Por dirigentes à altura do Santos Futebol Clube

Saída de Paulo Autuori no fim do ano é mais um episódio causado pelas más gestões que assolam o Alvinegro nas últimas décadas

Por: Régis Querino  -  19/11/19  -  21:29
Atualizado em 19/11/19 - 21:41
Por dirigentes à altura do Santos Futebol Clube
Por dirigentes à altura do Santos Futebol Clube   Foto: Ivan Storti/Santos FC

O anúncio do superintendente de futebol Paulo Autuori nesta terça (19), de que deixará o clube ao fim da temporada, é mais um capítulo infeliz na gestão de José Carlos Peres. E na história do Santos, que vem, há tempos, sendo vítima da falta de capacidade gerencial de seus dirigentes.


Autuori, em que pese contra ele o fato de ficar pouco tempo nos clubes em que trabalhou nos últimos anos, sempre me passou a imagem de um cara sério, que tenta implantar no Santos uma filosofia de trabalho baseada em critérios técnicos e  profissionais. Com gente capacitada para ocupar cargos estratégicos.


A vinda do diretor técnico William Thomas, que esteve com Autuori no Athletico-PR, é uma demonstração clara da tentativa de fazer com que o Santos volte às suas origens, fortalecendo as categorias de base para suprir as necessidades do time principal.


A missão passa pela captação de talentos e a integração da forma de jogar da base com a equipe profissional. Algo que o time paranaense vem fazendo bem, com a revelação de bons jogadores (com um custo muito baixo) e a conquista de títulos, como foram os da Copa Sul-Americana 2018 e da Copa do Brasil 2019.


O projeto de Autuori, no entanto, esbarrou na falta de bom senso de José Carlos Peres, que ainda não aprendeu que o cargo que ocupa tem um peso muito grande. Assim como as suas palavras.


Ao sugerir que Gustavo Henrique deveria ser barrado porque estaria travando a renovação do contrato, e pedir a reintegração de Cueva, quando o técnico Jorge Sampaoli e Autuori já haviam confirmado que o peruano estava fora dos planos, Peres errou.


Como errou em várias outras ocasiões. A começar na escolha de seu vice-presidente, Orlando Rollo, com quem poderia, no máximo, sentar para tomar um café, dada a incompatibilidade de ambos para trabalhar em conjunto.


Peres já deveria ter aprendido que não pode falar o que pensa publicamente. Como presidente do Santos, ele deve  ponderar o que dizer. Antes de dizer. Já foi avisado sobre isso várias vezes por pessoas ao seu redor, mas parece dar de ombros.


As atitudes impensadas do mandatário fazem com que um projeto que poderia começar a dar frutos em 2020 possa ir para o ralo. Porque nesta terça (19) foi Autuori quem disse que não permanece no clube. Amanhã ou ao fim do Brasileirão, ao que tudo indica, deve ser Sampaoli.


Abrindo parênteses


E aqui é preciso abrir alguns parênteses. Primeiro: se Sampaoli tem o direito de pedir contratações de peso para fortalecer o time e disputar títulos, também tem que entender as limitações financeiras do clube. Realidade que faz parte da maioria dos times brasileiros.


O argentino também precisa lembrar que foi ele quem indicou o quase ex-jogador em atividade Cueva. Um bonde quase tão caro quanto Leandro Damião. Que vai comprometer ainda mais as finanças alvinegras a partir de 2020.


O segundo parênteses vale para pontuar que José Carlos Peres não é o culpado pela crise financeira que assola o Alvinegro. Ele herdou dívidas milionárias de outras más gestões que passaram pelo clube nas últimas décadas. Sim, décadas. Mas colaborou, também, para o aumento do rombo financeiro que pode comprometer o futuro do clube. E de sua própria gestão.


Diante deste cenário, que só não é mais desolador porque o time já garantiu vaga na Libertadores 2020 e  briga pelo honroso vice-campeonato brasileiro (em uma temporada onde o Flamengo sobra na ponta), fica uma reflexão.


O Santos não precisa de presidentes à moda antiga, que colocam dinheiro do bolso para ser ressarcidos com juros e correções monetárias.  O Santos não precisa de aventureiros que veem a presidência cair nos seus colos.


O Santos não precisa de sucessores com sobrenomes. O Santos não precisa de candidatos que batem no peito, dizendo-se santistas, mas que, quando eleitos, usufruem do clube como seu fossem suas empresas particulares, deixando um legado de  dívidas milionárias.


O Santos precisa de dirigentes com capacidade de gestão. Gente habilitada, cercada por um time competente e profissional, para administrar um dos maiores clubes do futebol mundial, adequando conceitos modernos do mercado à valiosa marca centenária. O Santos, enfim, precisa de dirigentes à altura de sua história.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter