Em tempo de caça às bruxas, Santos não pode perder o rumo

Cobranças da torcida pela má fase do time são legítimas, mas é preciso ter bom senso

Por: Régis Querino  -  25/09/19  -  02:05
Atualizado em 25/09/19 - 02:41

A má fase do Santos no Brasileirão deu início a uma caça às bruxas na Vila Belmiro. Tem gente pedindo a cabeça de Jorge Sampaoli, outros culpam o presidente José Carlos Peres, alguns cobraram enfaticamente os jogadores após a derrota para o Grêmio...


Em tempos de crise, o destempero é natural. Afinal de contas, como explicar que um time que emendou sete vitórias consecutivas e chegou à liderança, tenha, nos últimos sete jogos, conquistado míseros cinco pontos?


Está aí o X da questão. Liderar o campeonato por quatro rodadas criou na torcida santista uma grande expectativa em relação à conquista do título. Diante da série negativa, a frustração desencadeou um sentimento de que tudo está errado no clube.


E em tempos de redes sociais, nervos à flor da pele e embates acalorados, alguns extrapolam nos argumentos para defender as suas teses e criticar a gestão, o comando técnico e o elenco.


Não que todos não mereçam ser cobrados. Merecem. Mas é preciso cautela e bom senso para não prejudicar um trabalho que está apenas no início. Se o atual presidente já cumpriu mais da metade de seu mandato, Sampaoli comanda a equipe há apenas nove meses.


O curto período não o isenta de culpa no mau momento do time. Foi Sampaoli quem pediu jogadores caros que pouco jogam ou nem ficam no banco, como o atacante Uribe e o meia Cueva. As constantes mudanças na equipe promovidas pelo técnico também já deram o que falar. Mas seria coerente demití-lo, como pedem alguns?


Está mais do que provado que trabalhos vencedores no futebol acontecem a médio e longo prazo. Pelos parâmetros dos clubes brasileiros, que trocam de técnico a cada seis meses ou um ano, três anos soa como uma eternidade.


Mano Menezes ficou três temporadas no Cruzeiro e foi bicampeão da Copa do Brasil (o campeonato que paga a maior premiação no País) e bicampeão mineiro. Renato Gaúcho acabou de completar três anos no Grêmio e neste período ganhou uma Copa do Brasil, uma Libertadores, uma Recopa Sul-Americana e o bicampeonato gaúcho.


É sempre bom lembrar


É compreensível que muitos critiquem Sampaoli pela eliminação precoce na Sul-Americana ou pela irregularidade do time no Brasileirão. Mas, mesmo com altos e baixos, o argentino fez do Santos um time que está competindo na parte de cima da tabela do mais importante campeonato do País.


Os mesmos torcedores que se indignam agora talvez tenham se esquecido que há pouco mais de um ano, em agosto de 2018, o Santos ocupava a zona de rebaixamento do Brasileirão. Com um ataque muitas vezes formado por Rodrygo, Gabriel e Bruno Henrique.


Gabriel e Bruno Henrique, aliás, que são temas constantes de discussão em grupos santistas. Muitos torcedores acusam o presidente de não ter se empenhado em mantê-los na equipe, reforçando o rival Flamengo.


Opiniões à parte, a realidade fala mais alto. O Santos não teria condições de bancar os cerca de R$ 1,2 milhão mensais a Gabigol. Fora o  valor que teria que pagar à Inter de Milão pelo empréstimo do atacante.


Quanto a Bruno Henrique, desde o final de 2018 ele já havia dado sinais de que não queria permanecer na Vila. Há que se lembrar também que o atacante fez uma temporada ruim, após as lesões que sofreu no olho. E ninguém poderia cravar que ele voltaria, em 2019, a jogar bem como o fez em 2017.


Impossível, porém, isentar José Carlos Peres de seus  erros à frente do clube. Se por um lado ele teve que atender aos pedidos de Sampaoli na contratação de reforços, poderia ter vetado, junto com o seu Comitê de Gestão, a vinda de Cueva. Não apenas pelo histórico do meia, mas principalmente pelo alto custo que o Santos ainda vai ter que bancar (mais de R$ 26 milhões) pelo jogador.


Gastar o que o clube não tem vai comprometer (e muito) o planejamento para a temporada 2020. Até por isso, o próprio cartola já sinalizou que o Alvinegro não fará grandes investimentos para o próximo ano.


Aos jogadores, cabe a reflexão feita pelo lateral e capitão Victor Ferraz, após a derrota para o Grêmio: o time tem que mudar a postura. Pois se é evidente que a equipe tem limitações, também é claro que pode render muito mais do que  apresentou nas últimas sete rodadas.


O caminho para a retomada passa por repetir atuações como as do primeiro tempo contra Fortaleza, Flamengo e Grêmio. E por vitórias nas duas próximas rodadas, contra Fluminense e CSA. Para trazer de volta a confiança e recolocar o torcedor ao lado do time.


À torcida é bom lembrar que há concorrentes mais fortes que o Santos na luta pelo título. E que uma vaga na Libertadores 2020 vale muito. Às vezes, protestar e cobrar é preciso. Mas é fundamental deixar o imediatismo de lado para se construir um trabalho de sucesso no futuro.


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