Flamengo age mal com famílias das vítimas

Nadando em dinheiro, o clube reluta em encerrar o assunto das indenizações

Por: Heitor Ornelas  -  08/02/20  -  01:39
Incêndio no Ninho do Urubu deixou dez jogadores das categorias de base do Flamengo mortas
Incêndio no Ninho do Urubu deixou dez jogadores das categorias de base do Flamengo mortas   Foto: Fábio Motta, Estadão Conteúdo

Dentro de campo, o Flamengo vive um momento incrível. Com um timaço, tem tudo para repetir 2019, quando ganhou a Libertadores e deu show no Campeonato Brasileiro, alcançando o título com folga. Fora das quatro linhas, porém, o clube dá vexame. A forma como a diretoria trata as famílias dos garotos que morreram no incêndio no Ninho do Urubu, há um ano, é lamentável.


Não que o Flamengo tenha de dar tudo o que tem aos parentes dos dez jovens que perderam a vida na tragédia. Contudo, muito dinheiro ainda será pouco. Afinal, nada apagará o sofrimento, nem trará de volta quem já se foi. Sendo assim, é preciso fazer o que estiver alcance. E, nos dias de hoje, dinheiro é o que não falta ao clube.


Depois de anos de penúria, o Flamengo finalmente desenvolveu todo o seu potencial mercadológico graças à histórica gestão do presidente Eduardo Bandeira de Melo. Embora não tenha conquistado nada de relevante, com exceção de uma Copa do Brasil, ele arrumou as finanças de um jeito que permitiu a seu sucessor montar um esquadrão que custa R$ 25 milhões por mês. Como resultado, o Maracanã vive lotado e o clube fatura ainda mais com premiações e direitos de transmissão. E é exatamente aí que fica difícil de entender a condução do caso por parte da diretoria.


Não bastasse o litígio em relação às indenizações, os desdobramentos recentes foram indigestos. Habituada a fugir do assunto, a diretoria inventou uma entrevista promovida pela própria assessoria de imprensa, com um único repórter, contratado, evidentemente, para fazer perguntas combinadas. Já que o objetivo era evitar jornalistas independentes, era melhor ter ficado em silêncio.


Depois veio a ausência do presidente na CPI da Assembleia Legislativa do Rio, nesta sexta-feira (7). Vexame. Agora, o noticiário aponta para uma possível condução coercitiva do dirigente em um futuro depoimento.


É bom que se diga que qualquer clube no lugar do Flamengo lutaria por aquilo que entende ser justo. É legítimo. Entretanto, ignorar o sofrimento de pais e mães que perderam seus filhos de maneira tão sofrida é inaceitável. Ainda mais em um momento no qual as condições são as mais favoráveis possível para se tomar a atitude correta. A continuar desse jeito, cada contratação milionária, cada venda por cifras astronômicas e cada arrecadação recorde nas bilheterias será um novo golpe em pessoas condenadas a chorar o resto da vida.


Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha editorial e ideológica do Grupo Tribuna. As empresas que formam o Grupo Tribuna não se responsabilizam e nem podem ser responsabilizadas pelos artigos publicados neste espaço.
Ver mais deste colunista
Logo A Tribuna
Newsletter