Santos de Sampaoli precisa encontrar o equilíbrio

Técnico ainda tem crédito com a torcida, mas precisa fazer o time ser mais efetivo e menos vulnerável

Por: Régis Querino  -  22/05/19  -  01:10
Atualizado em 22/05/19 - 01:12

A filosofia de trabalho do técnico Jorge Sampaoli casou de imediato com a expectativa da torcida do Santos. Apreciador do futebol ofensivo, o treinador se identificou com a história do time, traduzida em títulos, ataques arrasadores e por equipes que tratam bem a bola. O “amor pelo balón” encontrou aqui o espaço ideal para prosperar. 


Fechada com Sampaoli, a torcida já comprou briga no início do ano com comentaristas e jornalistas da grande imprensa que desdenhavam do trabalho do gringo. Citando suposto descontentamento do técnico, davam prazos para a sua debandada da Vila Belmiro. 


Em sintonia com o argentino, que ganhou ainda mais pontos por aderir ao estilo santista de viver, despojado e ligado aos esportes de praia, os alvinegros entenderam até a vexatória eliminação precoce na Copa Sul-Americana. Na primeira fase. E para um nanico sul-americano, o tal de River Plate do Uruguai.


No Paulistão, as goleadas foram assimiladas. Os 5 a 1 aplicados pelo Ituano, em Itu, foram entendidos como acidente de percurso de um time em formação. A “explicação” para os 4 a 0 do Botafogo, em Ribeirão Preto, na última rodada da primeira fase do Estadual, foi que o time já estava classificado e jogou recheado de reservas. 


Após um começo de Brasileirão promissor, com vitória sobre o Grêmio em Porto Alegre e co-liderança até a quarta rodada, veio o clássico de sábado passado, contra o Palmeiras. Boa chance de medir forças contra o atual campeão brasileiro.


A terceira goleada sofrida no ano, no entanto, arranhou um pouco a imagem da equipe e do próprio Sampaoli. Afinal, levar 4 a 0 de um time do interior, jogando com uma formação majoritariamente reserva, é muito diferente de tomar os mesmos 4 a 0 de um dos maiores rivais. 


As críticas vieram de todos os lados. E com razão. Nada que abale seriamente a reputação que o técnico tem com o torcedor, mas time grande que se preze não pode se acostumar a ser goleado. E três goleadas em pouco mais de quatro meses de trabalho, convenhamos, é uma conta que não fecha com a tradição santista. 


Números levantados pelo colega Bruno Lima, setorista do Santos no jornal A Tribuna, mostram que a derrota elástica para o Palmeiras foi a décima goleada sofrida por equipes dirigidas por Sampaoli desde 2011, quando ele começou a se destacar no comando da Universidad de Chile. É o preço pago pela ousadia pregada pelo gringo.


Equilíbrio é fundamental


Não tenho dúvida sobre a capacidade do argentino de levar o Santos de volta ao protagonismo nos cenários nacional e internacional. Para isso, ele precisa de tempo e de um elenco mais qualificado. Algumas apostas deram certo, como o zagueiro Aguilar e o atacante Soteldo, que vem crescendo de produção.


Mas há aspectos a se considerar no trabalho, como a vulnerabilidade a que o time se expõe em alguns jogos. E uma aposta ruim em especial que custará caro aos cofres do clube: o meia Cueva, pedido por Sampaoli, que não dá indício de que vá retomar o bom futebol que um dia os são-paulinos o viram jogar.


Praticar o DNA ofensivo é uma exigência do torcedor santista. Mas nem por isso ele será compreensivo a ponto de entender que, para ver o time atacar o tempo todo, vai ter que se acostumar a levar goleadas.


Se faz urgente que Sampaoli e sua equipe trabalhem para fazer o time ter maior efetividade no ataque e consistência defensiva. Derrotas serão inevitáveis, uma goleada ocasional faz parte do roteiro, mas para que o casamento do argentino com o Alvinegro não comece a ter turbulências, é preciso ter equilíbrio.


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