¿Qué pasa, Sampaoli?

De sensação a time comum, Santos e seu técnico precisam retomar o rumo para mirar um feliz Ano Novo

Por: Régis Querino  -  29/10/19  -  22:44
Atualizado em 29/10/19 - 22:53
Com altos e baixos, Santos de Sampaoli espera por um término feliz no Brasileirão
Com altos e baixos, Santos de Sampaoli espera por um término feliz no Brasileirão   Foto: Ivan Storti/Santos FC

A intensidade, marca registrada do Santos na maior parte do primeiro turno do Brasileirão, deu lugar à irregularidade. O encantamento pelo jogo santista ficou para trás e poucos lembram  que o time ousou ser um dos protagonistas da temporada.


Tudo começou na 14ª rodada. A derrota de virada para o São Paulo, por 3 a 2, no dia 10 de agosto, no Morumbi, mudou o rumo do time no campeonato. Além de dar fim à série de sete vitórias consecutivas do Alvinegro, a escorregada fez com que a equipe nunca mais fosse a mesma.


A volúpia de jogo, defensiva e ofensiva, cobrada  pelo incansável Jorge Sampaoli, deu lugar a um time lento, previsível,   por vezes apático, sem criatividade e inspiração em campo.


A perda da liderança, após o indigesto 3 a 3 com o Fortaleza na Vila Belmiro, quando fechou o primeiro tempo vencendo por 3 a 0, no dia 25 de agosto, pela 16ª rodada, foi emblemática. O sintoma mais evidente da queda de produção de um time que se apresentava, ainda que surpreendentemente, como candidato ao título.


De patinada em patinada, com apresentações medianas, algumas derrotas e vitórias magras, o time só conseguiu relembrar aquele Santos das 13 primeiras rodadas na vitória por 2 a 0 sobre o Palmeiras, no dia 9 de outubro, na Vila Belmiro, pela 24ª rodada.


Tanta instabilidade não só fez o time deixar a ponta da tabela, como o deixou 15 pontos atrás do líder Flamengo na classificação, após a 28ª rodada. Tanta oscilação não pode ser creditada somente às deficiências do elenco, não é mesmo, Sampaoli?


Créditos e débitos


Se não há como negar que o argentino tem mérito em manter o Santos, mesmo com suas limitações, no G4 durante a maior parte do Brasileirão, também é impossível não questionar o treinador.


Em um elenco onde a qualidade técnica é escassa, não se pode abrir mão do talento de Carlos Sánchez. Na temporada, o  uruguaio é o artilheiro do time, com 14 gols, e o líder em assistências: oito.  E Sampaoli o deixou no banco de reservas contra o Corinthians.


O técnico justificou a escalação de Jean Mota e Evandro como parte de seu “plano de jogo” para o clássico.  E disse que no elenco santista “não  há  jogadores que se destacam sobre os outros”.


A tática de Sampaoli pode até ser interessante para motivar os atletas, mas é capaz de Sánchez, com uma perna só, jogar mais do que Jean Mota e Evandro juntos. Não usar o uruguaio, sequer entrando no segundo tempo, foi uma afronta. Ao torcedor. Ao futebol. Ao espetáculo.


As constantes mudanças na escalação  (53 formações diferentes em 55 jogos no ano) também contribuem para a queda de rendimento da equipe. Não que Sampaoli  não possa mexer em uma peça aqui e outra ali em algumas partidas, de acordo com o adversário. Mas a quebra de entrosamento e a  insistência nos três zagueiros, às vezes, soam como teimosia.


Menos mal que ele deixou de bancar o instável Felipe Aguilar, após uma sequência horrível do zagueiro colombiano no início da derrocada do time no Brasileirão.


E 2020?


Com dez rodadas a cumprir no campeonato, o Santos precisa confirmar a vaga direta à Libertadores 2020. Ou seja, ficar entre os quatro primeiros. Até para justificar o alto investimento (mais de R$ 77 milhões)  feito na temporada.


Se não formou um time dos sonhos e tem um elenco inferior ao de outros concorrentes, Sampaoli mostrou que pode conduzir o Santos a este objetivo. Ainda que ele não  esteja convicto de que estará à frente da equipe no próximo ano.


Além do assédio de clubes brasileiros e do exterior, o argentino tem se mostrado  incomodado com a provável falta de reforços de peso em 2020.


Neste ponto, Sampaoli deveria se  lembrar que, a seu pedido, o Santos bancou as contratações do meia Cueva e do atacante Uribe. E que o peruano vai custar mais de R$ 26 milhões aos combalidos cofres do clube  a partir de janeiro.


O argentino, assim como qualquer trabalhador, é livre para aceitar propostas e condições de trabalho vantajosas. Mas poderia dar mais uma contribuição ao futebol brasileiro (além da proposta de jogo ofensiva e das entrevistas sinceras), honrando o seu contrato de dois anos com o clube.


Após o primeiro ano de adaptação ao futebol brasileiro e  de formação de uma espinha dorsal do time, a continuidade do trabalho poderia render frutos em 2020. Com  o  aproveitamento e observação de alguns  garotos da base no Paulistão e  a contratação de reforços pontuais.


A bola está com o professor.


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