Lição do Flamengo vem de fora de campo

Clube só chegou aonde chegou porque passou a levar a gestão a sério

Por: Heitor Ornelas  -  25/11/19  -  20:12
Atualizado em 25/11/19 - 20:27
  Foto: Ellan Lustosa/Código19/Estadão Conteúdo

Apesar de ter sido inferior ao River Plate e de ter dado muita sorte na decisão da Libertadores, o Flamengo nem precisa conquistar o Mundial de Clubes, a ser disputado no mês que vem, para fechar a temporada como o grande clube sul-americano de 2019. Mas, para que o time rico e cheio de grandes jogadores que correspondem em campo fosse formado, um caminho longo e difícil foi percorrido na sede administrativa do clube.


Do passado em que era chacota porque não pagava jogadores e vivia lutando contra o rebaixamento, até os dias de glória, com atuações de gala e uma torcida que delira, o Flamengo abandonou os vícios de gestão e passou a aproveitar o enorme potencial que tem para gerar receitas e fortalecer o futebol.


E nesse processo, o ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello foi fundamental. Economista renomado, ele aplicou os conhecimentos do mercado financeiro na administração rubro-negra e contrariou interesses mesquinhos de conselheiros e aspones para levantar o clube. Levantou dinheiro, fechou torneiras que pingavam desnecessariamente e o resultado está aí.


Entretanto, nessa retomada, as dificuldades foram grandes. Sob a gestão Bandeira, o Flamengo conquistou um único título de expressão, a Copa do Brasil de 2013. Apesar de já contar com jogadores renomados - em menor quantidade do que na atualidade, claro -, o time sofreu derrotas marcantes e viu a credibilidade do projeto subir no telhado. Afinal, um grande trabalho que não termina em títulos tem pouco ou nenhum valor.


O jeito tranquilo e por vezes engraçado de Bandeira chegou a virar o retrato de um time "banana", como diziam os mais fanáticos. Para a sorte do Flamengo, porém, os frutos seriam colhidos pela gestão seguinte, que começou com a tragédia que resultou na morte dos dez garotos das categorias de base, ainda à espera de uma solução adequada para a maioria dos familiares das vítimas, mas que agora é coroada pelas conquistas e pela perspectiva de seguir no topo por muito tempo.


No Brasil, somente o Palmeiras, outro que evoluiu muito administrativamente, rivaliza com o Flamengo em termos de investimento e resultados. Ainda assim, a vantagem é dos cariocas, por causa da formação de um time que ganhou a Libertadores e o Brasileiro de forma que há muito não se via por aqui.


Enquanto isso, clubes como Corinthians, São Paulo, Vasco, Cruzeiro, Atlético-MG e Santos se perdem nos velhos vícios do futebol, reféns do clientelismo e da política amadora dos clubes. Caso queiram abandonar a condição de meros coadjuvantes, não precisam falar em profissionalismo, criar comitês e conselhos de gestão e buscar executivos com pose de inteligentes. Isso eles já fazem há muito tempo, mas não praticam.


A saída é gastar menos do que arrecada e colocar os interesses do clube em primeiro lugar. Entregar os principais departamentos, como futebol, finanças e marketing, a gente que é do ramo, e não a amigos, conselheiros ou curiosos dispostos a faturar por faturar.


Até que isso aconteça, o Flamengo deve seguir abastecendo seu cofre e sua galeria de troféus.


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