O apego do Santos a seus ídolos

Interesse na volta de Ricardo Oliveira evidencia essa forte característica do clube, que vem de tempos

Por: Alexandre Fernandes  -  01/05/19  -  19:48
  Foto: Ivan Storti/Santos FC

Pode ser que Ricardo Oliveira nem venha para o Santos, e, sinceramente, meu palpite é que o fim dessa novela será esse mesmo. Mas só o interesse na volta do atacante de 38 anos, que hoje defende o Atlético-MG, mostra o apego que o clube e boa parte de sua torcida tem por seus ídolos.


Não, não acho exagero classificar Oliveira como ídolo. É claro que, para se chegar a esse nível num clube como o Santos, é preciso transpor um sarrafo bem alto. Mas um atleta que se tornou o sexto maior artilheiro do clube na era pós-Pelé, com 92 gols em 173 jogos, fez, sim, o suficiente para muito torcedor comprar uma camisa com seu nome nas costas.


Mas voltando à questão do apego, eu não estou aqui querendo dizer o que é certo ou errado. Quem não se identificou com o Andy ao tentar se desfazer de seus brinquedos em Toy Story 3? É que essa dificuldade do Santos de romper o cordão que o une a seus ídolos é, realmente, uma característica muito forte.


Vou aqui lançar uma tese. É possível que isso tenha começado nos anos 80, quando as conquistas começaram a rarear. O gol que deu ao Santos o título paulista de 1984 transformou Serginho Chulapa em ídolo máximo daquele período. Sem ganhar nada depois disso, o clube sempre recorria a ele. Foram mais três passagens de Serginho pela Vila como jogador. Todas elas já sem o mesmo brilho.


Na década de 90, Giovanni conseguiu algo que eu, pelo menos, considero dificílimo, que foi se tornar ídolo, com i maiúsculo e acento, mesmo sem conquistar títulos. Ele era, de fato, um craque e sua partida para o Barcelona, em 1996, tinha um tom de ‘até breve’ para os dois lados.


O Messias voltaria em 2005, já com o Santos de volta à rotina de conquistar títulos e com Robinho como principal ídolo. Fez uma boa temporada, mas foi embora no ano seguinte porque Vanderlei Luxemburgo abriu mão dele. Teve uma terceira passagem em 2010, mas praticamente não teve chances, enquanto jovens Neymar e Ganso pediam passagem. Preferiu ir embora de vez.


Falando em Luxemburgo, até de técnicos o Santos teve dificuldades para desapegar. Sua conturbada saída do clube para o Corinthians magoou tanto os torcedores que era impossível imaginar seu retorno. Mas voltou em 2004 para conquistar o Brasileirão daquele ano e outras duas vezes.


Aliás, naquela década, era praticamente assim: quando o técnico do time não era Luxa, era Emerson Leão, que foi o comandante da equipe campeã brasileira de 2002.


E seguindo nessa toada, o símbolo maior desses dois títulos nacionais povoa até hoje o imaginário de muitos santistas. Todo ano se especula uma possível volta de Robinho. E, repito, isso depois de o clube ter voltado a conquistar títulos com frequência e do surgimento de novos ídolos, como Neymar.


Robinho teve mais duas passagens pela Vila. Uma em 2010, quando dividiu o protagonismo com Neymar, Ganso e André na conquista da Copa do Brasil. E outra entre 2014 e 2015, não tão marcante, mas ajudando a equipe a faturar um título paulista. Hoje com 35 anos, o Rei das Pedaladas defende o Istanbul Basaksehir, atual líder do Campeonato Turco.


E podíamos ter falado de outros, como Fabio Costa, Renato, Elano e até o zagueiro Alex, que só não teve sua volta ao Santos sacramentada no final de 2016 em virtude dos problemas físicos. Todos esses, em algum momento, fizeram o caminho de volta à Vila Belmiro.


Posso até achar que Ricardo Oliveira não fará sua terceira passagem pelo Santos. Mas a ideia fixa do clube em trazê-lo e o abraço de parte da torcida a essa causa parecem tão fortes que não dá para cravar isso como impossível.


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