Ao final de uma temporada conturbada, dentro e fora de campo, o Santos fecha mais um ano, o segundo seguido, sem conquistas. Em seu primeiro ano à frente do clube, o presidente José Carlos Peres, assim como o time, está em dívida (grande) com a torcida.
Eleito em oposição a uma gestão contestada, Peres chegou com o discurso da modernidade, do profissionalismo e de colocar o clube nos trilhos. “Um choque de gestão”, como ele disse e repetiu dezenas (ou centenas) de vezes durante a temporada.
Se Peres teve alguns acertos, como contratar uma empresa para realizar uma auditoria dos últimos cinco anos, profissionalizar o marketing do clube e criar um portal da transparência (ainda incompleto), também colecionou erros.
O jeitão intempestivo, reproduzido às vezes com ações e, em outros momentos, com falas desmedidas, o fez entrar em polêmicas desnecessárias. Principalmente com o técnico Cuca. Além das rusgas colecionadas com membros do Comitê de Gestão, que partiram em debandada, acusando-o de tomar decisões unilaterais.
As turbulências internas e o oportunismo de parte dos membros do Conselho Deliberativo desencadearam nos pedidos de impeachment, calcados basicamente por questões políticas. Política, aliás, que não contribui em nada para o presente e o futuro do clube.
Vencido o embate no processo de impedimento, Peres ganhou fôlego. Saiu fortalecido pela ampla maioria dos sócios, que lhe deu crédito para, enfim, manter o seu projeto em curso. Acertos pontuais nos bastidores com os principais grupos políticos do clube, ao que parece, também contribuíram para uma certa estabilidade do dirigente no cargo.
Se a paz parecia reinar após a guerra travada durante meses entre ele e seu ainda vice (e sumido), Orlando Rollo, Peres voltou a se indispor com o técnico Cuca. Desta vez, por ter falado em uma entrevista, que o treinador poderia deixar o clube em razão de um problema de saúde. De novo, desnecessário. Atitude que deixou o treinador irritado, com razão.
É preciso evoluir
A série de desencontros diretivos refletiu em campo e ficou escancarada com o episódio da eliminação do time na Libertadores. Ainda que a Conmebol seja o pior exemplo de gestão no futebol (vide a várzea que virou a mais importante competição sul-americana), o Santos também teve a sua parcela de culpa na trama, ao permitir que um simples cartão o fizesse perder um jogo no tapetão.
Passada a tempestade de 2018, chegou o momento do balanço. O torcedor exigente vai reclamar da falta de títulos. O conformado agradece por, pelo menos, o time terminar o Brasileirão de forma digna. No meio da tabela, é verdade, mas longe do fantasma do rebaixamento.
Peres pode, diante do que viveu à frente do Alvinegro na temporada, fazer uma reflexão. E creditar parte de seus erros, até, à inexperiência de administrar um clube do tamanho do Santos. Mas deve, mais do que isso, repensar atos e decisões neste período fundamental de planejamento para 2019. E para o tempo que resta de seu mandato.
Neste aspecto, deve ouvir o novo diretor executivo de futebol, Renato. Que, sabiamente, após o jogo contra o Atlético-MG, no sábado passado na Vila Belmiro, disse que não adianta falar em reforços antes de contratar o novo técnico.
Se 2018 começou com uma aposta que não deu certo, Jair Ventura, 2019 não pode ter início da mesma maneira. Infelizmente, a saída inesperada de Cuca criou essa lacuna, que deve ser resolvida com critério e bom senso.
Abelão é a bola da vez. Experiente, gosta de trabalhar com jogadores da base e é um profissional sério, que impõe respeito. O que poderia ajudar a controlar os rompantes do presidente.
Roger Machado, apontado como candidato, vem de trabalhos ruins no Galo e no Palmeiras, e seria uma nova aposta (furada), como foi Jair Ventura. Treinadores gringos são cogitados, o que não soa como uma boa solução, pelo desconhecimento que eles têm do futebol brasileiro. E do Santos.
Portanto, como diz o bordão, “muita calma nessa hora”. É preciso ouvir. Mais do que falar. É necessário ter autoridade. Sem ser autoritário. É fundamental refletir. E evoluir. O Santos e os santistas merecem um 2019 condizente à sua tradição de glórias. Deve voltar a ser protagonista. Se liga, presidente!