Novo rumo para um respeitável público: crianças e jovens

Instituto Rudá mostra a arte do circo e uma chance de bom futuro

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  09/10/19  -  13:18
Entre um exercício e outro, alunos deixam dificuldades e se soltam
Entre um exercício e outro, alunos deixam dificuldades e se soltam   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

É entre piruetas e saltos que o Instituto Rudá, braço social do Circo Rudá, abre as portas para que crianças em vulnerabilidade social descubram o mundo do circo e o futuro que se descortina através dele, em Santos. 


De manhã e à tarde, cerca de 30 assistidos por comunidades e instituições participam das aulas, oferecidas por profissionais do picadeiro que, agora, oferecem a chance de continuidade da arte e de uma nova história de vida para os pequenos. 


A ideia surgiu de quem viu seu talento ser despertado e oportunidades brilharem em seu caminho a partir de um projeto social na área do esporte montado pela Prefeitura de Santos. Coincidentemente, tudo começou no bairro onde hoje Gustavo Lobo preside o instituto: o Estuário. 


“Parece que Papai do Céu brinca com a gente. Se não fosse o esporte, eu seria mais um número nas estatísticas e, como nunca imaginei, abri um instituto na mesma rua em que cresci.” 


E, como diz o ditado, o mundo dá voltas. Agora repete um ciclo que alterou o seu destino e que promete mudar o de muitos outros. 


O esporte levou Gustavo, ainda menino, para a ginástica artística. Representou o Brasil e deu muito orgulho para o País.  


Mas ele foi além. Reencontrou uma paixão e, daí para a frente, o circo nunca mais saiu de sua vida. Ele ingressou no Cirque Du Soleil, um dos mais conhecidos do planeta e, além dos espetáculos, atuou em outras fronteiras.  


“É o Circo do Mundo, que também trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco em vários países. Participei de muitas ações. Quando voltei, disse: ‘É isso que vou fazer’.” 


A vontade de desenvolver um projeto social aumentou depois de criar sua própria companhia, a Rudá, e montar espetáculos em solo nacional.  


Em abril deste ano, sonho e realidade se encontraram – e não vieram sozinhos. Gustavo batalha com um time de peso, que se doa de alma e coração para os pequenos encontrarem no instituto não só vocação e talento, mas uma bússola que aponte para uma profissão e um futuro diferente. 


Levam jeito  


Nas mãos do professor e coordenador pedagógico, Fausto Franco, eles já se soltam entre um exercício e outro. Esquecem histórias tristes, que envolvem o afastamento da família e dificuldades diárias. Assim, aptidões vão surgindo.  


“Eles são muito espontâneos. Observar como um se dá bem no tecido, que o outro se encantou com a cama elástica e, a partir desse encantamento, como vão se dedicando e progredindo, é muito gratificante.” 


Basta olhar Julia, de 6 anos, que amou o tecido acrobático e nem vê a hora passar durante a aula. “Eu sonho que estou num lindo palco.” 


Lucas, de 12 anos, também se perde no tempo, dividindo-se entre cama elástica, tecido acrobático e a roda. “Adoro aprender. Me imagino num espetáculo. É muito emocionante.” 


Há quem se imagine num espetáculo enquanto frequenta as aulas, ministradas no Estuário, em Santos
Há quem se imagine num espetáculo enquanto frequenta as aulas, ministradas no Estuário, em Santos   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

Superando expectativa 


Difícil para os profissionais envolvidos no projeto foi dimensionar o que viria do encontro com os garotos, que têm de 7 a 15 anos.  


“Sabia que a gente ia fazer um trabalho com cunho social e da importância disso. Mas não estava muito preparada para saber a história de cada um. Acho que essa é a parte que mais pega para mim”, conta, emocionada, a coordenadora Sarah Antunes. 


Depois disso, ela diz que só aumentou a vontade de que tudo dê certo e que o circo seja apenas um empurrão para um futuro promissor. 


“A gente entende o circo como profissão. E a ideia é que essas crianças tenham acesso a isso. Assim como tem muita criança querendo ser jogador de futebol, tem muita gente querendo fugir com o circo”, brinca. “E a gente está aqui para que eles encontrem essa possibilidade, que eles encontrem uma profissão no circo. E abrir portas, se eles quiserem.” 


Quem participa se vê de outro jeito  


O desenvolvimento emocional e psicológico de crianças e adolescentes também começa a ser visto em seis meses de projeto, diz a psicóloga e coordenadora social Ariana Gonzaga.  


Muitos fazem parte de instituições como a Casa da Criança e o Anália Franco. “São crianças que estão em condições de vulnerabilidade extrema e muito fragilizadas sem a integração sem a ideia da família.” 


A psicóloga do Anália Franco, Maria Luiza Alves da Silva, considera que a iniciativa “ajuda a forma como começam a se enxergar. Veem que estão em um projeto bacana, que tem outra proposta e, querendo ou não, estão representando o Circo Rudá”.  


Também são atendidos pelo instituto jovens que passam por abrigos e comunidades como Vila Sapo, em Santos, e México 70, em São Vicente. 


Próximos passos 


O instituto também quer ampliar o atendimento para a área educacional e atuará em parceria com a Secretaria de Educação de Santos. Mesmo assim, sente falta de mais apoio do Município e de empresários. 


“O projeto pode parar em dezembro se não tiver incentivos. (...) Estamos dando a contrapartida para a sociedade. Mas devagarinho a gente vai”, acredita o idealizador da instituição, Gustavo Lobo. 


Perfil  


Instituto Rudá 


O que é? 


O Instituto Rudá, braço social do Circo Rudá, tem um projeto para ajudar crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social por meio de atividades circenses. A ideia é integrá-los ao mundo da arte e da expressão, descobrindo talentos ou abrindo portas para futuros profissionais. 


Onde? 


As atividades ocorrem às terças e quintas-feiras, na sede do Instituto, que fica na Rua Otávio Corrêa, 160, no Estuário, em Santos 


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