Água de reúso é aliada na sustentabilidade

Reaproveitamento já é usado para limpeza e desinfecção de ruas, principalmente agora em época de pandemia pelo novo coronavírus

Por: Júnior Batista  -  30/05/20  -  22:31
  Foto: divulgação/Sabesp

Estamos num “planeta água”. A Terra leva esse apelido, dado por especialistas no assunto, porque aproximadamente 70% da sua superfície é feita do líquido. Mas a minoria, cerca de 3%, é que é doce, ou seja, pode servir para consumo. O resto está no solo ou em formato de gelo. E saber cuidar desse recurso terá que ser cada vez mais necessário para a sustentabilidade planetária. 


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Uma das formas de aproveitar mais esse bem é através da utilização da água de reúso. Ela é produzida dentro das Estações de Tratamento de Esgoto da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), responsável pela distribuição por aqui, e pode ser utilizada para inúmeras finalidades, como geração de energia, refrigeração de equipamentos, aproveitamento nos processos industriais e limpeza de ruas e praças.


E em tempos de enfrentamento a uma pandemia por causa do novo coronavírus, a água de reúso também ganhou mais um papel importante: ser utilizada na desinfecção de ruas nas cidades. De acordo com a Sabesp, a água de reúso já vem sendo utilizada para isso, mas com o aumento dessas operações para ajudar a evitar a transmissão do vírus, aumenta também o uso de água.


“É um aproveitamento adicional dessa água, que já volta para os rios. Nós fazemos uma ‘customização’, um novo tratamento, para deixar essa água em padrões de utilizações, ainda que não seja um padrão de água potável. Com isso, ela acaba sendo muito utilizada em processos industriais e lavagem de ruas, como tem acontecido mais regularmente agora com a pandemia”, explica Nivaldo Rodrigues da Costa Júnior, superintendente de Tratamento de Esgotos da Sabesp.


Apesar de não servir para beber, essa água pode ser usada para várias coisas (veja no quadro ao lado). Em São Paulo, está o maior empreendimento do hemisfério sul em reúso de água, segundo Rodrigues. O Aquapolo fornece por contrato 650 litros/segundo de água de reúso para o Polo Petroquímico da Região do ABC Paulista. Isso equivale ao abastecimento de uma cidade de 500 mil habitantes.


Círculo sustentável


Fazer o reúso da água está ligado não só ao seu reaproveitamento, por conta da sustentabilidade, mas também faz parte de um novo estilo de vida, de acordo com Rodrigues. 


“Tudo isso leva à questão da economia circular. Não é só tratar esgoto, mas trazer todas as possibilidades de reutilizar recursos. É um conceito que vem crescendo cada vez mais do ponto de vista ambiental”, afirma.


E do ponto de vista econômico. Segundo um estudo da First Insight, líder em pesquisas digitais de comportamento de mercado nos Estados Unidos, diz que a geração Z, que compreende os nascidos na meda dos anos 90 até os anos de 2010, está mais preocupada com produtos chamados eco-friendly, ou seja, sustentáveis.


Uma pesquisa publicada em janeiro deste ano mostrou que 73% deles estariam dispostos a pagar 10% mais caro se o produto indicar que está preocupado com causas sustentáveis.


“A sustentabilidade ambiental tem um apelo importante nesse segmento da água de reúso. Hoje, além de tudo, é importante estar na marca que ela é sustentável”, reforça Nivaldo Rodrigues.


Futuro


Para a economia circular, a água vai estar em pauta sempre. E, no futuro, o especialista Nivaldo Rodrigues acredita que as tecnologias permitirão evoluir ainda mais nesse sentido.


“As tecnologias estão avançado cada vez mais, por isso não é descartado ela se tornar potável. Existem países que colocam um olhar sobre isso. Ter possibilidades é importante, por isso o reúso já está tão em pauta”.


De acordo com ele, Israel tem reúso muito avançado. Por lá, essa água já é utilizada em agricultura. Em algumas regiões, como Jerusalém, que passou por uma crise hídrica há pouco mais de uma década atrás, com fechamento de parques públicos porque não tinha como regar, hoje tem uma malha de reúso enorme. “Há, hoje, 10 parques dentro da região de Jerusalém com a água de reúso”, afirma Rodrigues.


“É um processo cíclico que independe dos efeitos climáticos. As tecnologias estão chegando cada vez mais e o fator sustentabilidade entra em todos os requisitos”, conclui. 


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