José Carlos Peres precisa dar respostas à torcida santista

Eleito com o discurso de 'transparência', presidente precisa urgentemente se posicionar sobre os imbróglios envolvendo o meia Cueva e o atacante Soteldo

Por: Régis Querino  -  04/02/20  -  22:20
  Foto: Ivan Storti/Santos FC

O mau momento do Santos em campo neste início de temporada não é nada perto da turbulência nos bastidores do clube. Em seu último ano de mandato, José Carlos Peres tem de lidar com uma acentuada crise financeira e precisa resolver sérios problemas no elenco. Todos, coincidentemente, com sotaque espanhol.


Além da “bomba Cueva”, que pode chegar à Fifa, o imbróglio envolvendo Soteldo deixa o ambiente ainda mais carregado no Alvinegro. Apesar do barulho que as matérias de vários veículos de imprensa provocam entre os torcedores, é ensurdecedor o silêncio do presidente.  


Ao assumir o Alvinegro, em janeiro de 2018, o discurso de José Carlos Peres era de não repetir os erros de gestões passadas, como gastos que geraram dívidas milionárias (e impagáveis).


No  Portal da Transparência, criado por sua gestão, uma das diretrizes aponta: “Além de tudo, é preciso também priorizar a questão de transparência, mostrar ao torcedor que ações em benefício do Santos Futebol Clube são tomadas com responsabilidade e eficácia, sempre respeitando seu fluxo de caixa”.


Se o discurso e o texto de apresentação no Portal são bonitos de se ouvir e ler, na prática a realidade é muito diferente. E exemplos não faltam para mostrar que há muita coisa errada na Vila Belmiro. 


Além das costumeiras reclamações de jogadores sobre o atraso  no pagamento dos direitos de imagem (fato comum nos clubes brasileiros, é verdade), há outras situações que causam a insatisfação dos atletas. E dos torcedores.


Quando do atraso na reapresentação de Carlos Sánchez, em janeiro, veio à tona que o clube não havia honrado o pagamento da comissão a representantes do uruguaio na transação que o trouxe ao Santos. Diante do impasse, o Grêmio passou a sondar o volante, melhor jogador do time em 2019. 


O meia Bryan Ruiz, contratado à mesma época de Sánchez, após a Copa de 2018, vem dando prejuízo milionário ao clube. Além de não jogar desde novembro de 2018 (!!!!!), ele tem cobrado do Santos o acerto de atrasados para romper o vínculo.  


Em recente postagem sobre o tema nas redes sociais, o costarriquenho ganhou uma curtida do paraguaio Derlis González. Outro que desde os tempos de Jorge Sampaoli pouco tem jogado. E que após o apoio ao colega, coincidentemente, nem tem sido relacionado. Ou seja, mais um que recebe sem atuar. 


Bombas-relógio


O meia Cueva é um caso à parte. E gravíssimo. Peres  e seu Comitê de Gestão poderiam ter vetado o pedido de Sampaoli pelo meia. E era fácil dizer não, diante do histórico de confusões e indisciplinas do peruano. 


Que, agora,  transformou-se no “Leandro Damião da gestão Peres”, em negociação que pode fazer o cofre santista sangrar com milhões e milhões de reais. Assim como a compra de Leandro Damião, em 2013, ainda faz até hoje. 


Do lado santista, porém, o silêncio é gritante. O máximo que a diretoria diz sobre o assunto é que o caso Cueva está entregue ao departamento jurídico do clube. 


Como se o aborrecimento com o problemático chinelinho peruano não fosse o suficiente, eis que o  santista se depara com mais uma bronca. O venezuelano Soteldo, que caiu nas graças da torcida no ano passado, pode estar de saída para o Atlético-MG. 


As revelações escancaram que a “transparência” e o “respeito ao fluxo de caixa” do clube são meras palavras jogadas ao vento. O Huachipato, time chileno que vendeu o atacante ao Santos, acusa o Alvinegro de não ter pago os 50% dos direitos adquiridos em 2019 (US$ 3,5 milhões ou R$ 14,8 milhões). 


Além de ameaçar ir à Fifa contra o clube, os chilenos se mostram favoráveis à negociação com o Galo. Coisa que, ao que parece, Soteldo também estaria disposto.  


Para impedir o negócio, o Santos teria que comprar os 50% de Soteldo que pertencem ao Huachipato por US$ 6 milhões (R$ 25 milhões), a serem pagos em 30 dias. Impossível para um time sem dinheiro. Diante do pepino, Peres mantém-se calado.


E pensar que na apresentação do técnico Jesualdo Ferreira, no dia 8 de janeiro, o dirigente reclamou  da imprensa. No seu entendimento, teríamos que nos ater às questões esportivas, deixando a parte financeira de lado.


Como se fosse possível dissociar uma coisa da outra. Está aí o Cruzeiro, rebaixado, para provar o que as más gestões (em sequência, como tem acontecido no Santos) podem fazer com um clube de futebol. 


Enquanto a panela ferve no CT Rei Pelé, na visão de Peres, o papel da imprensa seria trabalhar em cima de uma “agenda positiva”. Como isso é possível, presidente? 


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