As praias são verdadeiros cartões-postais em toda a Baixada Santista, porém muitas vezes acabam dividindo espaço com plásticos de variados tipos e tamanhos, mas com algo triste em comum: o descarte irregular. Uma atitude que se torna ponto de partida a problemas maiores do que apenas prejudicar o visual da faixa de areia ou do mar, trazendo malefícios para a vida marinha e aos seres humanos.
Como tudo na natureza, a preservação se faz necessária e, para isso, a conscientização da população é de extrema importância, como frisa o professor de Química da Universidade Católica de Santos (UniSantos) Marco Antonio Cismeiro Bumba. Em suas pesquisas, ele foca na questão ambiental e faz um alerta: “Aquela frase que diz que ‘em alguns anos teremos mais plástico do que peixes nos oceanos’ é uma realidade”.
“O microplástico, quando começa a se decompor, passa a ser incorporado pelos animais marinhos, como peixes e moluscos. Assim, ele faz parte da cadeia alimentar. Se um pequeno peixe comer um microplástico, em determinado momento, ele pode ser comido por um peixe maior e assim vai até chegar ao homem. Há estudos registrando a presença do microplástico em placenta humana, algo terrível”, diz, em referência a um trabalho divulgado na Itália em 2020.
Mas, afinal, de onde vem o microlixo e como ele vai parar nas águas? De acordo com o professor, tudo começa com o descarte incorreto nas residências. “O plástico, quando descartado de forma incorreta, não retorna para a cadeia produtiva e vai para os oceanos, lagos e rios”.
Algumas peculiaridades tornam o cenário mais complexo, de acordo com o professor da UniSantos. Uma delas é a rotina de descarte dos navios. “O plástico vai para o oceano pelo próprio descarte de lixo dos navios”.
Outra dificuldade são as palafitas. “No caso particular de Santos, um estudo recente mostra que boa parte dos plásticos que estão nas praias da Baixada Santista vem de palafitas. Não podemos culpar quem mora lá, mas sim o fato de não termos um sistema que abrigue essas pessoas com saneamento básico. Infelizmente, elas vivem em condições socioeconômicas precárias e acabam descartando de maneira inadequada”.
Educação é a arma
Para solucionar isso, o caminho é o saber. A professora do curso de Geografia na Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), Maria Glória da Silva Castro, entende que campanhas de educação ambiental em escolas e praias podem esclarecer a população sobre os cuidados com a coleta do lixo produzido nas praias, além de recomendações para a reutilização das embalagens e frascos, sempre que possível.
“Cuidar para que os plásticos não se espalhem pelas praias parece ser uma tarefa frágil frente ao seu assustador acúmulo em todo o planeta, mas é um passo na direção de novas percepções que valorizem leituras de um mundo sustentável”.
Por sua vez, Bumba defende que a educação ambiental se torne tema obrigatório nas escolas e fala que há muito a ser feito. “A primeira coisa é a conscientização. O outro caminho é a substituição de plásticos com tempo de decomposição elevado para bioplásticos. Como 3ª via, pode-se trabalhar com plásticos reciclados. Há alguns anos, a camisa da Seleção Brasileira era fabricada a partir de garrafas PET. Podemos reutilizar plásticos no processo produtivo”.
Quem se mostra extremamente preocupado com o cenário atual é o presidente da ONG Ecomov, Rodrigo Brandão Azambuja. Ele comanda a entidade que foi criada em 2014, ainda como um movimento de educação ambiental nas escolas, e viu o trabalho crescer a cada dia, assim como os problemas a serem enfrentados e que não param de impactar praias, manguezais e nossa vida.
“Trata-se de um processo irreversível por conta do volume de lixo descartado e ingerido por animais. Estima-se que em dez anos não teremos a influência de espécies marinhas comuns, como a tartaruga-verde, por causa da alta concentração de microplástico em áreas de habitat natural. A influência do microlixo no mar é maior do que podemos imaginar seu impacto representará o ponto final da biodiversidade nos oceanos e zonas costeiras”.
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