Quando um time vai mal, a torcida protesta. E em meio a gritos e ofensas, um canto já ganhou ares de hino, não importa a camisa: "Vergonhaaaaa, vergonhaaaaa, vergonha, time sem-vergonha". Contudo, a paródia da canção “Sorte Grande”, de Ivete Sangalo, deveria ganhar nova versão da torcida do Santos: “Vergonhaaaaa, vergonhaaaa, vergonha, o Santos tem vergonha”.
O time do Santos tem muita vergonha na cara. Só isso explica o bom desempenho diante de tantos problemas nos bastidores. Em condições normais, um clube irresponsavelmente endividado, devendo aos jogadores, proibido de contratar e com o presidente afastado estaria brigando para não cair, além de já ter sido eliminado da Libertadores. Mas, com dignidade e capacidade de superação invejáveis, Cuca e seus comandados surpreendem a cada rodada.
O sexto lugar no Campeonato Brasileiro e a classificação antecipada às oitavas de final da Libertadores passam muito pela fase espetacular de Marinho e pelas defesas milagrosas de João Paulo, os símbolos do time. Mas só isso não seria suficiente. O bom momento é explicado pela mentalidade vencedora que Cuca foi capaz de incutir em cada um dos jogadores, dos mais jovens aos mais experientes. Enquanto no São Paulo, seu último clube, o treinador se viu tolhido pela onipresença de Daniel Alves, que escolhe o treinador e a posição em que vai jogar, no Santos ele encontrou liberdade para trabalhar, até pela falta de credibilidade da diretoria.
Mesmo sem as contratações que pediu, Cuca valorizou todos os jogadores e deu oportunidade a revelações que começam a mostrar talento. O trabalho vem dando tão certo que nem o mau momento de Carlos Sánchez – agora uma baixa por tempo indeterminado – pesou.
Vivendo no limite, o Santos não empolga por ser brilhante. O espetáculo está na dedicação. Apesar do elenco pequeno e recheado de jovens, cada bola é disputada como se fosse a última. Dessa forma, deficiências como a falta de criatividade no meio de campo e a ausência de craques são compensadas.
O Campeonato Brasileiro é duro, e a Libertadores e a Copa do Brasil são competições tão difíceis quanto traiçoeiras. Imaginar o Santos campeão nacional é pedir demais mesmo para os mais otimistas. Entretanto, nas disputas eliminatórias dá para sonhar. Uma tabela favorável e a disposição em doses ainda maiores podem fazer a diferença.
Seja como for, o Santos orgulha seu torcedor. Em matéria de futebol paulista, Palmeiras, São Paulo e Corinthians, frequentemente chamados de “time sem-vergonha” por seus torcedores, têm um exemplo a seguir.