José Carlos em dia de Jair

Mandatário do Santos agiu como o presidente da República ao falar que a imprensa 'tem que dar notícias boas'

Por: Bruno Gutierrez  -  09/01/20  -  19:50
Jesualdo e José Carlos Peres: Fala de mandatário foi momento conturbado em meio à descontração
Jesualdo e José Carlos Peres: Fala de mandatário foi momento conturbado em meio à descontração   Foto: Ivan Storti/Santos FC

A apresentação do técnico Jesualdo Ferreira como novo comandante do Santos tinha tudo para ter um clima leve, descontraído e de paz entre o clube e a imprensa. O português demonstrou um excelente humor e a todo tempo fez brincadeiras com os jornalistas, tornando o ambiente leve.


No entanto, o presidente do Alvinegro, José Carlos Peres, ficou como a marca negativa. Logo no "primeiro dia oficial" de trabalhos no Peixe, o mandatário voltou a dar declarações infelizes.


Como relatado pelo colega Heitor Ornelas, na quarta-feira (8), ele se mostrou incomodado com as notícias e questionamentos sobre as finanças do clube e disse que "esses temas só dizem respeito aos dirigentes. Os jornalistas deveriam se restringir a noticiar as questões do futebol, como análises de jogos e entrevistas de jogadores e treinador”.


Depois, apesar de dizer que respeitava e valorizava o trabalho da imprensa, voltou a alfinetar os veículos que cobrem o Santos ao dizer que "o Santos atrasa oito dias de salário e vira notícia, enquanto existem clubes por aí que devem oito meses". Além disso, em outro momento infeliz de sua fala, falou que a imprensa deveria dar "notícias boas".


O comportamento de Peres em querer pautar a imprensa lembra um pouco o modo de agir de outro presidente, o da República, Jair Bolsonaro.


Política à parte - essa coluna não é sobre política e nem tem a intenção de ser, não é estranho mais ouvir o chefe do Executivo nacional disparar contra a mídia e reclamar que se dimensiona demais os erros e não se fala sobre as coisas positivas do Governo.


Deu a impressão que José Carlos Peres nutre do mesmo sentimento de perseguição pela imprensa existente em Jair Bolsonaro.


Não é trabalho da imprensa "dar notícias boas". O trabalho da imprensa está em relatar os fatos ocorridos, apurar informações, checar dados, ir atrás dos bastidores da notícia, relatar o meandro da informação. Não é "vomitar" aquilo que a fonte oficial diz. Existe um profissional que tem que se preocupar com a imagem do clube e divulgar só coisas positivas. O nome dele é assessor de imprensa. E o Santos possui um departamento com profissionais competentes para fazê-lo.


À imprensa cabe a fiscalização e apuração do que acontece no dia a dia do clube, não só o campo e bola. As finanças interessam, sim, presidente Peres. O Cruzeiro está vivendo uma desgraça devido aos anos de incompetência na gestão, inclusive financeira. E o torcedor, consumidor final do material divulgado pela imprensa, merece saber aquilo que ocorre e entender o caminho que fez o clube para o seu êxito ou derrota.


Do mesmo jeito que o Cruzeiro muito noticiado, negativamente, o Flamengo também foi, positivamente. O modo de gerir o clube, a melhoria na saúde financeira, tudo foi notícia. E a imprensa noticiou a caminho que levou o Rubro-Negro a chegar onde chegou.


Se a mídia noticia informações negativas sobre o Santos, é dever do senhor, presidente, e de todos que gerem o clube, trabalhar para que este quadro seja revertido. Não é mandar "dar notícia boa" e jogar os problemas para debaixo do tapete. E se vazam coisas ruins, é dever do senhor, também, identificar aqueles que são responsáveis por divulgar notícias que prejudiquem a imagem do clube. A nossa é noticiar e informar ao torcedor.


Aliás, a imprensa passou um ano todo elogiando o Santos pelo trabalho dentro de campo. Mais do que isso, ressaltou o quanto o time evoluiu e demonstrou força em campo, apesar dos problemas internos do clube. Talvez, seja o ‘apesar’ que incomode o mandatário. Talvez José Carlos Peres se sinta responsável pelo sucesso do Alvinegro em campo e que isto não foi valorizado pela imprensa.


"Sampaoli já foi, Cuca já foi", disse o presidente Peres, numa tentativa de falar para a imprensa "olhar para frente e esquecer". Eles podem ter ido, assim como foi Paulo Autuori, mas os alertas dados pelos profissionais ficaram. E é dever da imprensa não deixar que o torcedor ou que o dirigente esqueçam disso.


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