais de atuar.



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