O que você quer ser ao completar um século de vida?

Não estranhe, as pessoas estão vivendo mais, e a velhice tende a se prolongar

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  21/10/19  -  00:58
Mais uma parte do ciclo de palestras do encontro Envelheça Leve ocorreu na terça-feira (15)
Mais uma parte do ciclo de palestras do encontro Envelheça Leve ocorreu na terça-feira (15)   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

O que você quer ser quando tiver 100 anos? Pode parecer uma pergunta estranha para quem nem imagina chegar a ser um centenário ou difícil de responder para aqueles que sempre planejaram algo só até “quando crescer”.  


No entanto, dados do IBGE mostram que os brasileiros têm vivido mais. Em 1940, a expectativa de vida no País era de 45,5 anos. Em 2017, de 76 e, para quem fazia 65 anos, as estatísticas mostravam a tendência de viver mais 18,7.  


Os números foram apresentados pela gerontóloga Denise Mazzaferro na segunda palestra do encontro Envelheça Leve, realizada na última terça-feira (15).  


Durante o evento, promovido por A Tribuna e com patrocínio da Cellula Mater, a especialista provocou os participantes com questões sobre como eles querem chegar aos 100 e o que desejam realizar.  


Reconstrução 


“Temos que aprender a reconstruir a velhice porque ficaremos nesta fase por muito tempo”, diz. Assim, Denise garante que é fundamental planejar-se para essa etapa. Não apenas do ponto de vista da saúde, mas também financeira e emocionalmente.  


Para ela, tão importante quanto envelhecer com saúde é ter um propósito de vida. Na verdade, que as duas coisas caminhem juntas. “Um dos maiores desafios dessa vida mais longa é dar sentido a ela para que se tenha vontade de viver.”  


Para isso, investir em relações, amizades, ter sonhos e achar como realizá-los é uma fórmula poderosa.  


“Blue Zones” 


Aliás, essa fórmula vem sendo pesquisada há anos. O projeto Blue Zones (Zonas Azuis), por exemplo, identificou e estuda locais espalhados pelo mundo que, apesar das diferenças culturais e geográficas, têm uma concentração grande de centenários. Okinawa, no Japão; Nocoya, na Costa Rica; Ikaria, na Grécia; Loma Linda, nos Estados Unidos; e Sardenha, na Itália, são esses lugares. 


Segundo Denise, apesar de serem pontos distintos no mapa, algumas semelhanças foram identificadas: forte engajamento social, alimentação balanceada, moderada prática de atividade física, espiritualidade e propósito de vida.  


No entanto, também de acordo com ela, ainda se está em um momento de transição e não existe fórmula mágica, o que significa que os idosos de hoje terão que improvisar caminhos, e os jovens, pensar mais sobre o assunto. 


Transições de carreira e de vida serão mais comuns 


Professor, médico, bombeiro, vendedor. Se antes as pessoas exerciam uma profissão para o resto da vida, a partir de agora, segundo Denise, provavelmente isso mudará. Tanto porque será preciso trabalhar por mais tempo – pois isso dá, de certa forma, mais sentido à vida – quanto porque o País precisará.  


“Hoje, já vemos pessoas com 50, 60 anos fazendo faculdade. Com a expectativa de vida, fazer outras faculdades, mudar de carreira será mais corriqueiro”, afirma a gerontóloga Denise Mazzaferro.  


Desta forma, na visão da especialista, as transições serão cada vez mais comuns, e não só as de carreira. Antes, tudo era para a vida toda. Hoje, não mais. E os jovens já começam a fazer isso e fazem de forma mais leve, mostrando um caminho que deverá ser percorrido. 


“Pode se separar de um casamento que está ruim depois de 40 anos? Pode! Até porque ele poderá durar mais 30!”, brinca Denise. 


Políticas públicas 


No entanto, para que isso realmente funcione, a gerontóloga é incisiva na defesa de políticas públicas que colaborem com os idosos a se manter em atividade, realizar essas transições mais facilmente e ter propósito de vida, mesmo depois dos 60 ou 70.  


Para ela, é necessário ir além de ações recreativas e avançar em projetos que auxiliem na recriação. “Temos que recapacitar as pessoas que envelhecem. Temos que atualizá-las. Ao mesmo tempo, podemos oferecer protagonismo e perceber que elas, com toda a experiência, podem ensinar muita coisa”, declara Denise,  


Com isso, além de promover a inclusão dessas pessoas, será possível colaborar com a autonomia delas e com a criação de objetivos de vida. “Ajudá-los a ter ferramentas para sonhar e realizar os sonhos”, sugere a especialista. 


Ciclo ainda terá dois encontros até dezembro 


O projeto Envelheça Leve terá mais dois encontros. As inscrições serão abertas nas próximas semanas. Quem participou dos dois primeiros tem que se inscrever de novo.  


O terceiro está marcado para 7 de novembro, com o escritor, contista, romancista, jornalista brasileiro e membro da Academia Brasileira de Letras Ignácio de Loyola Brandão. Sua palestra será Envelhecer É não Parar, sobre criatividade no envelhecimento e processo de renovação constante para projetos de vida.  


Meditar, Ferramenta Poderosa no Envelhecer é o tema da última palestra, em 10 de dezembro. Quem a comandará será Lia Diskin, cofundadora da Associação Palas Athena e coordenadora do Comitê Paulista para a Década de Paz.  


Ciclo  


Envelheça Leve é mais uma iniciativa de A Tribuna, em parceria e patrocínio do Laboratório Cellula Mater, focada na maturidade e nas questões que mais preocupam quem já chegou a essa etapa ou quer se preparar para ela.  


“Cada vez mais, as pessoas estão envelhecendo com vitalidade, procurando se cuidar mais. Percebo isso no meu trabalho. Hoje, o laboratório é utilizado como medida preventiva, e isso é muito importante”, afirma o diretor do Laboratório Celulla Mater, Carlos Eduardo Pires de Campos. 


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