Sucesso do Del Valle não é obra do acaso

Clube possui uma trajetória que merece ser conhecida por quem pensa não haver projetos com lógica e embasamento no futebol da América do Sul

Por: Bruno Rios  -  25/09/20  -  09:35
O time sensação do continente possuía outro nome até 2006
O time sensação do continente possuía outro nome até 2006   Foto: Reprodução/Twitter

O Independiente Del Valle que impressionou tanta gente ao golear o Flamengo por 5 a 0, semana passada, pela Copa Libertadores, possui uma trajetória que merece ser conhecida por quem pensa não haver projetos com lógica e embasamento no futebol da América do Sul. Algo raro por aqui, em especial quando observamos as bobagens feitas pelos cartolas brasileiros.


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O time sensação do continente possuía outro nome até 2006: Independiente José Terán. Foi neste ano que os empresários Michel Deller e Franklin Tello mergulharam de cabeça na agremiação que disputava a terceira divisão equatoriana. Mudaram o nome para Independiente Del Valle, quitaram as dívidas e implantaram um projeto visando revelar talentos por anos a fio.


Deu certo, em especial porque a nova jornada sob comando dos dois trouxe muito do mundo dos negócios ao pequeno time da cidade de Sangolquí, de 100 mil habitantes, vizinha da capital Quito. Lá não se gasta mais do que se arrecada, não se contrata um treinador atrás do outro, os dirigentes são remunerados e não se muda um projeto após duas ou três derrotas.


Claro que a falta de tradição acaba trazendo mais estabilidade ao dia a dia do clube, mas ainda assim os resultados provam que uma gestão profissional e formada por pessoas capacitadas faz diferença. Como o foco era a revelação de talentos, Deller e Tello construíram vários campos de treinamento modernos aos garotos e locais para que eles pudessem estudar.


O resultado? O time não para de vender atletas e, ainda assim, não perde a força, pois os talentos brotam, graças a um eficiente modelo de treinamento e à estrutura. O Del Valle garimpa bem os talentos e os garotos agora querem estar na agremiação. Não à toa, o clube chegou à elite do futebol local em 2010 e começou a participar de torneios sul-americanos.


Ainda não conquistou o Campeonato Equatoriano, ironicamente o maior objetivo dos empresários 14 anos atrás, mas soma seis participações na Libertadores desde 2014, com um vice-campeonato em 2016, quando eliminou Boca Juniors e River Plate, e um título da Copa Sul-Americana em 2019, após despachar Corinthians e Independiente-ARG.


O técnico espanhol Miguel Ángel Ramírez, que comanda o Del Valle há mais de um ano, é peça importante do projeto, mas não seu principal pilar. Outros ótimos treinadores passaram por lá e o vice da Libertadores foi sob comando do uruguaio Pablo Repetto, hoje técnico da LDU. Ou seja, se Ramirez sair, tudo não irá ruir num piscar de olhos.


É bom deixar claro aos imediatistas que o Independiente Del Valle não se tornou o melhor time do mundo após a goleada sobre o Flamengo, tampouco o pior depois de perder na terça-feira (22), por 4 a 1, para o Junior Barranquilla-COL, também pela Libertadores. Mas, ao contrário de tantas equipes com mais glórias, torcedores e recursos, sabe o que está fazendo.


Talvez essa seja a grande lição aos dirigentes brasileiros. Ir ao Equador e atrair Ramírez e alguns de seus jogadores com propostas salariais é possível, mas a peça mais importante da engrenagem que fez um nanico time equatoriano virar protagonista do continente tem nome: profissionalismo. No futebol moderno, viver do acaso é cada vez mais arriscado.


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