Jogadores não podem ser mesquinhos

Boleiros precisam estar cientes de que a redução de salário é necessária

Por: Heitor Ornelas  -  03/04/20  -  20:23
Atualizado em 03/04/20 - 20:28
Guilherme Arana não se mostrou disposto a ganhar menos durante a paralisação do futebol
Guilherme Arana não se mostrou disposto a ganhar menos durante a paralisação do futebol   Foto: Bruno Cantini/Agência Galo /Atlético

Tempos tristes estes que vivemos. O sofrimento e as incertezas provocados pelo coronavírus impõem desafios nunca antes enfrentados. O mundo será outro depois que tudo isso acabar, para o bem e para o mal. Até lá, só nos resta fazer a nossa parte, seguindo as orientações médicas e descartando achismos


Em meio às dificuldades, conhecemos um pouco mais do ser humano. Enquanto grandes clubes europeus, como o Barcelona, pretendem reduzir o salário dos jogadores em até 70%, para priorizar o pagamento dos funcionários mais humildes, no Brasil surgem resistências a medidas do gênero.


Lateral-esquerdo do Atlético-MG, Guilherme Arana, que deve receber não menos do que R$ 300 mil por mês, chegou a afirmar que qualquer redução não se justificaria. Isso em um momento no qual tudo está parado e o dinheiro não entra no cofre dos clubes.


Arana não ostenta a bandeira do egoísmo sozinho. No São Paulo, boa parte dos jogadores não topou a proposta de economia feita pela diretoria. Não se sabe quem está contra e quem está a favor, mas seria uma surpresa ver Daniel Alves no bloco opositor. Justo ele, que vive deixando mensagens positivas no Instagram e é dono talvez do maior salário do País, com uma conta bancária recheada de zeros, construída em muitos anos no futebol europeu.


Exemplo positivo partiu da Argentina. Carlos Tevez, que mesmo depois de consagrado joga como se estivesse correndo em busca do prato de comida, alegou que ele e os colegas de Boca Juniors poderiam ficar até um ano sem salário. Afinal, o momento é de ajudar aqueles que não sabem se vão ter o que comer no dia seguinte.


O contraste entre Brasil e exterior já chama a atenção em condições normais. Na Argentina e nos grandes centros europeus, o futebol é melhor, as regras são mais claras e quase tudo parece funcionar a contento. É claro que nada é perfeito e que por lá existem problemas que não enfrentamos por aqui, como as manifestações de racismo, cada vez mais comuns nos estádios. Mas não dá para deixar de lamentar a mesquinhez de jogadores brasileiros que ganham milhões por mês e que se recusam não apenas a serem solidários, mas também a estabelecerem um raciocínio lógico de receita/despesa.


Se a negativa à redução salarial tivesse partido de jogadores de times pequenos, seria mais do que compreensível. Eles já ganham pouco – como a maioria dos atletas no Brasil – e, como quase todo trabalhador, passam mal só de pensar que não contará com o pagamento no final do mês. Duro é ver gente milionária (e que m dia foi pobre!!!) agindo como se nada tivesse.


Que a pobreza de espírito seja exceção, e não regra nestes dias dramáticos.


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