Vocabulário moderno dos técnicos tenta esconder a mediocridade em campo

Termos sofisticados empobrecem nosso futebol dentro e fora das quatro linhas

Por: Heitor Ornelas  -  29/03/19  -  19:11

Em 2011, ao iniciar sua vitoriosa trajetória no Corinthians, Tite surpreendeu muita gente ao falar sobre a “treinabilidade” do time. Simplificando, ele se referia àquilo que os jogadores faziam no treino e como isso refletia nos jogos. Nada mais óbvio.


Quase dez anos depois, e já com vários discípulos, o técnico da Seleção Brasileira encabeça uma legião de professores que consagrou expressões como marcação alta, jogo apoiado, externos desequilibrantes, último terço, dar a bola para o adversário, box to box... Tudo para dar um ar de sofisticação ao nosso futebol, cada dia mais pobre e fraco.


Na verdade, o embuste, despretensioso ou intencional, esconde o desejo de Tite e tantos outros de jogar na retranca, abrindo mão do risco em nome de uma bola fortuita que decida o jogo. Assumir a covardia não dá, ainda mais em times grandes. Então, é preciso dar um ar intelectual ao expediente mais simplório de todos.


As expressões incomuns não decorrem apenas da tentativa de justificar o injustificável. Com a oferta de cursos e estágios no Brasil e no exterior, é até natural que termos científicos passem a fazer parte do jogo. O que não dá é para exagerar. Ainda mais diante do que nos acostumamos a ver em campo.


Treinar um time não é fácil, principalmente no Brasil, onde a estabilidade dos técnicos é quase nula. Além disso, os seguidos problemas de saúde de alguns dos nossos principais treinadores comprovam que a pressão chega a ser desumana.


Entretanto, não é reinventando a roda que vamos evoluir. Em momentos de dificuldade como o atual, por que não lembrarmos de Telê Santana? Ele não chega a ser unanimidade, mas é apontado por muitos como o maior treinador brasileiro dos últimos 40 anos. E qual era seu mérito? A simplicidade. Telê dava menos valor a esquemas táticos e mais atenção à repetição de jogadas e fundamentos como passe e cruzamento. Dessa forma, montou a mais especial das seleções brasileiras e o São Paulo mais vencedor da história.


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