Torneio de Toulon não pode prejudicar o futebol brasileiro

No passado, o torneio de "novos" tinha um outro contexto, que não se aplica aos dias atuais e pouco vale para Tóquio-2020

Por: Bruno Gutierrez  -  16/05/19  -  22:17
Rodrygo será jogador do Real Madrid a partir da próxima temporada europeia
Rodrygo será jogador do Real Madrid a partir da próxima temporada europeia   Foto: Ivan Storti/Santos FC

Um ponto tem que ser claro para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF): o Torneio de Toulon não pode prejudicar o futebol brasileiro. Apesar de ser tradicional, a competição perdeu as características do passado e, hoje, já não tem mais a mesma importância que tinha até os início dos anos 2000. 


A competição realizada em território francês existe desde 1967, tendo sido disputadas 46 edições. O Brasil é o segundo maior vencedor, com 8 taças - a última em 2014. Entretanto, a cultura do futebol mudou. E a característica principal do torneio, também.


No passado, era um torneio de "novos". Eram jogadores que viriam a ser grandes expontes do futebol, mas que ainda figuravam nas categorias de base dos clubes ou que pouco atuavam nos times principais. Era o grande torneio revelação. Um chamariz que indicava quem seriam as futuras estrelas dos países nas próximas Copas do Mundo.


Nomes como Cristiano Ronaldo, Zidane, Ronaldo, Taffarel, Cafú, Thuram, David Beckham, Kaká e Stoichkov, por exemplo, entraram em campo em alguma das edições do Torneio de Toulon. Era, também, um torneio onde os clubes brasileiros, principalmente, torciam para o jogador ser convocado. Era uma forma de "vender" o produto na Europa, negociar uma jovem promessa, fazer caixa. 


Hoje, isso acabou. Do último título brasileiro, em 2014, apenas o zagueiro Marquinhos e o goleiro Ederson estão na seleção principal. Rodrigo Caio teve passagens, assim como Luan (Grêmio). Não se forma uma base para a seleção principal. Se a desculpa for preparar para Tóquio-2020, também não tem muito peso. Dos 20 convocados em 2014, apenas cinco foram ao Rio-2016: Rodrigo Caio, Marquinhos, Douglas Santos, Luan e Walace.


Mas, o fator principal é o futebol brasileiro. Hoje, com as saídas precoces dos nossos principais jogadores e com um mercado onde poucos tem condições financeiras de repatriar jogadores "da primeira prateleira", os jovens tem assumido função primordial. Eles são titulares em seus clubes, fazem a diferença. Você prejudicar os clubes, em momentos decisivos da Copa do Brasil, da Copa Sulamericana ou da Copa Libertadores, por exemplo, por causa de Toulon, é um absurdo. Esses atletas não deveriam nem ter sido cogitados para a disputa.


Como você vai retirar um Rodrygo do Santos? Um Anthony do São Paulo? Um Renan Lodi do Athletico-PR? Pedro no Fluminense? Pedrinho e Mateus Vital tem desempenhado função semelhante no Corinthians. Você desfalca o time com as duas opções? A regra se aplica, praticamente, a todo jogador que atua no futebol nacional. Guga, no Atlético-MG, trouxe um alívio para o torcedor do Galo, que tem arrepios com Patric. Iago é muito utilizado por Odair Hellmann no Inter.


CBF, valorize o seu produto! Você comanda o futebol brasileiro! Enfraquecer os times por causa de um torneio que, hoje, é irrevelante não faz sentido. Deixem os garotos aqui. Levem outros, que precisam desse holofote, dessa experiência. E, dirigentes de clubes, não sejam tão "bovinos". Lutem para que a sua equipe tenha a peça que precisa para aquela decisão. Seja nacional ou continental.


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