Empresas endividadas

O aumento na demanda por reestruturações de dívidas de empresas é uma das consequências da pandemia de covid-19

Por: Leonardo Nascimento  -  18/05/20  -  18:46

Entre os incontáveis danos e consequências da pandemia de covid-19, um deles particularmente tem chamado a atenção do universo de corporate finance: o aumento na demanda por reestruturações de dívidas de empresas de variados segmentos e tamanhos. Os motivos são claros e discutidos diariamente, mas não custa lembrar o cenário que temos de economia enfraquecida, paralisia quase total das cadeias produtivas de diversos setores, aumento do desemprego e queda no poder de consumo. Isso tudo combinado com as turbulências políticas.


Quando nós falamos de reestruturações corporativas é preciso levar em conta dois pontos: a trajetória problemática da empresa e o caixa. O que quebra uma organização é a deficiência de fundos para honrar os compromissos de curto prazo. Se ela começa a “comer” caixa de maneira consistente e não planejada, é hora de acender a luz amarela e pensar em reestruturação do negócio e da sua dívida.


Na grande maioria das vezes, a empresa tem vários compromissos de curto prazo a honrar (funcionários, fornecedores e impostos), mas não sabe o que pagar primeiro. O processo de reestruturação começa nesse momento, quando a empresa se vê acumulando dívida, comprometendo o fluxo de caixa e precisando priorizar pagamentos. Nesse aspecto, as dívidas bancárias, frequentemente temidas pelo empresário, devem ser as primeiras a serem negociadas.


Uma reestruturação de dívida não é tarefa para amadores: exige apoio de profissionais qualificados, um diagnóstico completo e preciso e timing correto. É preciso avaliar cada passo, pois, a partir desse ponto, as decisões serão muito difíceis, tais como a escolha de quais dívidas não serão pagas, priorização de passivos a serem renegociados, redução no quadro de colaboradores e até a revisão de preços de produtos e serviços.


Após um determinado período, é importante avaliar os resultados obtidos e traçar novas estratégias. Dependendo dos acontecimentos, a empresa terá que se socorrer mediante o uso da recuperação judicial. Embora seja um remédio amargo, a vantagem da recuperação judicial está na segurança jurídica e operacional que é conferida à empresa enquanto discute com os credores, por vezes agressivos, a renegociação da sua dívida.


É consenso entre especialistas que, devido à crise, teremos um movimento recorde de empresas em busca de recuperação judicial. Os setores mais prejudicados provavelmente serão aviação, turismo e hotelaria, indústria automobilística, construção civil e toda cadeia de petróleo. Um cenário bastante desafiador.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
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