Santos não aprende com erros e perde uma década, de novo

Cenário de 2020 tende a ser semelhante ao de 2010: pouco dinheiro e apelo para as categorias de base

Por: Bruno Gutierrez  -  12/12/19  -  14:47
José Carlos Peres foi até o Rio de Janeiro para tentar convencer Abel Braga, mas acordo não decolou
José Carlos Peres foi até o Rio de Janeiro para tentar convencer Abel Braga, mas acordo não decolou   Foto: Ivan Storti/Santos FC

"Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la". A frase, creditada ao político irlandês Edmund Burke, nunca fez tanto sentido nos lados da Vila Belmiro. Infelizmente, os dirigentes santistas que passaram pelo clube ao longo da última década devem desconhecê-la, uma vez que nada mudou.


Para fazer esse exercício, torcedor santista, vamos voltar a 2002. Após dois anos de investimentos e contratações de medalhões (Viola, Marcelinho Carioca, Oséas, Valdo, Válber, Carlos Germano, Márcio Santos, etc), o Santos estava quebrado. Sem dinheiro para investimento, a ordem do presidente Marcelo Teixeira foi apostar na base.


Naquele ano começaram a ressurgir os meninos da Vila: a geração "Diego e Robinho". Também apareceram Alex, Paulo Almeida, William "Batoré" e Douglas. Jovens promessas contratadas como Elano e Renato. Além de Léo, dispensado pelo Palmeiras. Aqueles garotos reergueram o clube.


O Alvinegro foi campeão brasileiro, se colocou novamente entre os grandes candidatos a títulos. Nos anos seguintes vieram jogadores com maior rodagem, como Ricardinho, Ricardo Oliveira, Paulo César, Zé Roberto, Zé Elias, entre outros. O Peixe conquistou mais um Brasileirão (2004), dois Paulistas (2006 e 2007), e um vice-campeonato da Copa Libertadores da América (2003).


O clube obteve patrocínios, mas lucrou muito mais com a venda das joias da base. Especialmente, Robinho, em uma negociação tumultuada com o Real Madrid.


Marcelo Teixeira não errou totalmente na gestão financeira do clube. Fez investimentos, como a nova estrutura do CT Rei Pelé. Mas, caiu na vala comum de muitos cartolas. Ao invés de deixar um caixa saudável, apelou para os gastos quando a má fase veio. Se gastou muito com apostas que não deram certo. Processos trabalhistas movidos pelos medalhões do início da década aumentaram a dívida do clube.


Ao deixar o comando do Alvinegro após perder a eleição de 2009, Marcelo Teixeira deixou as finanças em situação delicada, além de, posteriormente, entrar em um processo que quase culminou na penhora da Vila Belmiro, pelo clube estar devendo ao ex-mandatário.


Novo ciclo: geração Ganso e Neymar


Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro assumiu em 2010 no melhor estilo Márcio Braga quando cortou os esportes olímpicos no Flamengo: "Acabou o dinheiro".


O Santos se reforçou com atletas que não inspiravam muita confiança como Marquinhos, Marcel, Bruno Aguiar, Bruno Rodrigo e Zé Eduardo, por exemplo. Trouxe, como forma de homenagem, Giovanni, para o ídolo encerrar a carreira no clube de coração. Novamente, voltou a apostar na base.


E, assim como em 2002, os novos meninos da Vila salvaram o clube: a geração "Ganso e Neymar". Nela apareceram Rafael, André, Adriano e Alan Patrick. Wesley se reinventou. Edu Dracena, depois de uma grave lesão, retomou o bom futebol. Robinho foi repatriado. O time engrenou. Essa geração fez com que o Messias finalmente fosse campeão com a camisa do Peixe: Copa do Brasil e Paulista.


Essa geração conquistou um tricampeonato paulista (2010, 2011 e 2012), além de 2015 e 2016. O Santos voltou a ser campeão da Libertadores (2011) e vice-campeão mundial no mesmo ano.


