La Casa de Tócame Roque

Crise financeira só expõe a falta de comando e credibilidade da direção do Santos

Por: Bruno Gutierrez  -  06/02/20  -  21:01
  Foto: Ivan Storti/Santos FC

Nascer em uma família espanhola faz com que você aprenda frases e ditados do país. Minha mãe nasceu em Madri. Durante a minha infância, quando a casa estava cheia, tudo uma bagunça, uma grande desorganização feita pelas minhas irmãs, eu e os amigos da vizinhança, ela dizia: "Eso parece la Casa de Tócame Roque".


Logo, cresci entendendo que esse ditado seria o equivalente à Casa da Mãe Joana no Brasil. "Casa de Tócame Roque" era um local em Madri onde viviam 72 famílias. Um local de muitas brigas e problemas e que foi desapropriado depois de uma longa disputa judicial. Dois irmãos brigavam pela propriedade: Juan e Roque.


A decisão sobre a herança, por ser mal redigida, não deixou claro de quem era a propriedade. Por isso, em Madri, se popularizou o diálogo "tócame a mí", e em contestação, o outro responde, "no, tócame a mí", na disputa sobre quem seria o dono do imóvel. Por isso, "Tócame Roque".


E essa é a impressão que se tem quando olhamos o comando do Santos. Afinal de contas, quem manda no clube? O presidente José Carlos Peres? O Comitê Gestor? Ninguém?


A crise financeira só agrava o problema de falta de credibilidade sobre a alta cúpula santista. Não existe mais um respeito hierárquico. E os sinais de que isso aconteceria são claros e antigos. Lá atrás, Cuca já havia criticado o amadorismo do clube no caso Sánchez, que culminou com a eliminação na Libertadores. As constantes brigas entre Peres e Sampaoli, bem como a passagem de Paulo Autuori, foram outros sinais.


No fim do ano passado, Marinho fez uma cobrança pública sobre atrasos de salários. Novo caso veio à tona quando Carlos Sánchez foi especulado no Grêmio. Tudo porque o Alvinegro não teria quitado uma dívida de R$ 1 milhão com representantes do volante, causando insatisfação no staff do uruguaio.


A situação envolvendo Soteldo é mais uma que soma ao "currículo" da atual diretoria, que está sendo pressionada pelo Huachipato, do Chile, para vender o venezuelano ao Atlético-MG. O próprio atleta deu entrevista ao portal UOL cobrando que o mandatário santista honre os compromissos financeiros.


Por fim, Cueva (que já deveria ter sido mandado de volta para a Rússia em setembro), simplesmente abandonou o clube e se mandou para o México, forçando uma saída junto à Fifa para poder firmar contrato com o Pachuca. 


Ninguém se preocupa em expor a grave situação do clube. E a direção parece não se importar em resolver, ao menos, a crise de imagem que o Santos passa para o mercado. Parece que qualquer um pode fazer o que quiser e o Alvinegro está frágil a qualquer ataque. 


Em um exemplo oposto, o Athletico-PR fez jogo duro com Rony e, apesar dos esforços de Palmeiras e Corinthians, renovou o contrato com o jogador, aumentando a multa rescisória. Com certeza, irá lucrar mais ainda com o jogador, que ficou com o time B até que tudo fosse resolvido.


Já no Santos, a impressão é que é a Casa de Tócame Roque, e na crise de comando e financeira, qualquer um parece fazer o que bem entende.


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