Arquiteto de Praia Grande fala sobre experiência de transformar a casa em um refúgio

Gabriel Fernandes desenvolveu um projeto que refletisse todas as vivências que ele já teve até o momento

Por: Brenda Bento  -  24/10/21  -  13:32
 Apaixonado por arte, design e arquitetura, Gabriel Fernandes sempre foi uma pessoa atenta às oportunidades do mercado
Apaixonado por arte, design e arquitetura, Gabriel Fernandes sempre foi uma pessoa atenta às oportunidades do mercado   Foto: Denilson Machado e Aldi Flosi/Divulgação

Querer transformar a casa em um refúgio foi o que motivou o arquiteto Gabriel Fernandes a desenvolver um projeto que refletisse todas as vivências que ele já teve até o momento. “A minha inspiração veio das coisas mais simples que pude experimentar durante a minha vida. Desde objetos comprados em viagens, obras de arte que ganhei de amigos artistas e designers e até sensações em momentos de encontros que tive. Eu falo que a minha casa é um reflexo de tudo o que eu vi e vivi até aqui”.


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O projeto partiu da intenção de enxergar as potencialidades do que já existia de soluções que fossem viáveis para tornar as ideias de Fernandes possíveis para a ocasião e para a execução. “Assim surgiram os dois espaços externos que cresceram a casa de acordo com a minha necessidade (o living e o spa). A partir daí, comecei a entender o que eu tinha de acervo e o que precisaria comprar para poder complementar o meu projeto. A iluminação também foi pensada de maneira que tivesse execução mais simples, luminárias projetadas especificamente para os espaços pelos amigos designers, trilhos deslocados, luminárias externas, abajures, tudo compondo de maneira que cada efeito cumprisse sua função de forma funcional”.


Apaixonado por arte, design e arquitetura, Gabriel Fernandes sempre foi uma pessoa atenta às oportunidades do mercado. “Algumas coisas eu já tinha guardadas no acervo, tais como o sofá rosa do Paulo Alves, a mesa de centro do living, as cadeiras da mesa de jantar, que vieram de presente da família, assim como a penteadeira de madeira cerejeira, herança da minha avó para a minha mãe, algo também parte da minha história e trajetória”.


Objetos de artistas populares brasileiros que Fernandes adquiriu durante suas andanças ajudaram a compor partes da casa do arquiteto. “Contracenando com ícones do design como Irmãos Campana, Pedro Franco, Nicole Tomazi e Sergio Cabral, que, inclusive, desenvolveram a luminária da sala de jantar, exclusivamente para esse projeto. É uma curadoria sensível, cheia de histórias, buscas e intenção. Tem ancestralidade e um olhar atual”, comenta.


Ritmo da obra


Segundo o arquiteto, foi uma obra rápida com poucas intervenções que se prolongaram, sendo tudo realizado em, no máximo, dois meses. “A casa é uma continuidade de nós mesmos, um espaço onde podemos sentir, compartilhar, vivenciar... Costumo dizer que a casa é um templo, espaço sagrado da nossa história, onde tudo está registrado ali, nas memórias entre as paredes e os objetos. É importante você olhar para um espaço e se perceber nele, se sentir tocado por ele”. O maior desafio do projeto foi chegar a um resultado capaz de transpor a identidade e as vontades de Fernandes, além de atender as necessidades que ele possui. “Sem desrespeitar todo o contexto da casa, que foi construída na década de 70 por uma família de veranistas de origem europeia, motivo pelo qual imagino que tenha acabamentos rochosos e ambientes inteiros revestidos em pedras naturais”.


Uso das cores


Gabriel Fernandes buscou uma paleta cromática que fosse capaz de acalmá-lo e colocá-lo em um lugar de paz. “Cores claras que variam do branco ao rosa muito claro, com uma passagem pelos tons terrosos, através do marrom. Existia uma intenção de valorizar algumas bases arquitetônicas que fariam parte do projeto, por falarem muito sobre mim, como as pedras naturais do chão e da parede do living, assim como a cerâmica original da casa dos anos 70, que me remetia a boas memórias da infância na minha primeira casa”.


Tenha um projeto intimista


A principal orientação que o arquiteto dá para quem vai reformar ou construir uma casa é, primeiro, procurar um profissional com o qual se identifica. “Há aqueles que se reinventam mais, mas não dá para ignorar os sinais de quando o trabalho de alguém te chama a atenção. Então, olhe muitos projetos e sinta com o coração o profissional que está mais próximo do resultado que espera obter, o que aquece mais o coração. Essa é uma escolha delicada, e é a primeira a ser feita. Acertando nisso, já é meio caminho andado”.


Após a escolha do profissional que será responsável pelo projeto, não se deve deixar de expor para ele todas as vontades e necessidades existentes em cada espaço. “Mostre, além das suas intenções, a maneira como pretende viver ali dentro, e lembre-se: toda relação de trabalho é uma troca, a gente aprende com o cliente e ele aprende conosco. Mas, para ser uma troca justa, você precisa estar disposto a falar, e quem está no lugar de ouvinte precisa saber ouvir. A partir de boas conversas com troca, intimidade e educação, surgirá um bom trabalho, aquele que você vai ver no final do processo, respirar bem fundo e dizer: ‘Era exatamente isso!’”


O arquiteto também precisa ser empático durante a elaboração do projeto. “Eu, quando estou fazendo algo para uma família ou cliente, sempre pratico esse exercício de me colocar no lugar do outro e pensar quais histórias que ele me contou no início do trabalho que são importantes trazer à tona na casa. Qual a mensagem que eu preciso passar e de que maneira vou fazer isso? Acaba sendo mais do que um projeto, é um exercício de empatia, pensar a casa do outro é um dos trabalhos mais empáticos que existe”.


Por fim, Gabriel Fernandes explica que seu processo criativo costuma ser bastante íntimo. “Eu procuro saber tudo sobre a vida dos meus clientes. Brinco com eles que o que fazemos ali no meu ateliê é uma alta costura do design. Cada corte, cada linha é pensada com precisão e, para isso, nenhum milímetro pode ficar para trás. Eu embarco a fundo em entender como foi a trajetória de vida do cliente, como ele vive a casa, como guarda os seus pertences, o jeito que ele dorme, se toma água à noite... É realmente um trabalho de pesquisa da intimidade”, arremata.


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