Com Neymar, muitos patrocínios vieram na primeira metade da década. Além disso, o Alvinegro lucrou muito com a venda de atletas. Felipe Anderson, Rafael, Neymar, Gabriel, Rodrygo entre outros, renderam cifras para os cofres.


Mas o desastre que é a política do clube fez tudo ir por água abaixo. LAOR, Odílio Rodrigues, Modesto Roma Jr, e agora, José Carlos Peres, cometeram uma série de erros. A dívida voltou a crescer e as apostas erradas se tornaram cada vez mais perigosas. Leandro Damião e Cueva são só exemplos dos erroscrassos destas gestões.


E 2020?


Chegamos a 2020, mas parece 2010. O dinheiro acabou, de novo. A responsabilidade de manter o Santos no patamar de vice-campeão brasileiro e postulante a títulos recairá, novamente, nos meninos da Vila. A torcida e dirigentes rezam por um novo raio. A primeira, para voltar a levantar taça. O outro lado, para fazer algum dinheiro.


Que após esta gestão Peres, que encerra em 2020, o torcedor possa eleger um presidente que realmente pense a longo prazo no clube. Talvez, como fezEduardo Bandeira de Mello no Flamengo. Apesar da falta de títulos, o cartola pavimentou a estrada que fez Rodolfo Landim colher os frutos.


Ou, pelo menos, um encanador, para consertar o vazamento de dinheiro dos canos das finanças do Alvinegro.


Com a palavra, Marcelo Teixeira, ex-presidente do Santos e presidente do Conselho Deliberativo do Alvinegro


Em contato com a coluna, o ex-presidente Marcelo Texeira afirmou que, durante sua gestão, o Santos não perdeu recursos financeiros com atletas consagrados e mais experientes contratados no início de 2000 e 2001. "Em todos eles foram feitas rescisões amigáveis ou acordos na Justiça que não ultrapassaram, no máximo, o ano de 2004. Muitos desses acordos concluídos sem utilização de recursos do clube".


Segundo o ex-mandatário, apartir de 2001, uma nova política da base foi implantada, e com o CT Meninos da Vila construído em uma nova estrutura, o clube trabalhou gerações de atletas desde o sub-9, "para culminar com fantásticas gerações e revelações que deram sequência aos títulos e as possibilidades de novos recursos ao clube a partir de 2008".


"Se Bandeira de Melo pavimentou para novas gestões no Flamengo, fizemos muito mais, em sanear o clube de dívidas e deixar legado como craques que honraram a camisa alvinegra a partir de 2010. O meu planejamento era ser campeão da Libertadores, com outra nova geração, estava certo nas ações adotadas, mesmo porque o clube não estava prejudicado em dívidas, muito menos com penhora em Vila Belmiro, que a gestão a época fez de propósito apenas para prejudicar e arranhar a minha imagem".


Ainda de acordo com Teixeira, o passivo do clube era de pouco mais de R$70 milhões, "demonstrando a austeridade e sucesso na gestão até 2009, por aumentar o patrimônio, conquistar títulos resgatando a auto estima e recolocando o Santos FC no seu devido lugar por mais de 20 anos, de 2000 até os dias de hoje, já que revelações de nossa época como Rodrygo ainda são revelados, graças a visão de presente e futuro e aos dirigentes que trabalharam nesta década vitoriosa no clube".


O ex-presidente disse que a coluna tentou colocar sua gestão "em uma vala comum, creditando graves erros de contratações de outras administrações que estão culminando no atual estágio do clube, que parou de crescer dentro e fora do campo".


Teixeira ainda se defendeu ao dizer que, desde que assumiu, a gestão Laor, então oposição, bateu muito em algumas teclas. "Penso que, em parte, com o tempo os fatos foram sendo esclarecidos, mas ainda existem versões que ficaram como verdades".


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