Todo mês de fevereiro, às vezes março, é aquele passo que a música de Gilberto Gil cantou e os brasileiros conhecem bem. Para as agremiações carnavalescas, é a hora de desfilar trabalho e dedicação. Mas as quadras das escolas não vivem só de samba. Pelo menos, não a da Unidos da Zona Noroeste.
Lá, os sons são muitos: bolero, rock e músicas que embalavam bailinhos nos anos 60. Tem também o barulho alto produzido pelos golpes do muay thai (boxe tailandês), como se fossem o som da comunidade rumo a dias melhores.
O projeto Academia de Samba Unidos da Zona Noroeste, Galos do Amanhã, proporciona essa sinfonia alternativa ao abarcar o que a escola oferece à comunidade. Significa aulas de dança de salão, ritmos e muay thai, colocando todo mundo para se mexer.
“A escola tem 39 anos. Nascemos para o Carnaval? Sim. Mas, durante o ano, temos que acolher nossa comunidade”, considera Suzane Gomes de Santana, diretora de Marketing da Unidos da Zona Noroeste. Segundo o presidente da agremiação, João Marcos dos Santos, são atendidas cerca de 300 pessoas, de crianças a idosos. Mas o desejo é de mais opções.
Na opinião dela, a Cidade sofre com a falta de espaços acessíveis à comunidade. Um lugar que ofereça uma atividade para as crianças, para a dona de casa. Um espaço em que o filho possa ficar, diz. No fim, a quadra da escola se tornou esse lugar. Segundo a diretoria da escola, as aulas são abertas a toda a comunidade, por valores “simbólicos”.
“Um projeto como esse é muito importante para quem vive aqui. Porque, às vezes, a família não tem condições financeiras de pagar uma atividade. Aí, a criança fica na rua, o idoso fica sozinho em casa, a dona de casa só faz os seus afazeres, cada um isolado no seu mundinho”, avalia Danielle Gomes, mãe do casal de mestre-sala e porta-bandeira mirim da escola, os irmãos Arthur e Brenda. No fim, toda a comunidade se encontra para atividades físicas. Tem feito bem a todos.
Impacto
Miranildo dos Santos, o professor Miranda, dá aulas de dança de salão. “Alguns chegam com problemas de saúde e uma indicação médica. Há quem chegue para fugir da depressão, e a dança ajuda muito nesse sentindo. Uma ajuda para o corpo e para a mente”, considera.
Maria Helena da Silva Novaes, de 66 anos, concorda. “Eu adoro dançar, desde mocinha. Traz paz, alegria”. Mas ela confessa que chegou ao projeto por determinação médica, para ajudar a controlar diabetes e pressão arterial.
Uma amiga que a acompanha nas aulas, conta Maria Helena, também tem se sentido melhor. Pega por uma depressão após a morte do marido, agora está bem, “porque dançar também faz bem para a mente”
Muay Thai
Para a garotada dos bairros próximos, a luta atrai e causa curiosidade, explica o professor de muay thai, Julio César. “Quando eles começam as aulas, entendem nossa visão de respeito e não violência e, principalmente, aprendem a importância da disciplina.”
Poder ajudar os jovens a serem mais pacíficos e disciplinados é um privilégio, considera ele, uma cria da Zona Noroeste.
“Eu nasci e cresci aqui. Por isso, eu fico muito feliz de estar colaborando com a minha comunidade. Além de ajudar a tirar os jovens da rua, nós revelamos talentos”, afirma. Um deles é Andressa Homsi, de 17 anos que recebeu um convite para lutar na Alemanha e, agora, luta também para juntar recursos para a viagem.
Esporte e dança integram a comunidade
Entre as atividades no projeto Academia de Samba Unidos da Zona Noroeste, estão o Galos do Amanhã, que usa esporte e dança como ferramenta para integrar a comunidade, e as aulas de ritmos.
No início, as aulas eram uma ação de Sérgio Vicente da Graça, o Cipó, que foi Rei Momo de Santos, defensor das cores da Unidos da Zona Noroeste e que morreu este ano. “Era um grupo do Cipó voltado para a terceira idade”, conta Rosemar da Silva.
A ideia era trazer a dança para os idosos como atividade física e resgate de memórias com músicas da juventude deles.
“Hoje, recebemos pessoas mais novas, fazemos um mix de músicas, e eles adoram”, diz, em tom de comemoração a professora Rose.
E as aulas servem como injeção de ânimo. “Estar aqui é bom para mexer o corpo, mas faz bem para a cabeça.”