A conquista da Copa Sul-Americana pelos argentinos do Defensa y Justicia, após a goleada de 3 a 0 sobre o Lanús, no último sábado (23), coroa a jornada de um time que se contentava, por décadas, em ser a referência de uma comunidade, mas nos últimos anos ousou alçar voos mais altos. O clube verde e amarelo faz por merecer ser tratado com respeito no continente, em especial pelos brasileiros, que vêm sofrendo com a equipe da cidade de Florencio Varela, na Grande Buenos Aires.
A história do time é tão peculiar que merece explicação. Uma das principais versões para o nome diferenciado da agremiação é que diversos advogados teriam participado de sua criação, em 1935, o que fez as palavras defesa e justiça ganharem protagonismo. As cores amarelo e verde só entraram em cena no comecinho dos anos 1980, em homenagem a uma empresa de ônibus que era parceira do clube. Pouco antes, no fim da década de 1970, o clube pediu o registro na Associação de Futebol Argentina e virou profissional.
Entre alegrias e frustrações, o Defensa y Justicia chegou à elite argentina em 2014 e de lá nunca mais saiu. Na Copa Sul-Americana de 2017, fez sua estreia em torneios fora do solo doméstico aprontando logo de cara, ao eliminar o São Paulo no Morumbi, um feito que nem os torcedores mais otimistas esperavam. Voltaria a ser o terror dos brasileiros em 2020, superando Vasco da Gama e Bahia na rota que levou à conquista da semana passada. Ainda deu trabalho ao Santos na Copa Libertadores da América, vendendo caro duas derrotas por 2 a 1.
A linha de trabalho do Defensa impressiona por render frutos e ser bastante ousada, até mesmo para um clube pequeno. Desde a metade da década passada, a direção aposta em nomes promissores e sem experiência para o comando técnico. Todos foram importantes para a implantação de um futebol 100% voltado ao ataque.
Passaram por lá Jorge Almirón (vice da Libertadores com o Lanús), Diego Cocca (campeão argentino pelo Racing), Ariel Holán (campeão da Sul-Americana com o Independiente), Sebastián Beccacece (auxiliar da Argentina na Copa do Mundo de 2018), Pablo Vojvoda (técnico do Talleres que bateu o São Paulo na pré-Libertadores de 2019) e o atual comandante, o ex-atacante Hernán Crespo, que só havia dirigido o Banfield até dar início ao trabalho coroado com o título continental semana passada.
Entre os jogadores que compõem o elenco, não há muito segredo. São atletas jovens atrás da fama acompanhados de veteranos. Um exemplo: o artilheiro da Sul-Americana, Romero, deixou péssima impressão na passagem pelo Athletico-PR, mas virou um digno camisa 9 após ser lapidado por Crespo. Foram 10 gols em nove jogos no torneio.
Depois da festa, será a hora de colher frutos. O Defensa y Justicia entrará direto na fase de grupos da próxima Libertadores, disputará a Copa Levain (antiga Copa Suruga) contra o FC Tokyo e encarará Santos ou Palmeiras na final da Recopa Sul-Americana. Tudo isso com 14 milhões de dólares a mais nos cofres, somente em premiações. Para um time até 40 anos atrás conhecido somente na vizinhança, trata-se de um verdadeiro conto de fadas.