O gol, quem diria, virou detalhe no Brasil

Análises sobre futebol ignoram o jogo e se restringem ao resultado

Por: Heitor Ornelas  -  23/08/19  -  21:48
Atualizado em 23/08/19 - 22:08
Carille é um dos adeptos do 'futebol cauteloso' no Brasil
Carille é um dos adeptos do 'futebol cauteloso' no Brasil   Foto: Daniel Augusto Jr./Corinthians

Em 1994, às vésperas da Copa do Mundo dos Estados Unidos, Carlos Alberto Parreira disse que o gol era um detalhe. Como uma aberração dessas pode ter saído da boca de alguém tão inteligente? Na verdade, o que o treinador do tetra quis dizer é que, quando o time joga bem e as jogadas são feitas de maneira correta, o gol é uma consequência natural. 


Nos dias de hoje, porém, a frase de Parreira em seu estado bruto faz todo o sentido quando se leva em consideração a forma com que os treinadores enxergam o futebol. Na quinta-feira, após o monótono 0 a 0 entre Corinthians e Fluminense, pela Copa Sul-Americana, Fábio Carille reprovou o que os times fizeram, dizendo que o jogo foi chato e truncado. Na verdade, ele só disse isso porque o Corinthians não ganhou. Se o time tivesse jogado da mesma forma ou até pior, mas a bola de Gustagol no travessão tivesse entrado, ele teria se mostrado satisfeito, como fez em diversas ocasiões.


As vitórias, desde sempre, escondem defeitos e deficiências. De uns tempos para cá, porém, o problema se agravou. E Carille não está sozinho. Odair Hellman, técnico do Internacional, é outro que aprova ou reprova conforme o placar. Nas vitórias, a maioria delas magras, ele aponta virtudes óbvias; nos tropeços, ocasiões nas quais a produção foi idêntica à dos triunfos, a saída é reclamar do jogo, do juiz, do cansaço, do campo, da falta de coragem do adversário...


Fábio Carille e Odair Hellman são adeptos do jogo cauteloso, tal qual Mano Menezes, Felipão, Cuca (nos últimos tempos), Abel Braga e até Tite, que só não o faz com mais entusiasmo porque está na Seleção Brasileira. Virou moda jogar fechado à espera de uma bola que decida a partida. Eles não violam nenhuma regra montando times dessa forma, mas convenhamos: a quantidade de partidas ruins não passou da conta no Brasil?


É por isso que Jorge Sampaoli, Jorge Jesus, Renato Gaúcho, Rogério Ceni e Rodrigo Santana (Atlético-MG) merecem elogios. Eles podem vir a não ganhar nada no final do ano – Ceni já ganhou com o Fortaleza –, mas certamente é mais agradável assistir aos jogos das equipes comandadas por eles. 


O torcedor, apaixonado por natureza, tem todo o direito de julgar conforme o resultado, ignorando o que se passa durante os 90 minutos. Mas, em uma análise isenta, não dá mais para tolerar a pasmaceira.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter