Em menos de uma semana, dois choques de realidade ao futebol brasileiro

Norte-americanos e mexicanos escancaram uma nova realidade que precisamos aceitar e trabalhar para mudar

Por: Bruno Rios  -  12/02/21  -  12:04
  Foto: Divulgação

Em menos de uma semana, o futebol da América do Norte proporcionou dois choque de realidade ao futebol brasileiro. Eles podem servir para abrir os olhos dos dirigentes ou fazê-los afundar de vez na soberba do velho discurso de sermos o futebol pentacampeão do mundo, algo que apenas serve para aumentar a decepção a cada revés dentro ou fora das quatro linhas.


O primeiro impacto foi a venda do jovem atacante Brenner ao FC Cincinnati, dos Estados Unidos, que fez a diretoria do São Paulo receber críticas. Algumas têm lógica, como o fato de abrir mão de um talento que poderia trazer alegrias à torcida tricolor, carente de títulos desde 2012. Mas uma me incomodou: não foram poucos os que trataram a Major League Soccer (MLS) como um lixo futebolístico.


Em outras colunas, expliquei a mudança no movimento dos dirigentes norte-americanos nos últimos anos. Eles desistiram de apostar em craques em fim de carreira, passando a centrar esforços em talentos da América Latina com potencial de revenda a clubes europeus. Foi esse projeto que atraiu Brenner e, após o pagamento de R$ 81 milhões, fez o São Paulo abrir mão dele.


Não foram poucos os que se espantaram, ignorando que o melhor jogador da América do Sul em 2018, o argentino Martínez, deixou o River Plate que acabara de ser campeão da Libertadores para reforçar o Atlanta United. Tampouco foi levado em conta que o meia paraguaio Almirón chegou ao Newcastle, da Inglaterra, após brilhar no mesmo Atlanta. E o que falar do lateral canadense Davies, hoje destaque no Bayern de Munique e revelado pelo Vancouver Whitecaps, da mesma MLS?


É claro que as partidas realizadas nos Estados Unidos não são do mesmo nível praticado na Europa, mas superam muita coisa que somos obrigados a encarar toda semana no Brasil, onde os jogos ruins se tornaram comuns. Por isso, comparar a MLS a um futebol semiamador soa, no mínimo, como desconhecimento. E a tendência é que eles melhorem cada vez mais, com mais dinheiro de patrocinadores e uma Copa do Mundo a ser disputada na América do Norte em 2026.


Essa postura ajuda a entender, entre outras coisas, por que tanta gente ficou boquiaberta ao ver o Palmeiras cair no Mundial de Clubes contra o Tigres, do México, no segundo choque de realidade. No caderno especial de A Tribuna sobre o bicampeonato do Verdão na Libertadores, o jornalista Paulo Vinícius Coelho já cantava a bola: projetar um duelo com o Bayern era algo ousado ao campeão da América, pois o Tigres merecia ser levado a sério e era perigoso.


Dito e feito. Houve quem se espantasse, mas hoje o futebol mexicano possui mais recursos financeiros e qualidade técnica que o nosso. Os atletas talentosos de lá até vão para a MLS ou Europa, mas não no volume daqui. Assim, as equipes conseguem manter uma base por mais tempo. E se o trabalho é sério, os frutos vêm. O Tigres conta com o mesmo treinador há quase 11 anos. Não à toa, conquistou cinco títulos nacionais, foi vice-campeão mundial e escancarou aos brasileiros que viver de passado não enche a barriga de ninguém.


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