Clubes deveriam boicotar a seleção olímpica

Por que liberar jogadores sem que isso seja obrigatório?

Por: Heitor Ornelas  -  18/01/20  -  19:08
  Foto: Ivan Storti/Santos FC

O que Santos, São Paulo e Corinthians têm em comum neste início de temporada? Todos perderam jogadores importantes para as seleções olímpicas que, na Colômbia, disputam vaga nos Jogos de Tóquio. E além do prejuízo pelas ausências de Soteldo, Antony e Pedrinho, os três compartilham a falta de coragem. Afinal, eles não são obrigados a liberar ninguém.


Pelo fato de os Jogos Olímpicos não serem organizados pela Fifa, ela não reconhece a competição – e seus classificatórios – como oficial. Sendo assim, quem quiser segurar o jogador está liberado. Os clubes europeus, que não estão nem aí para CBF e afins, fizeram sua parte. O Arsenal, por exemplo, vetou a ida de Gabriel Martinelli, revelação que começa a ganhar espaço no cenário europeu. O Real Madrid nem tomou conhecimento dos pedidos por Rodrygo e Vinicius Jr.


Um dos argumentos que poderiam explicar a postura passiva dos clubes é o fato de que os jogadores fazem questão de ir; outro é que o torneio é visto por muita gente e valoriza quem vai bem. Porém, nada disso convence. Se o jogador tem vontade de ir, paciência. Ele é empregado do clube e deve cumprir ordem. Além disso, ainda que neste começo de temporada os falidos estaduais sejam o prato do dia, eles têm mais relevância do que uma disputa composta apenas de iniciantes.


Mas o prejuízo para quem cede o jogador pode não se resumir à mera ausência dele nas partidas. Zagueiro cedido à seleção brasileira pelo São Paulo, Walce rompeu os ligamentos do joelho em um treino e agora só deve voltar a jogar no final do ano. Nesse período, a CBF lava as mãos e devolve o atleta lesionado como se nada tivesse acontecido, à espera da recuperação dele para novas convocações.


Não que seja fácil peitar as confederações. Porém, quem faz o futebol são os clubes. Unidos, eles têm, sim, totais condições de bater o pé e dar um basta no problema. Se em relação às seleções principais não há o que fazer, nos torneios olímpicos a solução está dada. Especialmente no caso do Brasil. Se antes a medalha de ouro olímpica era o único título que faltava, depois de 2016 esse tabu caiu, e todos viram de que forma: contra um time sub-20 da Alemanha.


A comunidade olímpica sempre questionou a participação do futebol nos Jogos, por considerá-lo parte de um universo paralelo, com pouca relação com a essência do evento. Não vejo dessa forma. Contudo, as convocações precisam respeitar o calendário e a soberania dos clubes.


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